Eu nasci em Curitiba em 1926, na Rua Marechal Deodoro. Os bondes passavam em frente à minha casa, iam em direção à Praça Zacarias, ao Batel e ao Seminário. Com um ramal que ia à República Argentina e ao Portão, passavam também pela Praça Tiradentes, de onde saíam os bondes para o Juvevê.
Curitiba, na época, era uma cidade razoavelmente confortável para a pouca população que tinha, e nós fomos vivendo e aprendendo a usufruir das coisas que a cidade oferecia. O Centro era o que movimentava Curitiba, e por muitos anos o alto da Rua XV era o ponto mais longe que se tinha na região leste. Na ferrovia, nós tínhamos o final da cidade; o Hospital Militar, e a Rua Francisco Rocha eram também o final da cidade; o resto era campo.
Em 1930, houve a revolução, e na esquina da minha casa com a Marechal Deodoro havia um banco chamado Pelotense, era um banco do Rio Grande do Sul. E naquela época havia sempre um policial guardando o banco. Fiz a ele uma recomendação: “Seu guarda, o senhor cuide bem deste banco porque meu pai tem dinheiro aí!” Eu nem sabia se realmente havia dinheiro de meu pai ali, mas deduzi, pois, era próximo à minha casa. Este foi o meu primeiro contato com uma autoridade, aos quatro, cinco anos de idade.
Por volta de 1940, eu passei a estudar alemão. Por querer me fortalecer nos estudos, fui me matricular no Bom Jesus, apesar da língua ser um pouco complicada, com algumas declinações. Também desejei estudar italiano. Em 1941, quase início de 1942, houve um afundamento de navios brasileiros. Em 1942, pressionado pela opinião pública, o presidente Getúlio Vargas declarou guerra ao Eixo.
A partir daquele instante, nós estávamos proibidos de falar, ler e estudar tanto alemão quanto italiano. A Sociedade Garibaldi teve a sua sede, na Praça Garibaldi, transformada em Tribunal de Justiça. Muita coisa foi confiscada. Assim, tivemos de parar de estudar, corria-se risco, mesmo com um professor dentro de casa.
Comecei, então, a estudar na Cultura Inglesa, porém havia a necessidade de trabalhar, e foi então que surgiu a minha primeira experiência profissional, ainda no ginásio, no Colégio Marista Santa Maria, na Rua XV com a Praça Santos Andrade. Fiz o serviço militar, e a partir daí comecei a me preparar para trabalhar.
No final da guerra, em 1945, foi o ano em que tive o meu primeiro registro em carteira, tornando-me oficialmente um trabalhador brasileiro. Em 1º de março eu ingressei no Banco do Estado do Paraná, agência central, na esquina das ruas XV de Novembro com Monsenhor Celso. Hoje, o prédio monumental pertence ao Banco Itaú.
Antes disto, eu tive uma passagem muito curiosa. Em um desses percalços de estudante, eu acabei repetindo um ano e meus pais não tiveram dúvida, me colocaram para trabalhar. Assim, comecei a trabalhar na Casa das Meias, onde fiquei dois meses e aprendi a desenvolver uma atividade para ser reconhecido. Terminei o prazo de férias, voltei a estudar e não houve mais nenhuma reprovação.
Desde que me conheço por gente participo do Clube Curitibano. Na época, não podia frequentar as salas de jogos, pois era criança ainda. Uma época que a cidade de Curitiba era pacata, tranquila.
Ao final de um ano no Banestado, houve a deflagração de uma greve bancária. Eu participei da greve, fui locutor, integrei o sindicato e estimulei a greve. Quando retornei ao trabalho, após 24 dias de greve, coincidentemente no dia de meu aniversário, que era 12 de fevereiro, tive de trabalhar o dia inteiro e uma parte da noite, por conta dos trabalhos atrasados. Quando completei cinco anos de banco, achei que o meu tempo ali havia terminado e resolvi partir pra outra.
Meus primeiros 25 anos de trabalho foram em empresas privadas, como Prosdócimo, e num escritório com meu irmão Gastão. Depois, fiz um concurso público na Codepar, que se transformou no Banco de Desenvolvimento. Fui aprovado e lá permaneci até o final da carreira, até me aposentar.
Durante esse tempo, eu exerci outras diversas atividades. Tive atividades sociais e esportivas, usufruindo da convivência com pessoas que marcaram sempre as suas missões com disposição e trabalho. Quando estava no Prosdócimo, envolvi-me com o esporte. O seu João Antonio Prosdócimo, vice-presidente da empresa, chamou-me ao seu escritório para me dizer que aquela noite iria ser eleito vice-presidente da Federação Paranaense de Ciclismo.
O Prosdócimo realizava, anualmente, o Grande Prêmio Prosdócimo e tinha em vista naturalmente a venda de bicicletas. Acabei me envolvendo em tudo isso, sendo, então, candidato, pois não houve mais ninguém que quisesse ser. Fiquei lá por dois períodos. Conseguimos formar a segunda equipe de ciclistas do Brasil. Acima da gente só havia São Paulo.
Participei ativamente na eleição de João Havelange para a presidência da então CBD (hoje, CBF). Trabalhava no Prosdócimo e participei da Assembleia que elegeu o Havelange pela primeira vez, em oposição ao Carlito Rocha. Havia uma simpatia da minha pessoa com o Havelange. Em 1957, fui um dos poucos que acreditavam que seríamos campeões do mundo de futebol.
