Gilberto Ferreira (2016) Direito – Quatiguá – Paraná

Corria o ano de 1945. O povo da pequena cidade de Cachoeirinha, hoje Arapoti, comemorava o fim da Segunda Guerra Mundial. Um moço, de olhos azuis-esverdeados, montado em um belo cavalo se aproxima de uma menina-moça, de olhos azuis. Os dois trocam olhares. Ele se chama Silvino Ferreira Júnior, apelidado Nino, tem 22 anos, é filho de um comerciante, o Sr. Silvino Ferreira e de Idalina. E ela, Leda Cristovam, filha de um padeiro, o primeiro daquela cidade, o Sr. Crispiniano Pacheco de Medeiros e de dona Sebastiana.

Os dois jovens iniciam um namoro, que naquela época se reduzia a pequenas furtivas conversas, e descobrem que se amam. O Sr. Crispiniano vende a padaria e compra um hotel, o Hotel dos Viajantes, em Quatiguá e por isso terá de se mudar para a nova cidade.

Nino e Leda acham que aquilo determinará o fim do namoro, pois entre Cachoeirinha e Quatiguá havia uma distância imensa para aqueles tempos (poucos mais de oitenta quilômetros). Então resolvem fugir. Numa noite de lua cheia, Leda salta a janela de seu quarto e corre ao encontro de Nino. Embora, o Sr. Crispiniano fosse de moral muito rígida, não havia mais o que fazer senão autorizar o casamento da filha, pois, do contrário, ela ficaria desonrada.

Nino e Leda se casaram e logo tiveram um filho, que faleceu precocemente. Em seguida veio o segundo, Roniomar, depois uma menina, Marisa, companheira de sempre. O casal se muda para Quatiguá onde, em 1953, vim a nascer e onde passei a minha primeira infância, tendo estudado o primeiro ano no Grupo local e sido aluno da professora Diva Baena, como o nome já diz, uma diva!

Em 1960, papai resolve se mudar para o município de Curiúva, num local chamado Espigão Bonito, onde possuía terras herdadas de seu pai. Ali, nasceu minha irmã mais nova, Leda-Mara, em 1962.

Em 1965, nos mudamos para Londrina, na qual meu pai se associou a um seu irmão na administração de uma casa de comércio. Como a sociedade não atingiu os objetivos pretendidos, meu pai retornou para o Espigão. Eu, então, no ano de 1967, fui estudar em Andirá, morando na casa da tia-mãe Mercedes, em cuja cidade cursei o primeiro ano do ginásio. Em 1968, retornei para o sítio e fui estudar em Curiúva, as segunda, terceira e quarta séries. Em 1971, meu pai me trouxe para Curitiba. Aqui, estudei o primeiro ano Colégio Iguassu, e os outros dois do chamado Científico, no Colégio Camões. Nesse período, trabalhei em uma farmácia no bairro Santa Efigênia, e nas Lojas Prosdócimo e Lojas Unidas, ambas localizadas na Praça Tiradentes.

Em 1974, já trabalhando no escritório de uma pedreira graças à generosidade de seu proprietário, o Sr. José Quintilhan, que tanto me ajudou naqueles tempos difíceis, prestei vestibular para o curso de Direito na UFPR e fui aprovado. Morando inicialmente em repúblicas, logo fui aprovado no processo seletivo da CEU (Casa do Estudante Universitário) e para lá me mudei. Por esse tempo, deixei a pedreira e trabalhei no SERPRO e numa empresa de serviços temporários, tendo feito alguns bicos no IPPUC até ser aprovado no concurso da Polícia Civil, para o cargo de escrivão, tendo sido designado para atuar em Rebouças. Em que pese a distância, um acordo feito com o delegado, Antonio Azambuja Neto e o Juiz de Direito, João Luiz Manassés, me permitiu que eu cumprisse regularmente a minha função sem prejuízo de minhas atividades na Faculdade.

Também por esse tempo conheci minha primeira esposa, Mirian, com quem tive três filhos, Marcus Vinícius, Vanessa Cristina e Fabiane Regina. Marcus se casou com Rafaela e ambos me deram dois netos, o Daniel e o Samuel, este nascido em Brisbane, Austrália, onde moram. Vanessa não se casou, mas me deu o neto Caetano. Fabiane se casou com o Roberto e desse enlace veio a primeira neta, Isabella, hoje prestes a completar quinze anos.

No ano de 1990, separei-me de minha primeira esposa e cinco anos depois conheci aquela que viria a ser minha companheira de todos os meus passos, Margareth Terezinha Nadolny. Ela tem dois filhos, Loyane e Andrei. Loyane, casou-se com Gustavo, e ambos nos deram o Eduardo. Andrei nos deu uma neta, a Lara, de sua relação com Talita.

Concluído o curso de Direito, deixei a polícia civil e fui trabalhar no escritório de advocacia Dr. Roberto Machado. O Dr. Roberto Machado foi um advogado extraordinário, ético, combativo, competente, qualificado. Ele não só me deu uma grande oportunidade para exercer a advocacia como me ensinou a ser advogado. Lembro-me perfeitamente de suas primeiras lições: “Gilberto, o expediente começa às 8h, mas você deve chegar às 7h para estudar”.  “Gilberto, você terá de ler inicialmente todas as leis secas, começando pelas gerais (CF, LICC, CC, CPC, CP, CPP, Cod. COMERCIAL…) e depois pelas especiais (Lei de locação, alimentos, falência…).  Somente após essas leituras você deverá ler livros de doutrina”. “Gilberto, quando for a uma audiência, você deve ter a consciência de que tem mais conhecimento jurídico do que o juiz, o promotor de justiça e o advogado adversário. Agora, se ali chegar e encontrar um ótimo juiz, um grande promotor de justiça e um brilhante advogado, você terá o dever de conhecer o processo muito mais do que qualquer um deles”. Sou eternamente grato a esse grande homem!

