Sou nascido em Curitiba em 11 de novembro de 1957, quinto filho homem da família de um imigrante que veio da Síria, Naim Akel e aqui em Curitiba conheceu minha mãe, Maria de Lourdes Sabbag Akel, com quem formou um casal muito feliz, junto com meus queridos irmãos Ardisson, Omar, Ricardo e Naim Filho, com quem sempre convivi intensamente e que também foram exemplos de vida para mim, aprendemos muito de nossos pais. Eles nos ensinaram o prazer da vida em família, a importância do trabalho, da união, da alegria e de sempre celebrar a vida.
Para mim a maior felicidade era andar de bicicleta, brincar com meus irmãos e primos, jogar bola com meus amigos do Colégio Medianeira aonde fiz minha formação desde o pré-primário até o científico, seguindo a doutrina jesuíta. Lá fiz grandes amizades que perduram até hoje e onde pude aprender o valor da religião em nossa vida, de pensar e viver em comunidade, de olhar para o próximo.
Também pude exercitar aspectos de liderança, pois desde o começo da minha vida estudantil eu já era representante de turma, capitão do time de futebol, monitor do ônibus, e fui presidente do Grêmio Estudantil Pe. Osvaldo Gomes. Acho que fui sendo preparado para o que a vida me reservava. No período do vestibular descobri o curso de Administração, que era um curso ainda novo no Brasil, mas me encantou pois tinha tudo a ver com o que via desde pequeno trabalhando junto com meus irmãos e nossos pais nas suas lojas.
Primeiro foi a Panificadora Curitibana estabelecida desde 1950 na Rua XV de novembro, espaço comercial muito importante naquela época, que mais tarde se transformou no calçadão da Rua das Flores.
Meus pais sempre trabalharam muito e tiveram altos e baixos conforme os ciclos da economia brasileira, deixando ao longo de cinco décadas uma bela contribuição para o comércio local. Quando foi fechado o tráfego de automóveis na Rua XV, criaram a KIKO Moda Infantil no mesmo local aonde funcionava a panificadora. Este era meu apelido de infância e acabou batizando a loja. Comecei a trabalhar no balcão, no pacote, no estoque, como office boy, fazendo de tudo um pouco, como em toda empresa familiar.
Aprendi a valorizar o trabalho em equipe, a ter horário, disciplina, responsabilidade. Já aos 18 anos tive a carteira assinada e comecei a trabalhar recebendo um salário e com responsabilidades cada vez maiores dentro da empresa, o que me motivou a fazer o curso de administração na UFPR, iniciando em 1976. Fui gostando cada vez mais da tarefa de administrar e me apaixonei também pela UFPR, pois percebi que era uma universidade de alta qualidade, com professores maravilhosos que me ensinaram muito e foram importantes na minha formação como gestor e como ser humano. Destaco os professores Nivaldo Maranhão Faria, Ocyron Cunha, Ario Dergint, Claudio Tolentino, Romeu Telma, Napoleão Araújo dentre outros que também tocaram minha vida e me ensinaram a ser gente.
Naqueles 4 anos fui representante de turma, representante dos alunos junto ao Departamento de Administração, vice-presidente do Centro Acadêmico. Também comecei a participar de atividades na área de política, inclusive quando dos movimentos de redemocratização do Brasil.
Terminado o curso de graduação e já tendo trabalhado por alguns anos na empresa da família, decidi fazer o mestrado na UFRJ, morando por dois anos no Rio de Janeiro, me concentrando na área de marketing, que sempre foi uma das minhas paixões e área de atuação profissional e acadêmica. Logo a seguir, comecei a trabalhar na UFPR em janeiro de 1984 após ter sido aprovado em concurso. De início conciliei o trabalho na UFPR com a atuação na KIKO, mas acabei fisgado pela vida acadêmica pelo fato de poder transformar a vida das pessoas. Percebi que a Educação era uma missão que me sensibilizava, considerando o grande número de pessoas que eu poderia preparar para atuarem no mercado de trabalho melhorando suas vidas, sendo que mesmo os que tinham uma origem mais humilde poderiam conquistar sua emancipação.
Outra grande influência para que me direcionasse para a vida acadêmica foram meus sogros Hermes Moreira Filho e Ita Moema Valente Moreira, cuja dedicação ao ensino e a pesquisa na UFPR eram exemplares.
Ao longo de mais de 33 anos de serviço público na UFPR, pude me desenvolver bastante e no convívio cotidiano com algumas pessoas muito especiais aprendi a valorizar a organização e o planejamento das atividades, o papel de um líder em uma organização, o carinho e o respeito no trato com os estudantes e com meus colegas docentes e técnico-administrativos, o caráter permanente do nosso compromisso institucional, a essencialidade da ética na gestão pública.
Ocupei diversos cargos, desde a coordenação do curso de Administração, a direção do Setor de Ciências Sociais Aplicadas, a Pró-reitoria de Planejamento, Orçamento e Finanças e com muita honra fui eleito duas vezes consecutivas para exercer o cargo de reitor. Durante este período , fiz o doutorado em Administração na USP , tive muitas experiências inovadoras na gestão universitária, conheci diversas outras instituições de ensino em todo o mundo, participei ativamente da associação de reitores das Universidades federais, presidi os Conselhos da Funpar e do Lactec, além de presidir o Grupo de Tordesilhas, congregando uma rede de Universidades do Brasil, de Portugal e da Espanha. Neste período, pude testemunhar diversas mudanças na condução da Educação Superior em nosso país.