No Rio de Janeiro, eu participava da Confederação. O Havelange decidiu que iria convidar cinco atletas do Paraná. Feito o acordo, retornei a Curitiba aguardando a convocação, porém, quando essa saiu, era de apenas um atleta. Passei, então, um telegrama para o Havelange, estranhando o resultado, já que não fora isso o combinado e mandei uma cópia para o meu amigo Alexandre do jornal “O Globo”. Ele simplesmente colocou esse telegrama como chamada de primeira página e transcreveu-o na página esportiva.
Imediatamente, recebi um telefonema de Havelange. Disse a ele que, como o combinado não havia sido cumprido, eu me senti na obrigação de informar o fato ao público esportivo. Aí, ele não só reconvocou os atletas, como também me indicou para ser delegado brasileiro no campeonato brasileiro em Montevidéu. Isto foi em 1957. Fiquei na firma Prosdócimo até o ano de 1961.
Exerci funções no Banco de Desenvolvimento, onde prestei concurso; trabalhei em diversos setores e fui me profissionalizando, no sentido de missões a serem cumpridas. Os convites surgiam e eu achava aquilo um desafio. Quando o doutor Parigot de Souza assumiu o governo do Estado, me chamou, pois éramos amigos de longa data, para assumir a Paranatur. Ele me falou com toda a franqueza: “Gilberto, gostaria que você trabalhasse comigo. As minhas obrigações políticas já me fizeram formar o secretariado, mas eu queria você também comigo. Queria que você não ficasse no Palácio, pois lá já tem muita gente, não traz vantagem nenhuma e assim lhe ofereço a presidência da Paranatur, onde você cumprirá a sua parte”. Diante disso, aceitei e disse a ele que iria cumprir a minha etapa.
No curso desse período, o doutor Parigot me delegou ainda algumas missões pessoais. Em 1972, presidi no Estado a Comissão do Sesquicentenário da Independência do Brasil, fui o responsável aqui no Paraná para formar todas as solenidades do corpo de Dom Pedro a Curitiba, fomos recebê-lo no aeroporto, que foi transportado para o Palácio Iguaçu, onde ficou três dias.
Posteriormente, a Aeronáutica me convidou para participar da comissão de alto nível do centenário de Santos Dumont, quando Parigot faleceu e o Emilio Gomes assumiu. Ele me chamou para conversar e me perguntou qual função eu desejava assumir no governo dele. Disse a ele que gostaria de permanecer onde estava, sendo assim mais útil do que assumir outra função.
Quando mudou do Emilio Gomes para o Jaime Canet, eu estava convidado pelo Secretário da Indústria e Comércio para permanecer na Paranatur. Mas o governador solicitou-me que fosse à Brasília, o que eu acabei aceitando, pois considerava um desafio.
No período de 1964 até 1985, nós temos diferenças substanciais do exercício da democracia. Eu vivi no Palácio do Planalto dois governos, cada um ao seu modo. Os presidentes com quem eu trabalhei, as missões que me foram dadas, foram sempre voltadas para o interesse do país.
Nós éramos, por incrível que pareça, 65 chefias e subchefias no Palácio do Planalto. Na assessoria especial do presidente Figueiredo havia o chefe da assessoria, eu, três secretários e dois ****. Nós cuidávamos das viagens semanais do presidente com a velocidade que era necessária. As nossas missões eram executadas com apoio e encontrávamos sempre razoável facilidade.
No Palácio do Planalto, eu trabalhei sob o regime civil. Do presidente Geisel posso citar duas facetas, uma delas é que ele era um homem muito estudioso, que, ao final do dia, levava ao Palácio pilhas de documentos para discutir no dia seguinte com os ministros.
Houve uma passagem pessoal: quando o presidente Figueiredo assumiu, havia a democracia e as discussões otimistas sobre ela. Uma determinada manhã, fui convocado para uma reunião e, a partir daquela data, eu deveria coordenar os atos oficiais que se dariam nas viagens nacionais do presidente e tinha autoridade para, junto ao planejamento, elaborar os documentos e a liberação deles para que o presidente recebesse durante as viagens.
Fui um homem que participou de diversas atividades, diga-se de passagem, voluntárias também. Ao mesmo tempo em que trabalhava, podia me dedicar a serviços comunitários, como, por exemplo, atender a Santa Casa, que foi criada pelo meu avô Manuel Martins de Abreu e meu tio avô Dom Alberto José Gonçalves, que eram provedores.
Participei como segundo secretário da Santa Casa e fui candidato a provedor. Ao término do meu período, passei o cargo para o Ari de Cristian. No trabalho social, trabalhei também na Associação Paranaense de Reabilitação. Acreditava que o serviço social estava em meu perfil, assim como o esporte, recebia amizades, e aquilo me fazia bem.
Quando retornei ao Paraná, fui trabalhar na Federação das Indústrias e lá acabei ficando dezoito anos. Na minha carteira constam 60 anos de atividade ininterrupta. Esse é o Gilberto Pires.
As condecorações: quando você faz parte do gabinete pessoal do presidente da República, há um decreto federal pra isso, no qual você participa automaticamente de algumas delas; então pra mim é uma distinção, uma honra, compor um quadro geral de trabalho. Essas condecorações todas são representativas de homenagens ao Brasil. Eu acredito que cumpri o meu dever.
Atualmente, exerço atividades voluntárias: sou vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, sou do Conselho Superior do Movimento Pró-Paraná, tenho ainda uma participação no Conselho da Santa Casa e no Conselho Deliberativo do Clube Curitibano. Isso me dá mais energia para poder oferecer aos outros um pouco do que eu já recebi.
Para finalizar, eu agradeço o fato de me permitirem contar a história de alguém que, mais do que tudo, foi e é um trabalhador.
