Carlos Beal (2016) Administração – São Valentim – Rio Grande do Sul

Nasci em 29 de março de 1959 em São Valentim no Rio Grande do Sul. Venho de uma família católica, cuja história remete a todas as famílias que colonizaram o Rio Grande do Sul, e muitas delas, na década de sessenta, vieram para o oeste do Paraná.

Meu pai, Severino Beal, era comerciante em São Valentim. Em 1965, depois de ter cinco filhos homens, decidiu ir para Cascavel para continuar o trabalho como caixeiro viajante. Trabalhou durante sete anos indo para São Paulo comprar mercadorias, e vendendo em todo o oeste do Paraná.

Em 1972, a minha mãe, Lídia Sarolli Beal, com cinco filhos entrando na “aborrescência” resolveu dar um trabalho para todos. Comprou um pequeno armazém no bairro São Cristóvão e nos iniciou na vida do varejo. Parece que foi ontem, mas já se passaram quarenta e sete anos de uma história com muita humildade, integração, dedicação e família.

Meus pais ensinaram para os cinco filhos princípios e valores cristãos, que considero uma base sólida, fundamental para a nossa evolução como pessoas e como empresários.

Infelizmente, não tenho mais a presença de meu pai, nem da minha mãe, mas os ensinamentos e os exemplos da vida deles estão sempre vivos no nosso dia a dia.

A empresa mantém os cinco irmãos na sociedade. Dois estão sediados em Cascavel, e três em Curitiba.

A vida no varejo foi muito sacrificante, nós tínhamos um pequeno comércio, neste país onde a instabilidade econômica, os planos de governo, a inflação, entre outros, corroem muito a liquidez, nós passamos toda a dificuldade que se possa imaginar, principalmente na década de setenta e oitenta. De setenta e dois até noventa e quatro passaram-se vinte e dois anos de muito trabalho, com muita persistência. Nesses vinte e dois anos, dois irmãos meus se casaram, o Flávio e o Wilson, e tiveram que sair da empresa, pois não tínhamos condições de manter essas duas famílias.

Até que, em noventa e quatro tivemos a oportunidade de alugar um imóvel no centro de Cascavel. Nosso pai nos ensinou que a honestidade, a credibilidade de uma palavra, o famoso “fio do bigode”, a ética, os valores, a coerência, os princípios morais podem valer mais do que dinheiro.

Fato. Essa loja estava à venda em Cascavel e nós não tínhamos dinheiro para comprar, pois tínhamos um pequeno mercado. Um amigo nos falou que o mercado catarinense estava à venda, porém não tínhamos dinheiro nem para fazer uma proposta. Ele marcou uma reunião em Maringá com o Seu Francisco, administrador do mercado e irmão do dono que morava em São Paulo. Eu e o Paulo fomos a Maringá. Seu Francisco fez uma proposta. Era muito dinheiro e não tínhamos a menor condição de aceitar. Restava-nos apenas fazer a nossa contraproposta. O receio de entrega-la era muito grande, afinal, não envolvia dinheiro, envolvia a palavra, o comprometimento e muita vontade de vencer. Entregamos a proposta. Ele pegou o papel na mão olhou, e falou: “Vocês querem comprar meu supermercado em quatro anos? Em quarenta e oito pagamentos?” Eu disse: “Sim! Nosso pai nos ensinou a dar o passo do tamanho da perna.” Então, ele perguntou: “Mas vocês não têm nem um real para dar de entrada? E querem noventa dias para dar a primeira parcela?” Falei: “É isso mesmo, Senhor Francisco”. Nunca me esqueço do que ele falou para nós, foi uma coisa que ficou gravada em nosso coração.” Olha, eu estou vendo o brilho nos olhos de vocês, e vocês vão vencer na vida, eu vou vender pra vocês esse supermercado.”

Somos eternamente gratos pela confiança que ele nos depositou, pois, a vida é feita de oportunidades, mas principalmente de confiança. Você pode não ter dinheiro, mas tendo crédito tem tudo. Dinheiro posso ter hoje, mas posso não ter amanhã. O crédito e os valores você precisa ter a vida toda.

Aí, começou a mudança na história da família Beal. Nossos irmãos, que estavam fora do mercado, foram chamados para nos ajudar nesse novo desafio, e de noventa e quatro pra cá, com muito trabalho, enfrentando muitas dificuldades, muitos planos econômicos, mas principalmente, com muita consciência e valores, pouco a pouco fomos construindo a nossa jornada no comércio.