Como reitor, trabalhei com valorosas equipes que me auxiliaram a concretizar uma grande expansão da nossa Universidade, tanto em número de cursos como de alunos, instalando novos campi tanto em Curitiba como em Toledo, Jandaia do Sul, Palotina, Pontal do Paraná. Fizemos também um grande esforço de internacionalização e de melhoria da qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão.
Vivi intensas emoções, tanto para o bem como para o mal. Carrego memórias fantásticas como entregar o diploma de bacharel para minha filha Gisah(que seguiu carreira no marketing), assinar o diploma de mestrado da minha filha Samia(que seguiu carreira no magistério de ensino superior), realizar centenas de formaturas quando prestávamos conta a sociedade do seu investimento em Educação, inaugurar diversos espaços acadêmicos, receber os aprovados em nossos vestibulares com o tradicional banho de lama, além de celebrar inúmeras parcerias com órgãos de governo, outras universidades e empresas e entidades do setor produtivo para cooperação técnica.
Outro momento inesquecível foi a noite do dia 19 de dezembro de 2012, na qual celebramos o Centenário da UFPR, comemorando uma trajetória fantástica de realizações para os paranaenses e quando tomei posse para o segundo mandato. Naquela noite inauguramos a iluminação do nosso prédio histórico da Praça Santos Andrade que havia sido restaurado e que em seu esplendor representa para mim o mais belo cartão postal de Curitiba. Por outro lado, também vivi a tensão das greves e protestos, das dificuldades de condução da Universidade, da instabilidade econômica e política que nos oprimiam, da falta de recursos para manutenção e investimento, das crises do HC. Mas a tudo superamos com o trabalho coletivo de uma grande e qualificada equipe que tivemos a honra de liderar, sempre mobilizando todas as forças da sociedade, dialogando com os Ministérios, com a bancada federal, com o Governo do Paraná e com as prefeituras e entidades de classe.
Tenho muito orgulho do trabalho que fizemos em prol da UFPR e da Educação superior em nosso Estado, pois acredito que a Educação é a melhor ferramenta de transformação social que qualquer povo possui. E desta forma, cabe a Universidade estar engajada na solução de todos os problemas que afligem nosso Estado, sendo esta a grande motivação para sua criação em 1912, afirmando a emancipação intelectual do povo paranaense.
Na minha vida pessoal também enfrentei o falecimento do meu pai em 2000 e de minha mãe em 2011, sendo que ambos marcaram profundamente minha vida com exemplos de tenacidade, de lutas, de paixão pelo trabalho, de alegria pela vida, de solidariedade e de ética.
Creio que talvez o meu maior desafio tenha sido de exercer dois mandatos como reitor da UFPR e conciliar tudo isto com a vida familiar, que acabou sendo muito sacrificada. É fundamental termos um porto seguro, uma família que nos dê estrutura, compreenda nossos dramas e dores, entenda quando precisamos de um afago ou de um conselho, de orientação. E eu tenho muita sorte de ter uma esposa como a Deise que sempre foi uma grande parceira ao longo dos nossos 44 anos de amor e convívio junto com nossas filhas Samia e Gisah e nossos novos filhos Sergio e Rodrigo. Nós nos conhecemos muito jovens, nos tempos do Colégio Medianeira, eu com quase 17 e ela com 14 anos, e desde então nos apaixonamos e constituímos uma família muito bem estruturada, que em todos os momentos me deu respaldo e apoio para todos os voos e sonhos que busquei. E espero que continue sempre assim porque creio que a família é a base de tudo.
Sou um homem muito religioso, sou um homem de fé, acredito em Deus e que Ele está nos orientandos, protegendo e iluminando. Durante toda minha vida, procurei fazer com que meus atos sejam revestidos desta questão do que é certo, do que é bom para todos, de ser uma pessoa que não pensa só em si e no seu bem-estar. E o que me fascinou nesta minha missão como reitor foi saber que eu poderia transformar a vida de milhares de pessoas.
Por exemplo, quando eu via um paciente do Hospital de Clínicas que depois de atendido saía com a saúde restabelecida, voltando a viver plenamente, me sentia totalmente recompensado por todos os sacrifícios, por mais difíceis que tenham sido os momentos que enfrentamos. O balanço que nós fizemos como gestão e como seres humanos dentro da Universidade, considerando o que nós deixamos como legado, é altamente compensador. Creio que meu papel central foi de unir e motivar as pessoas da nossa equipe, contagiá-las com o sonho de transformarmos o Paraná, de deixarmos para as futuras gerações um Estado desenvolvido, com saúde, segurança, educação, respeito e amor para as pessoas, num ambiente fraterno no qual possamos viver em paz, com tranquilidade e harmonia.
Tive a oportunidade de entregar o título de Doutor Honoris Causa da UFPR ao Prêmio Nobel da Paz, Muhammad Yunus e naquela ocasião percebi nas mensagens dele de que através da valorização da mulher na sociedade, de dar dignidade para as pessoas por meio do acesso ao trabalho, encontraremos um caminho para dar uma vida melhor para todos nós. E este também é o papel fundamental da Educação. Pelo resto da minha vida serei um missionário pregando que por meio da Educação nós vamos transformar o mundo. Este é o meu credo.