Eu nasci em Curitiba em 1926, na Rua Marechal Deodoro. Os bondes passavam em frente à minha casa, iam em direção à Praça Zacarias, ao Batel e ao Seminário. Com um ramal que ia à República Argentina e ao Portão, passavam também pela Praça Tiradentes, de onde saíam os bondes para o Juvevê.
Curitiba, na época, era uma cidade razoavelmente confortável para a pouca população que tinha, e nós fomos vivendo e aprendendo a usufruir das coisas que a cidade oferecia. O Centro era o que movimentava Curitiba, e por muitos anos o alto da Rua XV era o ponto mais longe que se tinha na região leste. Na ferrovia, nós tínhamos o final da cidade; o Hospital Militar, e a Rua Francisco Rocha eram também o final da cidade; o resto era campo.
Em 1930, houve a revolução, e na esquina da minha casa com a Marechal Deodoro havia um banco chamado Pelotense, era um banco do Rio Grande do Sul. E naquela época havia sempre um policial guardando o banco. Fiz a ele uma recomendação: “Seu guarda, o senhor cuide bem deste banco porque meu pai tem dinheiro aí!” Eu nem sabia se realmente havia dinheiro de meu pai ali, mas deduzi, pois, era próximo à minha casa. Este foi o meu primeiro contato com uma autoridade, aos quatro, cinco anos de idade.
Por volta de 1940, eu passei a estudar alemão. Por querer me fortalecer nos estudos, fui me matricular no Bom Jesus, apesar da língua ser um pouco complicada, com algumas declinações. Também desejei estudar italiano. Em 1941, quase início de 1942, houve um afundamento de navios brasileiros. Em 1942, pressionado pela opinião pública, o presidente Getúlio Vargas declarou guerra ao Eixo.
A partir daquele instante, nós estávamos proibidos de falar, ler e estudar tanto alemão quanto italiano. A Sociedade Garibaldi teve a sua sede, na Praça Garibaldi, transformada em Tribunal de Justiça. Muita coisa foi confiscada. Assim, tivemos de parar de estudar, corria-se risco, mesmo com um professor dentro de casa.
Comecei, então, a estudar na Cultura Inglesa, porém havia a necessidade de trabalhar, e foi então que surgiu a minha primeira experiência profissional, ainda no ginásio, no Colégio Marista Santa Maria, na Rua XV com a Praça Santos Andrade. Fiz o serviço militar, e a partir daí comecei a me preparar para trabalhar.
No final da guerra, em 1945, foi o ano em que tive o meu primeiro registro em carteira, tornando-me oficialmente um trabalhador brasileiro. Em 1º de março eu ingressei no Banco do Estado do Paraná, agência central, na esquina das ruas XV de Novembro com Monsenhor Celso. Hoje, o prédio monumental pertence ao Banco Itaú.
Antes disto, eu tive uma passagem muito curiosa. Em um desses percalços de estudante, eu acabei repetindo um ano e meus pais não tiveram dúvida, me colocaram para trabalhar. Assim, comecei a trabalhar na Casa das Meias, onde fiquei dois meses e aprendi a desenvolver uma atividade para ser reconhecido. Terminei o prazo de férias, voltei a estudar e não houve mais nenhuma reprovação.
Desde que me conheço por gente participo do Clube Curitibano. Na época, não podia frequentar as salas de jogos, pois era criança ainda. Uma época que a cidade de Curitiba era pacata, tranquila.
Ao final de um ano no Banestado, houve a deflagração de uma greve bancária. Eu participei da greve, fui locutor, integrei o sindicato e estimulei a greve. Quando retornei ao trabalho, após 24 dias de greve, coincidentemente no dia de meu aniversário, que era 12 de fevereiro, tive de trabalhar o dia inteiro e uma parte da noite, por conta dos trabalhos atrasados. Quando completei cinco anos de banco, achei que o meu tempo ali havia terminado e resolvi partir pra outra.
Meus primeiros 25 anos de trabalho foram em empresas privadas, como Prosdócimo, e num escritório com meu irmão Gastão. Depois, fiz um concurso público na Codepar, que se transformou no Banco de Desenvolvimento. Fui aprovado e lá permaneci até o final da carreira, até me aposentar.
Durante esse tempo, eu exerci outras diversas atividades. Tive atividades sociais e esportivas, usufruindo da convivência com pessoas que marcaram sempre as suas missões com disposição e trabalho. Quando estava no Prosdócimo, envolvi-me com o esporte. O seu João Antonio Prosdócimo, vice-presidente da empresa, chamou-me ao seu escritório para me dizer que aquela noite iria ser eleito vice-presidente da Federação Paranaense de Ciclismo.
O Prosdócimo realizava, anualmente, o Grande Prêmio Prosdócimo e tinha em vista naturalmente a venda de bicicletas. Acabei me envolvendo em tudo isso, sendo, então, candidato, pois não houve mais ninguém que quisesse ser. Fiquei lá por dois períodos. Conseguimos formar a segunda equipe de ciclistas do Brasil. Acima da gente só havia São Paulo.
Participei ativamente na eleição de João Havelange para a presidência da então CBD (hoje, CBF). Trabalhava no Prosdócimo e participei da Assembleia que elegeu o Havelange pela primeira vez, em oposição ao Carlito Rocha. Havia uma simpatia da minha pessoa com o Havelange. Em 1957, fui um dos poucos que acreditavam que seríamos campeões do mundo de futebol.
