Sou nascido em Batatais, no estado de São Paulo, em 12 de agosto de 1945, filho de Jeronymo Theodoro Guimarães e de Benedita Marques, ambos já falecidos há mais de dez anos. Sou o caçula de oito filhos. Tive cinco irmãs: a Carmem e a Ulda, já falecidas, e a Cléa, a Adazila e a Theodora, e dois irmãos, o Benone, já falecido, e o Renan. Eu não convivi com meus avós, quando eu nasci eles já haviam falecido. Uma das minhas avós tinha um nome bem bonito “Virginia Carolina da Natividade” e a outra, a “vó Mariquinha”, era bem famosa na família por ser descendente de índios tapuias, da região da fronteira do estado de São Paulo com Minas Gerais. Os tapuias tinham uma fama de serem muito valentes e ela era uma mulher muito valente, enfrentava qualquer parada.
Eu deixei o estado de São Paulo aos três anos de idade porque meu pai sempre foi ligado à política, tinha lá seus ideais, e por isso ele foi um tanto perseguido e não se sentindo seguro em Batatais, mudou-se com a família para a cidade Bela Vista do Paraíso, no Norte Paraná. Eu me lembro vagamente da viagem de caminhão, a nossa mudança veio na carroceria de um caminhão. Nunca vou me esquecer que perto de Marilia tinha um engradado de galinhas, que trazíamos junto, naquele tempo era comum, e as galinhas escaparam todas. O caminhão parou e corremos no meio do mato para tentar recapturá-las, eu me lembro que pelo menos duas eu peguei. Coisa de criança.
Perto de Bela Vista do Paraíso moramos em uma pequena fazenda chamada “Quiçacinha”. Nossa casa era muito simples, construída de pau a pique. Havia um fogão à lenha feito com tijolos, as camas eram muito improvisadas, de material do próprio local, e os colchões eram de palha, minha mãe fez alguns deles.
Tive uma infância muito rica porque, se de um lado eu tinha natureza, com um riozinho que passava perto, eu me lembro até de uma jaguatirica que passou às seis horas da manhã na frente da nossa casa e todo mundo acordou para ver, por outro lado, naquele tempo não havia televisão e nós ficávamos ouvindo as conversas dos adultos, que eram sempre sobre as questões políticas daquela época, meu pai gostava muito disso e também gostava de filosofia, e eu ficava lá ao redor da roda ouvindo aquilo, era o meu rádio e a minha televisão.
Foi uma fase bonita de minha vida, eu me recordo ainda de dois bois que havia na fazenda, o “Chibanto” e o “Fortuno”. Lembro-me de queimadas em que eu e meu irmão Renan íamos nos esquentar, o frio era intenso e nós pegávamos um toco fumegante e ficávamos lá nos aquecendo. Mais tarde mudamos para a cidade de Bela Vista do Paraíso, onde eu fiz o Grupo Escolar, que é equivalente as quatro primeiras séries do ensino fundamental de hoje. Posteriormente, meus pais se transferiram para Mandaguari e depois para Apucarana.
Em Mandaguari eu tinha lá alguns amigos, eu me recordo de uma escola que frequentei, escola pública sempre, e em Apucarana eu terminei o ginásio, que atualmente equivale as quatro últimas séries do ensino fundamental. Lá, estudei no Colégio Estadual Nilo Cairo, tenho boas recordações. O meu professor de inglês, Karel Kober, veio da Inglaterra e nós falávamos inglês de verdade naquela época, tanto que o inglês que eu sei até hoje eu aprendi com este professor, há mais de quarenta anos. Os meus irmãos também estudavam lá e falavam inglês e é claro que eu tinha que aprender também para não ficar para traz e saber o que eles estavam tentando falar em segredo. Eu aprendi ainda o francês e o latim. Eu sabia de todas as declinações e lia textos em latim, o meu professor era um padre, que chamávamos de Noné.
Aos 16 anos, deixei a minha família em Apucarana e me mudei sozinho para Curitiba. Morei na Praça Santos Andrade, num casarão antigo, que era a pensão da dona Marta. Para sobreviver, eu dava aula particular de matemática, português, história e geografia para admissão ao ginásio, um pequeno exame de seleção realizado ao término do Grupo Escolar, pois não havia vagas para todos ingressarem na primeira série do ginásio.