Advoguei por cinco anos e como tivesse o propósito de ser juiz, fiz um curso preparatório, o do Prof. Luiz Carlos, no ano de 1983, aliás, o primeiro da história dessa instituição que, infelizmente, atropelada pelo modernismo, recentemente fechou as portas depois de ter, por tantos anos, contribuído para aprovação de milhares de candidatos nos mais variados ramos do Direito.

No ano de 1984, fui aprovado no concurso da magistratura paranaense. Comecei como juiz substituto em Jacarezinho. Em 1986, assumi minha primeira comarca como titular, São Jerônimo da Serra. Em 1988, fui removido para Ribeirão Claro. Em 1991, fui promovido para União da Vitória e, em 1993, removido para Paranaguá. Em 1995, fui promovido para a Capital, onde atuei nas varas criminais, juizados especiais cíveis e criminais, no projeto Paraná Sentença em Dia e na Corregedoria Geral da Justiça, na gestão do falecido e saudoso Des. Oto Luiz Sponholz, como juiz-auxiliar.

Fui nomeado Diretor da Escola da Magistratura do Paraná e, graças à generosidade de meus colegas, me elegi presidente da Associação dos Magistrados do Paraná.

No biênio de 2008/2009 integrei o Tribunal Regional Eleitoral como juiz-membro da Corte.

Em 2011, assumi o cargo de Juiz de Direito Substituto em segundo grau e no ano de 2013, fui promovido ao cargo de desembargador.

No ano de 2018, fui eleito para exercer a Corregedoria e a Vice-Presidência do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná e neste ano de 2019, estou a exercer a sua presidência.

Fiz dois cursos de especialização em Direito Civil e Direito Processual Civil pelas Universidades PUC e Positivo. Fiz também o mestrado em Direito das Relações Sociais pela Universidade Estadual de Londrina. Lecionei na antiga faculdade de Direito de Jacarezinho, na Faculdade de Economia e Administração de União da Vitória – FACE, nas Escolas da Magistratura Estadual e Federal, no IBJE e no curso do Prof. Luiz Carlos.

Escrevi um livro jurídico, Aplicação da Pena, publicado pela Editora Forense (edição esgotada), além de dois romances, o “Rio nasce na Montanha e segue rumo ao Mar” (publicado pela Edirora Juruá) e o “Começo do Mundo” (não publicado) e um livro de crônicas, “Minhas Histórias”, publicado pela editora independente M. Medeiros (edição esgotada). Tenho, ainda, um quinto livro que, espero, seja publicado em breve, o “Minhas Histórias II”.

Não sou músico, mas andei fazendo algumas músicas, que foram gravadas pelo Guego Favetti. As músicas são as seguintes: Canção para Isabella, com música de Sérgio Veiga (o outro avô dela, tão precocemente falecido), e letra minha e dele, retratando os encantos de nossa neta. Canção para Margareth, com melodia e letra minhas, falando dos predicados dessa minha amada; Canção para a amada, com melodia minha e letra de meu amigo e colega Valmir Graciano, que fala da luta do amante para encontrar a amada; “Nascimento e Vida” e “Viola do meu coração”, ambas, letra e música de minha autoria, a primeira fazendo uma comparação entre o nascer e o envelhecer e a outra sobre a busca de um mundo melhor.

Também não sou trovador, mas faço trovas. Quando pequeno, ainda lá no sítio, ouvia os trovadores do Rio Grande do Sul a cantar, em desafios, suas belas trovas. Depois, em São Jerônimo da Serra conheci o Dr. Adalberto Dutra Rezende, de saudosa memória, um dos maiores trovadores do país. Foi ele quem me iniciou na trova. A trova é uma composição poética composta por quatro versos, cada um com sete sílabas até a última sílaba tônica, rimando, em regra, o primeiro com o terceiro e o segundo com o quarto, e contendo nela uma ideia completa. Tenho feito meus discursos em trovas. Aqui no Paraná, o juiz de direito pode fazer casamentos substituindo o juiz de paz, desde que designado pelo Presidente do Tribunal de Justiça. Assim, fiz muitos casamentos em trovas, creio mesmo que de forma inédita.

Tenho outras duas paixões: o futebol e o truco. No futebol faço meus gols, no truco dou meus facões. Os dois me deram – e vão me dar ainda por muito tempo, espero, – muitas alegrias. Sobre o futebol e o truco – e os amigos que eles me deram – teria muito do que escrever, mas o espaço destinado a este texto não me permite fazê-lo.

Sou muito grato a Deus. Ele me deu tanto… filhos, netos, irmãos, sobrinhos, amigos, trabalho, saúde… Deu-me também uma companheira, Margareth, para dividir as alegrias e tristezas mútuas, a quem, num dia dos namorados, fiz esta trova:

Quando deito do teu lado

E acordo nos braços teus,

Viajo pelo céu estrelado

E chego perto de Deus!

 

 

 

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