No Rio de Janeiro, eu participava da Confederação. O Havelange decidiu que iria convidar cinco atletas do Paraná. Feito o acordo, retornei a Curitiba aguardando a convocação, porém, quando essa saiu, era de apenas um atleta. Passei, então, um telegrama para o Havelange, estranhando o resultado, já que não fora isso o combinado e mandei uma cópia para o meu amigo Alexandre do jornal “O Globo”. Ele simplesmente colocou esse telegrama como chamada de primeira página e transcreveu-o na página esportiva.
Imediatamente, recebi um telefonema de Havelange. Disse a ele que, como o combinado não havia sido cumprido, eu me senti na obrigação de informar o fato ao público esportivo. Aí, ele não só reconvocou os atletas, como também me indicou para ser delegado brasileiro no campeonato brasileiro em Montevidéu. Isto foi em 1957. Fiquei na firma Prosdócimo até o ano de 1961.
Exerci funções no Banco de Desenvolvimento, onde prestei concurso; trabalhei em diversos setores e fui me profissionalizando, no sentido de missões a serem cumpridas. Os convites surgiam e eu achava aquilo um desafio. Quando o doutor Parigot de Souza assumiu o governo do Estado, me chamou, pois éramos amigos de longa data, para assumir a Paranatur. Ele me falou com toda a franqueza: “Gilberto, gostaria que você trabalhasse comigo. As minhas obrigações políticas já me fizeram formar o secretariado, mas eu queria você também comigo. Queria que você não ficasse no Palácio, pois lá já tem muita gente, não traz vantagem nenhuma e assim lhe ofereço a presidência da Paranatur, onde você cumprirá a sua parte”. Diante disso, aceitei e disse a ele que iria cumprir a minha etapa.
No curso desse período, o doutor Parigot me delegou ainda algumas missões pessoais. Em 1972, presidi no Estado a Comissão do Sesquicentenário da Independência do Brasil, fui o responsável aqui no Paraná para formar todas as solenidades do corpo de Dom Pedro a Curitiba, fomos recebê-lo no aeroporto, que foi transportado para o Palácio Iguaçu, onde ficou três dias.
Posteriormente, a Aeronáutica me convidou para participar da comissão de alto nível do centenário de Santos Dumont, quando Parigot faleceu e o Emilio Gomes assumiu. Ele me chamou para conversar e me perguntou qual função eu desejava assumir no governo dele. Disse a ele que gostaria de permanecer onde estava, sendo assim mais útil do que assumir outra função.
Quando mudou do Emilio Gomes para o Jaime Canet, eu estava convidado pelo Secretário da Indústria e Comércio para permanecer na Paranatur. Mas o governador solicitou-me que fosse à Brasília, o que eu acabei aceitando, pois considerava um desafio.
No período de 1964 até 1985, nós temos diferenças substanciais do exercício da democracia. Eu vivi no Palácio do Planalto dois governos, cada um ao seu modo. Os presidentes com quem eu trabalhei, as missões que me foram dadas, foram sempre voltadas para o interesse do país.
Nós éramos, por incrível que pareça, 65 chefias e subchefias no Palácio do Planalto. Na assessoria especial do presidente Figueiredo havia o chefe da assessoria, eu, três secretários e dois ****. Nós cuidávamos das viagens semanais do presidente com a velocidade que era necessária. As nossas missões eram executadas com apoio e encontrávamos sempre razoável facilidade.
No Palácio do Planalto, eu trabalhei sob o regime civil. Do presidente Geisel posso citar duas facetas, uma delas é que ele era um homem muito estudioso, que, ao final do dia, levava ao Palácio pilhas de documentos para discutir no dia seguinte com os ministros.
Houve uma passagem pessoal: quando o presidente Figueiredo assumiu, havia a democracia e as discussões otimistas sobre ela. Uma determinada manhã, fui convocado para uma reunião e, a partir daquela data, eu deveria coordenar os atos oficiais que se dariam nas viagens nacionais do presidente e tinha autoridade para, junto ao planejamento, elaborar os documentos e a liberação deles para que o presidente recebesse durante as viagens.
Fui um homem que participou de diversas atividades, diga-se de passagem, voluntárias também. Ao mesmo tempo em que trabalhava, podia me dedicar a serviços comunitários, como, por exemplo, atender a Santa Casa, que foi criada pelo meu avô Manuel Martins de Abreu e meu tio avô Dom Alberto José Gonçalves, que eram provedores.
Participei como segundo secretário da Santa Casa e fui candidato a provedor. Ao término do meu período, passei o cargo para o Ari de Cristian. No trabalho social, trabalhei também na Associação Paranaense de Reabilitação. Acreditava que o serviço social estava em meu perfil, assim como o esporte, recebia amizades, e aquilo me fazia bem.
Quando retornei ao Paraná, fui trabalhar na Federação das Indústrias e lá acabei ficando dezoito anos. Na minha carteira constam 60 anos de atividade ininterrupta. Esse é o Gilberto Pires.
As condecorações: quando você faz parte do gabinete pessoal do presidente da República, há um decreto federal pra isso, no qual você participa automaticamente de algumas delas; então pra mim é uma distinção, uma honra, compor um quadro geral de trabalho. Essas condecorações todas são representativas de homenagens ao Brasil. Eu acredito que cumpri o meu dever.
Atualmente, exerço atividades voluntárias: sou vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, sou do Conselho Superior do Movimento Pró-Paraná, tenho ainda uma participação no Conselho da Santa Casa e no Conselho Deliberativo do Clube Curitibano. Isso me dá mais energia para poder oferecer aos outros um pouco do que eu já recebi.
Para finalizar, eu agradeço o fato de me permitirem contar a história de alguém que, mais do que tudo, foi e é um trabalhador.