Nesse período, eu cursei o científico no Colégio Estadual do Paraná e depois ingressei na Universidade Federal do Paraná no curso de Ciências Econômicas. Posteriormente, iniciei o curso de Engenharia Civil. Mas eu me apaixonei mesmo foi pelo curso de Ciências Econômicas, tanto que me graduei e sou economista. Desisti do curso de Engenharia porque me casei e não foi possível conciliar, mas enquanto eu estudava Engenharia, comecei a dar aula em curso preparatório para o vestibular, primeiro como professor assistente de matemática e de física.
O professor assistente ficava numa sala para atender os alunos que tinham dúvidas sobre os testes de vestibular que eles não conseguiam resolver. Então, eu tinha obrigação de saber resolver todas as provas de vestibular, as mais difíceis e complicadas, e eu nunca passei vergonha porque eu estudava bem antes de tal forma que quando chegassem lá eu soubesse como solucionar as dúvidas.
Um dia, isso na década de sessenta, o dono do cursinho Dom Bosco, Juarez Antunes, ficou doente e eu o substitui como professor. Quando ele voltou, os alunos fizeram uma campanha para que eu ficasse. Ele deu graças a Deus porque ficou livre das aulas e continuou dono do mesmo jeito. Eu dei aula lá algum tempo, depois fui professor no Curso Bardal, onde encontrei alguns colegas e, juntos, fundamos o Curso Positivo.
Éramos em oito sócios, mais tarde alguns saíram e ficamos em cinco, e este curso cresceu muito. Por um ano ele foi cursinho preparatório para vestibular. Eu dava aulas e escrevia alguns livros. O Samuel Lago lecionava biologia e escrevia os livros de biologia. O Renato Ribas Vaz era professor de química orgânica e escrevia os livros. O Cixares dava aula de ótica e escrevia os livros de física e de ótica. O Fernando Carneiro lecionava mecânica e assim por diante.
Cada um que lecionava uma disciplina, escrevia os respectivos livros e nós dividíamos aquilo, aula por aula, do primeiro ao último dia do ano. Isso acabou gerando um método de ensino que resolvemos aplicar no ensino médio regular porque entendemos que, se em um ano conseguíamos revisar toda a matéria dos três anos e preparar os alunos para o vestibular, o que poderíamos fazer em três anos? Muito mais. É claro que tivemos que escrever novamente porque a dose era diferente, o tempo era outro, era preciso dar mais tempo ao aluno. Enfim, era outro livro mais a metodologia era a mesma, dividir e planejar bem.
Depois, fundamos o Colégio Positivo, que cresceu muito e se transformou em escola regular, na época, de primeiro e segundo graus, e posteriormente se transformou em ensino superior. Começamos com algumas faculdades e meu último projeto na área de Educação foi a Universidade Positivo, um projeto maravilhoso no qual trabalhei por dez anos. Construímos um campus maravilhoso, que possui talvez o maior teatro do Brasil e uma biblioteca lindíssima.
Como reitor, recebi personalidades importantes, entre elas o Luc Ferry e outros filósofos franceses que adoraram e quiserem inclusive receber o título de professor honoris causa. Posso dizer que foi um sonho fazer esta universidade, que tem hoje mais de dez mil alunos presenciais e com ensino a distância chega a mais 40 mil alunos.
A história desta universidade foi algo incrível que eu nunca vou me esquecer. Foi a primeira vez, em dez anos, que alguém conseguiu autorizar uma universidade privada e num governo do PT. Na época, a universidade tinha passado por todos os testes possíveis, do Conselho Nacional da Educação e do MEC, com muitos exames e visitas de comissões, e quando estava tudo certo, com pareceres favoráveis de todas comissões, faltava só a portaria do ministro da Educação, que era o Fernando Haddad, autorizando a universidade. Eu já o conhecia do período de criação do Prouni, quando ele me pediu ajuda e, por isso, era muito grato a mim.
Quando cheguei ao gabinete do Haddad, ele logo disse: “eu já sei o que você veio fazer aqui, mas eu quero dizer que eu não vou ficar conhecido como o ministro da Educação que autorizou cinco universidades privadas neste país”. Como se autorizar universidade privada fosse um grande pecado. Havia quatro projetos iguais ao meu que estavam lá: um a pedido do Sarney, outro dos “padres” do Rio Grande do Sul, um da Nove de Julho de São Paulo, mais um de Santa Catarina e o nosso. Então, eu disse que ele não ficaria conhecido como o ministro que autorizou cinco universidades privadas, pois já era conhecido como ministro que havia criado mais vagas no ensino superior brasileiro, 300 mil, por meio do programa Prouni, que só existe porque existem faculdades e universidades privadas. E que se ele passasse o atestado de não autorizar nenhuma universidade privada, ficaria claro para história do Brasil a criação de 300 mil vagas de um ensino no qual ele não acreditava, ficaria claro que ele havia dado aos jovens brasileiros escolas de segunda categoria por que só acreditava nas federais e nas públicas. Então, ele me disse: “Nossa! Que argumento! Tem razão! Amanhã vou autorizar a sua e a Nove de julho”. E no outro dia saiu no Diário Oficial a autorização dessas duas universidades.