Eu nasci em Curitiba em 1926, na Rua Marechal Deodoro. Os bondes passavam em frente à minha casa, iam em direção à Praça Zacarias, ao Batel e ao Seminário. Com um ramal que ia à República Argentina e ao Portão, passavam também pela Praça Tiradentes, de onde saíam os bondes para o Juvevê.
Curitiba, na época, era uma cidade razoavelmente confortável para a pouca população que tinha, e nós fomos vivendo e aprendendo a usufruir das coisas que a cidade oferecia. O Centro era o que movimentava Curitiba, e por muitos anos o alto da Rua XV era o ponto mais longe que se tinha na região leste. Na ferrovia, nós tínhamos o final da cidade; o Hospital Militar, e a Rua Francisco Rocha eram também o final da cidade; o resto era campo.
Em 1930, houve a revolução, e na esquina da minha casa com a Marechal Deodoro havia um banco chamado Pelotense, era um banco do Rio Grande do Sul. E naquela época havia sempre um policial guardando o banco. Fiz a ele uma recomendação: “Seu guarda, o senhor cuide bem deste banco porque meu pai tem dinheiro aí!” Eu nem sabia se realmente havia dinheiro de meu pai ali, mas deduzi, pois, era próximo à minha casa. Este foi o meu primeiro contato com uma autoridade, aos quatro, cinco anos de idade.
Por volta de 1940, eu passei a estudar alemão. Por querer me fortalecer nos estudos, fui me matricular no Bom Jesus, apesar da língua ser um pouco complicada, com algumas declinações. Também desejei estudar italiano. Em 1941, quase início de 1942, houve um afundamento de navios brasileiros. Em 1942, pressionado pela opinião pública, o presidente Getúlio Vargas declarou guerra ao Eixo.
A partir daquele instante, nós estávamos proibidos de falar, ler e estudar tanto alemão quanto italiano. A Sociedade Garibaldi teve a sua sede, na Praça Garibaldi, transformada em Tribunal de Justiça. Muita coisa foi confiscada. Assim, tivemos de parar de estudar, corria-se risco, mesmo com um professor dentro de casa.
Comecei, então, a estudar na Cultura Inglesa, porém havia a necessidade de trabalhar, e foi então que surgiu a minha primeira experiência profissional, ainda no ginásio, no Colégio Marista Santa Maria, na Rua XV com a Praça Santos Andrade. Fiz o serviço militar, e a partir daí comecei a me preparar para trabalhar.
No final da guerra, em 1945, foi o ano em que tive o meu primeiro registro em carteira, tornando-me oficialmente um trabalhador brasileiro. Em 1º de março eu ingressei no Banco do Estado do Paraná, agência central, na esquina das ruas XV de Novembro com Monsenhor Celso. Hoje, o prédio monumental pertence ao Banco Itaú.
Antes disto, eu tive uma passagem muito curiosa. Em um desses percalços de estudante, eu acabei repetindo um ano e meus pais não tiveram dúvida, me colocaram para trabalhar. Assim, comecei a trabalhar na Casa das Meias, onde fiquei dois meses e aprendi a desenvolver uma atividade para ser reconhecido. Terminei o prazo de férias, voltei a estudar e não houve mais nenhuma reprovação.
Desde que me conheço por gente participo do Clube Curitibano. Na época, não podia frequentar as salas de jogos, pois era criança ainda. Uma época que a cidade de Curitiba era pacata, tranquila.
Ao final de um ano no Banestado, houve a deflagração de uma greve bancária. Eu participei da greve, fui locutor, integrei o sindicato e estimulei a greve. Quando retornei ao trabalho, após 24 dias de greve, coincidentemente no dia de meu aniversário, que era 12 de fevereiro, tive de trabalhar o dia inteiro e uma parte da noite, por conta dos trabalhos atrasados. Quando completei cinco anos de banco, achei que o meu tempo ali havia terminado e resolvi partir pra outra.
Meus primeiros 25 anos de trabalho foram em empresas privadas, como Prosdócimo, e num escritório com meu irmão Gastão. Depois, fiz um concurso público na Codepar, que se transformou no Banco de Desenvolvimento. Fui aprovado e lá permaneci até o final da carreira, até me aposentar.
Durante esse tempo, eu exerci outras diversas atividades. Tive atividades sociais e esportivas, usufruindo da convivência com pessoas que marcaram sempre as suas missões com disposição e trabalho. Quando estava no Prosdócimo, envolvi-me com o esporte. O seu João Antonio Prosdócimo, vice-presidente da empresa, chamou-me ao seu escritório para me dizer que aquela noite iria ser eleito vice-presidente da Federação Paranaense de Ciclismo.
O Prosdócimo realizava, anualmente, o Grande Prêmio Prosdócimo e tinha em vista naturalmente a venda de bicicletas. Acabei me envolvendo em tudo isso, sendo, então, candidato, pois não houve mais ninguém que quisesse ser. Fiquei lá por dois períodos. Conseguimos formar a segunda equipe de ciclistas do Brasil. Acima da gente só havia São Paulo.
Participei ativamente na eleição de João Havelange para a presidência da então CBD (hoje, CBF). Trabalhava no Prosdócimo e participei da Assembleia que elegeu o Havelange pela primeira vez, em oposição ao Carlito Rocha. Havia uma simpatia da minha pessoa com o Havelange. Em 1957, fui um dos poucos que acreditavam que seríamos campeões do mundo de futebol.
No Rio de Janeiro, eu participava da Confederação. O Havelange decidiu que iria convidar cinco atletas do Paraná. Feito o acordo, retornei a Curitiba aguardando a convocação, porém, quando essa saiu, era de apenas um atleta. Passei, então, um telegrama para o Havelange, estranhando o resultado, já que não fora isso o combinado e mandei uma cópia para o meu amigo Alexandre do jornal “O Globo”. Ele simplesmente colocou esse telegrama como chamada de primeira página e transcreveu-o na página esportiva.
Imediatamente, recebi um telefonema de Havelange. Disse a ele que, como o combinado não havia sido cumprido, eu me senti na obrigação de informar o fato ao público esportivo. Aí, ele não só reconvocou os atletas, como também me indicou para ser delegado brasileiro no campeonato brasileiro em Montevidéu. Isto foi em 1957. Fiquei na firma Prosdócimo até o ano de 1961.
Exerci funções no Banco de Desenvolvimento, onde prestei concurso; trabalhei em diversos setores e fui me profissionalizando, no sentido de missões a serem cumpridas. Os convites surgiam e eu achava aquilo um desafio. Quando o doutor Parigot de Souza assumiu o governo do Estado, me chamou, pois éramos amigos de longa data, para assumir a Paranatur. Ele me falou com toda a franqueza: “Gilberto, gostaria que você trabalhasse comigo. As minhas obrigações políticas já me fizeram formar o secretariado, mas eu queria você também comigo. Queria que você não ficasse no Palácio, pois lá já tem muita gente, não traz vantagem nenhuma e assim lhe ofereço a presidência da Paranatur, onde você cumprirá a sua parte”. Diante disso, aceitei e disse a ele que iria cumprir a minha etapa.
No curso desse período, o doutor Parigot me delegou ainda algumas missões pessoais. Em 1972, presidi no Estado a Comissão do Sesquicentenário da Independência do Brasil, fui o responsável aqui no Paraná para formar todas as solenidades do corpo de Dom Pedro a Curitiba, fomos recebê-lo no aeroporto, que foi transportado para o Palácio Iguaçu, onde ficou três dias.
Posteriormente, a Aeronáutica me convidou para participar da comissão de alto nível do centenário de Santos Dumont, quando Parigot faleceu e o Emilio Gomes assumiu. Ele me chamou para conversar e me perguntou qual função eu desejava assumir no governo dele. Disse a ele que gostaria de permanecer onde estava, sendo assim mais útil do que assumir outra função.
Quando mudou do Emilio Gomes para o Jaime Canet, eu estava convidado pelo Secretário da Indústria e Comércio para permanecer na Paranatur. Mas o governador solicitou-me que fosse à Brasília, o que eu acabei aceitando, pois considerava um desafio.
No período de 1964 até 1985, nós temos diferenças substanciais do exercício da democracia. Eu vivi no Palácio do Planalto dois governos, cada um ao seu modo. Os presidentes com quem eu trabalhei, as missões que me foram dadas, foram sempre voltadas para o interesse do país.
Nós éramos, por incrível que pareça, 65 chefias e subchefias no Palácio do Planalto. Na assessoria especial do presidente Figueiredo havia o chefe da assessoria, eu, três secretários e dois ****. Nós cuidávamos das viagens semanais do presidente com a velocidade que era necessária. As nossas missões eram executadas com apoio e encontrávamos sempre razoável facilidade.
No Palácio do Planalto, eu trabalhei sob o regime civil. Do presidente Geisel posso citar duas facetas, uma delas é que ele era um homem muito estudioso, que, ao final do dia, levava ao Palácio pilhas de documentos para discutir no dia seguinte com os ministros.
Houve uma passagem pessoal: quando o presidente Figueiredo assumiu, havia a democracia e as discussões otimistas sobre ela. Uma determinada manhã, fui convocado para uma reunião e, a partir daquela data, eu deveria coordenar os atos oficiais que se dariam nas viagens nacionais do presidente e tinha autoridade para, junto ao planejamento, elaborar os documentos e a liberação deles para que o presidente recebesse durante as viagens.
Fui um homem que participou de diversas atividades, diga-se de passagem, voluntárias também. Ao mesmo tempo em que trabalhava, podia me dedicar a serviços comunitários, como, por exemplo, atender a Santa Casa, que foi criada pelo meu avô Manuel Martins de Abreu e meu tio avô Dom Alberto José Gonçalves, que eram provedores.
Participei como segundo secretário da Santa Casa e fui candidato a provedor. Ao término do meu período, passei o cargo para o Ari de Cristian. No trabalho social, trabalhei também na Associação Paranaense de Reabilitação. Acreditava que o serviço social estava em meu perfil, assim como o esporte, recebia amizades, e aquilo me fazia bem.
Quando retornei ao Paraná, fui trabalhar na Federação das Indústrias e lá acabei ficando dezoito anos. Na minha carteira constam 60 anos de atividade ininterrupta. Esse é o Gilberto Pires.
As condecorações: quando você faz parte do gabinete pessoal do presidente da República, há um decreto federal pra isso, no qual você participa automaticamente de algumas delas; então pra mim é uma distinção, uma honra, compor um quadro geral de trabalho. Essas condecorações todas são representativas de homenagens ao Brasil. Eu acredito que cumpri o meu dever.
Atualmente, exerço atividades voluntárias: sou vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, sou do Conselho Superior do Movimento Pró-Paraná, tenho ainda uma participação no Conselho da Santa Casa e no Conselho Deliberativo do Clube Curitibano. Isso me dá mais energia para poder oferecer aos outros um pouco do que eu já recebi.
Para finalizar, eu agradeço o fato de me permitirem contar a história de alguém que, mais do que tudo, foi e é um trabalhador.