Quando nós partimos para o ensino superior, já tínhamos uma faculdade de informática e o Hélio Rotenberg era o diretor. Naquele tempo não era permitido importar computadores. Como nós precisávamos desesperadamente de computadores, montamos meia dúzia, compramos peças e ficou tão bom que resolvemos fazer mais alguns para uso na própria universidade. Então, registramos esses projetos de computadores e começamos a fabricar. Foi assim que surgiu a Positivo Informática, que se transformou na maior indústria de computadores do Brasil. Da mesma forma, a Editora Posigraf surgiu com a impressão daqueles livros que nós escrevíamos no começo e, posteriormente, transformou-se na maior gráfica brasileira de impressão de livros didáticos.
Sobre a minha vida particular, quando eu era ainda professor de cursinho, eu tinha uma namorada de Apucarana, a Rosemary Raduy, que era uma moça lindíssima, tinha sido miss Paraná. Ela se mudou para Curitiba e a eu a encontrei numa passeata contra o governo militar, começamos a namorar e acabamos nos casando. Ficamos juntos por 12 anos e tivemos três filhos: o Giem, a Sofia e o Lucas, todos hoje têm mais de 40 anos de idade.
A Sofia mora em Viena, é casada com um austríaco há 18 anos e me deu dois netos, a Louisa e o Victor, que falam alemão e português. O Giem e o Lucas moram em Curitiba. O Lucas trabalha no Grupo Positivo e tem três filhos, o Arthur, o Bernardo e a Isabella. O Giem participa do Conselho da Positivo Informática e tem os afazeres particulares dele. Ele é pai do meu neto mais velho, o Matteus, que tem 19 anos e mora na Escócia, onde estuda economia. Após se formar, ele tem vontade de voltar para o Brasil.
Após o divórcio, eu tive algumas namoradas. Atualmente, eu tenho uma namorada que está comigo há um bom tempo, mas sempre cada um na sua casa. E tem dado certo assim. Penso que cada um deve levar a vida da forma que o faça mais feliz. Eu respeito muito as pessoas que casam e ficam anos juntos e até admiro essas pessoas, mas isso não aconteceu para mim. Então, eu sou feliz como a vida me permitiu ser. Eu consigo ficar muito bem comigo mesmo, gosto de ler e escrever.
Em 2012, após 40 anos como presidente do Grupo Positivo, eu transferi minha participação acionária para os meus três filhos e me desliguei do Grupo. Montei um escritório, onde administro alguns negócios próprios, alguns imóveis, e abri uma pequena factoring com uma sócia, mas era muito pouco para mim, eu estava me sentindo subutilizado em termos de tempo, pois eu tenho muita energia e vontade de realizar coisas. Porém, eu não quero mais criar empresas, não tenho mais vontade de ter dez mil funcionários e repetir aquelas coisas que já fiz.
Somado a isso o fato de eu sempre ter gostado muito de filosofia e de economia e de estar presenciando nos últimos tempos, com a operação Lava Jato, a decepção do povo brasileiro com a nossa política, as pessoas achando que podem confundir o público com o privado e todo este cenário de privilégios políticos e má gestão pública, eu resolvi me candidatar ao cargo de senador e fui eleito com a maior votação entre todos os candidatos (2.957.239 votos), deixando de fora o Requião, o Beto Richa e vários outros.
Agora, tenho oito anos de Senado pela frente, onde pretendo servir o país e não me servir dele. Como senador, eu quero fazer coisas importantes para todos os brasileiros, ser um parlamentar e não um despachante. Eu quero contribuir para a construção de um país melhor, combater a corrupção e promover as reformas emergênciais como a da previdência, política, tributária e do judiciário. Não quero defender interesses de empresas e nem interesses menores. O legislador como diz o nome tem que legislar, deve fazer boas leis, poucas e simples. Leis que todos entendam e que funcionam rápido. E isso é tudo que nós não temos. Atualmente, temos leis demais e que funcionam mal. Precisamos mudar a nossa legislação em inúmeros aspectos.
São com essas ideias é que eu estou indo para o Senado. Essa é a próxima etapa da minha vida. Daqui a oito anos eu poderei contar o que aconteceu, o quanto disso tornou-se realidade.