Eu nasci em Curitiba em 1926, na Rua Marechal Deodoro. Os bondes passavam em frente à minha casa, iam em direção à Praça Zacarias, ao Batel e ao Seminário. Com um ramal que ia à República Argentina e ao Portão, passavam também pela Praça Tiradentes, de onde saíam os bondes para o Juvevê.
Curitiba, na época, era uma cidade razoavelmente confortável para a pouca população que tinha, e nós fomos vivendo e aprendendo a usufruir das coisas que a cidade oferecia. O Centro era o que movimentava Curitiba, e por muitos anos o alto da Rua XV era o ponto mais longe que se tinha na região leste. Na ferrovia, nós tínhamos o final da cidade; o Hospital Militar, e a Rua Francisco Rocha eram também o final da cidade; o resto era campo.
Em 1930, houve a revolução, e na esquina da minha casa com a Marechal Deodoro havia um banco chamado Pelotense, era um banco do Rio Grande do Sul. E naquela época havia sempre um policial guardando o banco. Fiz a ele uma recomendação: “Seu guarda, o senhor cuide bem deste banco porque meu pai tem dinheiro aí!” Eu nem sabia se realmente havia dinheiro de meu pai ali, mas deduzi, pois, era próximo à minha casa. Este foi o meu primeiro contato com uma autoridade, aos quatro, cinco anos de idade.
Por volta de 1940, eu passei a estudar alemão. Por querer me fortalecer nos estudos, fui me matricular no Bom Jesus, apesar da língua ser um pouco complicada, com algumas declinações. Também desejei estudar italiano. Em 1941, quase início de 1942, houve um afundamento de navios brasileiros. Em 1942, pressionado pela opinião pública, o presidente Getúlio Vargas declarou guerra ao Eixo.
A partir daquele instante, nós estávamos proibidos de falar, ler e estudar tanto alemão quanto italiano. A Sociedade Garibaldi teve a sua sede, na Praça Garibaldi, transformada em Tribunal de Justiça. Muita coisa foi confiscada. Assim, tivemos de parar de estudar, corria-se risco, mesmo com um professor dentro de casa.
Comecei, então, a estudar na Cultura Inglesa, porém havia a necessidade de trabalhar, e foi então que surgiu a minha primeira experiência profissional, ainda no ginásio, no Colégio Marista Santa Maria, na Rua XV com a Praça Santos Andrade. Fiz o serviço militar, e a partir daí comecei a me preparar para trabalhar.
No final da guerra, em 1945, foi o ano em que tive o meu primeiro registro em carteira, tornando-me oficialmente um trabalhador brasileiro. Em 1º de março eu ingressei no Banco do Estado do Paraná, agência central, na esquina das ruas XV de Novembro com Monsenhor Celso. Hoje, o prédio monumental pertence ao Banco Itaú.
Antes disto, eu tive uma passagem muito curiosa. Em um desses percalços de estudante, eu acabei repetindo um ano e meus pais não tiveram dúvida, me colocaram para trabalhar. Assim, comecei a trabalhar na Casa das Meias, onde fiquei dois meses e aprendi a desenvolver uma atividade para ser reconhecido. Terminei o prazo de férias, voltei a estudar e não houve mais nenhuma reprovação.
Desde que me conheço por gente participo do Clube Curitibano. Na época, não podia frequentar as salas de jogos, pois era criança ainda. Uma época que a cidade de Curitiba era pacata, tranquila.
Ao final de um ano no Banestado, houve a deflagração de uma greve bancária. Eu participei da greve, fui locutor, integrei o sindicato e estimulei a greve. Quando retornei ao trabalho, após 24 dias de greve, coincidentemente no dia de meu aniversário, que era 12 de fevereiro, tive de trabalhar o dia inteiro e uma parte da noite, por conta dos trabalhos atrasados. Quando completei cinco anos de banco, achei que o meu tempo ali havia terminado e resolvi partir pra outra.
Meus primeiros 25 anos de trabalho foram em empresas privadas, como Prosdócimo, e num escritório com meu irmão Gastão. Depois, fiz um concurso público na Codepar, que se transformou no Banco de Desenvolvimento. Fui aprovado e lá permaneci até o final da carreira, até me aposentar.
Durante esse tempo, eu exerci outras diversas atividades. Tive atividades sociais e esportivas, usufruindo da convivência com pessoas que marcaram sempre as suas missões com disposição e trabalho. Quando estava no Prosdócimo, envolvi-me com o esporte. O seu João Antonio Prosdócimo, vice-presidente da empresa, chamou-me ao seu escritório para me dizer que aquela noite iria ser eleito vice-presidente da Federação Paranaense de Ciclismo.
O Prosdócimo realizava, anualmente, o Grande Prêmio Prosdócimo e tinha em vista naturalmente a venda de bicicletas. Acabei me envolvendo em tudo isso, sendo, então, candidato, pois não houve mais ninguém que quisesse ser. Fiquei lá por dois períodos. Conseguimos formar a segunda equipe de ciclistas do Brasil. Acima da gente só havia São Paulo.
Participei ativamente na eleição de João Havelange para a presidência da então CBD (hoje, CBF). Trabalhava no Prosdócimo e participei da Assembleia que elegeu o Havelange pela primeira vez, em oposição ao Carlito Rocha. Havia uma simpatia da minha pessoa com o Havelange. Em 1957, fui um dos poucos que acreditavam que seríamos campeões do mundo de futebol.
No Rio de Janeiro, eu participava da Confederação. O Havelange decidiu que iria convidar cinco atletas do Paraná. Feito o acordo, retornei a Curitiba aguardando a convocação, porém, quando essa saiu, era de apenas um atleta. Passei, então, um telegrama para o Havelange, estranhando o resultado, já que não fora isso o combinado e mandei uma cópia para o meu amigo Alexandre do jornal “O Globo”. Ele simplesmente colocou esse telegrama como chamada de primeira página e transcreveu-o na página esportiva.
Imediatamente, recebi um telefonema de Havelange. Disse a ele que, como o combinado não havia sido cumprido, eu me senti na obrigação de informar o fato ao público esportivo. Aí, ele não só reconvocou os atletas, como também me indicou para ser delegado brasileiro no campeonato brasileiro em Montevidéu. Isto foi em 1957. Fiquei na firma Prosdócimo até o ano de 1961.
Exerci funções no Banco de Desenvolvimento, onde prestei concurso; trabalhei em diversos setores e fui me profissionalizando, no sentido de missões a serem cumpridas. Os convites surgiam e eu achava aquilo um desafio. Quando o doutor Parigot de Souza assumiu o governo do Estado, me chamou, pois éramos amigos de longa data, para assumir a Paranatur. Ele me falou com toda a franqueza: “Gilberto, gostaria que você trabalhasse comigo. As minhas obrigações políticas já me fizeram formar o secretariado, mas eu queria você também comigo. Queria que você não ficasse no Palácio, pois lá já tem muita gente, não traz vantagem nenhuma e assim lhe ofereço a presidência da Paranatur, onde você cumprirá a sua parte”. Diante disso, aceitei e disse a ele que iria cumprir a minha etapa.
No curso desse período, o doutor Parigot me delegou ainda algumas missões pessoais. Em 1972, presidi no Estado a Comissão do Sesquicentenário da Independência do Brasil, fui o responsável aqui no Paraná para formar todas as solenidades do corpo de Dom Pedro a Curitiba, fomos recebê-lo no aeroporto, que foi transportado para o Palácio Iguaçu, onde ficou três dias.
Posteriormente, a Aeronáutica me convidou para participar da comissão de alto nível do centenário de Santos Dumont, quando Parigot faleceu e o Emilio Gomes assumiu. Ele me chamou para conversar e me perguntou qual função eu desejava assumir no governo dele. Disse a ele que gostaria de permanecer onde estava, sendo assim mais útil do que assumir outra função.
Quando mudou do Emilio Gomes para o Jaime Canet, eu estava convidado pelo Secretário da Indústria e Comércio para permanecer na Paranatur. Mas o governador solicitou-me que fosse à Brasília, o que eu acabei aceitando, pois considerava um desafio.
No período de 1964 até 1985, nós temos diferenças substanciais do exercício da democracia. Eu vivi no Palácio do Planalto dois governos, cada um ao seu modo. Os presidentes com quem eu trabalhei, as missões que me foram dadas, foram sempre voltadas para o interesse do país.
Nós éramos, por incrível que pareça, 65 chefias e subchefias no Palácio do Planalto. Na assessoria especial do presidente Figueiredo havia o chefe da assessoria, eu, três secretários e dois ****. Nós cuidávamos das viagens semanais do presidente com a velocidade que era necessária. As nossas missões eram executadas com apoio e encontrávamos sempre razoável facilidade.
No Palácio do Planalto, eu trabalhei sob o regime civil. Do presidente Geisel posso citar duas facetas, uma delas é que ele era um homem muito estudioso, que, ao final do dia, levava ao Palácio pilhas de documentos para discutir no dia seguinte com os ministros.
Houve uma passagem pessoal: quando o presidente Figueiredo assumiu, havia a democracia e as discussões otimistas sobre ela. Uma determinada manhã, fui convocado para uma reunião e, a partir daquela data, eu deveria coordenar os atos oficiais que se dariam nas viagens nacionais do presidente e tinha autoridade para, junto ao planejamento, elaborar os documentos e a liberação deles para que o presidente recebesse durante as viagens.
Fui um homem que participou de diversas atividades, diga-se de passagem, voluntárias também. Ao mesmo tempo em que trabalhava, podia me dedicar a serviços comunitários, como, por exemplo, atender a Santa Casa, que foi criada pelo meu avô Manuel Martins de Abreu e meu tio avô Dom Alberto José Gonçalves, que eram provedores.
Participei como segundo secretário da Santa Casa e fui candidato a provedor. Ao término do meu período, passei o cargo para o Ari de Cristian. No trabalho social, trabalhei também na Associação Paranaense de Reabilitação. Acreditava que o serviço social estava em meu perfil, assim como o esporte, recebia amizades, e aquilo me fazia bem.
Quando retornei ao Paraná, fui trabalhar na Federação das Indústrias e lá acabei ficando dezoito anos. Na minha carteira constam 60 anos de atividade ininterrupta. Esse é o Gilberto Pires.
As condecorações: quando você faz parte do gabinete pessoal do presidente da República, há um decreto federal pra isso, no qual você participa automaticamente de algumas delas; então pra mim é uma distinção, uma honra, compor um quadro geral de trabalho. Essas condecorações todas são representativas de homenagens ao Brasil. Eu acredito que cumpri o meu dever.
Atualmente, exerço atividades voluntárias: sou vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, sou do Conselho Superior do Movimento Pró-Paraná, tenho ainda uma participação no Conselho da Santa Casa e no Conselho Deliberativo do Clube Curitibano. Isso me dá mais energia para poder oferecer aos outros um pouco do que eu já recebi.
Para finalizar, eu agradeço o fato de me permitirem contar a história de alguém que, mais do que tudo, foi e é um trabalhador.