Em 1992, eu fui eleito a vereador em Cascavel. Política nesse país é coisa séria, eu acho que pela omissão dos bons o que estamos vendo hoje é um boato triste em função do abandono das pessoas sérias de participar, acredito que todo mundo precisa participar. Terminei meu mandato em 1996 e voltei às minhas atividades no varejo.

Até 2003, chegamos a cinco lojas em Cascavel. Houve um tempo em que percebemos que o nosso projeto de vida estava consolidado em Cascavel.

O destino, praticamente da mesma forma que em Cascavel, nos colocou a oportunidade de vir para Curitiba.

Um amigo nosso perguntou se nós queríamos comprar o Festval em Curitiba pois estava à venda. Nós do interior, sem conhecer nada em Curitiba, marcamos uma reunião com o Vanderlei Micheletto e Valdemar Lissoni, que eram os proprietários do Festval. Conversamos com eles e nos fizeram uma proposta. Repetiu-se também o fato de nos terem dito algo que ficou marcado.

Disseram: “o preço é esse e não se muda. Podemos parcelar, mas o valor nós não mexeremos”.

Fomos a Cascavel, e depois de muita conversa, montamos uma proposta que consistia em parcelar o valor durante sessenta meses, com três meses de carência.

Voltamos para Curitiba, apresentamos ao Micheletto e ao Lissoni, eles acharam a proposta coerente e nos venderam a empresa.

Todo o crescimento da família Beal tem bases fortes, que são os valores e princípios. Em ambos os negócios que fizemos, não tínhamos dinheiro, porém, tínhamos algo que nosso pai nos ensinou: crédito. Portanto em 2003, mudamos para Curitiba, eu e o Paulo. Em Cascavel, ficaram o Wilson, o Flávio e o Rubens cuidando da empresa. Vim com a minha família. Sou casado há trinta e seis anos com a Márcia e tenho duas filhas, a Layana e a Carla.

O legado que queremos deixar é que a vida se baseia em um tripé. O primeiro é Deus. Devemos ser tementes a Ele e agradecer todos os dias por nos dar perseverança e saúde para trabalhar. O segundo é a família. É a base de tudo. Nos acolhe quando caímos e nos incentivam a levantar para ir em frente. O terceiro é a empresa, que alimenta os nossos sonhos e nos desafia diariamente.

O que mudou de 1972 para 2019 nesses quarenta e sete anos? A responsabilidade.

Em 1972 ,tínhamos dois colaboradores na empresa, hoje nossa empresa tem mais de três mil. São cinco lojas em Cascavel, onze lojas e um centro de distribuição em Curitiba, onde concentramos o recebimento e expedição dos produtos que comercializamos, produzimos nossos sucos naturais, saladas verdes, saladas de frutas, e em breve pães, sushis, sashimis, entre outros.

Nossas principais diretrizes são a valorização e a qualificação dos colaboradores. Hoje ,o maior patrimônio do Festval em Curitiba e do Beal em Cascavel é o capital humano. Dar a oportunidade para que todos tenham e realizem seus sonhos e de suas famílias, crescendo junto conosco, é nosso maior objetivo. É um prazer.

Temos vários projetos para Curitiba e Cascavel, sempre contando com o apoio do cliente, pois consideramos o cliente o verdadeiro dono do Festval e do Beal.

A mensagem que queremos deixar é trabalhar com humildade, cuidar da família e ter muita perseverança. Esta é a fórmula que há quarenta e sete anos mantém os irmãos unidos, trabalhando cada um na sua função, deixando o legado para nossos filhos que já estão começando a entrar na empresa, sempre com muito profissionalismo e dedicação.

Nessa jornada chamada vida, que passa tão rápido, Deus nos dá talentos que devemos usar, pois um dia, seremos cobrados por isso.

O que queremos é que nossa empresa possa continuar crescendo, com valores, princípios e qualidade. Temos que resgatar as boas atitudes e a crença nesse país. Eu sou um eterno sonhador, acho o Brasil um país maravilhoso e acredito nesse lugar. Temos que deixar a palavra crise de lado e trabalhar mais, pois com trabalho superamos as dificuldades e vencermos obstáculos. Eu como, empresário, agradeço a família por estar sempre comigo, aos amigos, aos colaboradores, e aos clientes que sempre nos prestigiam, e nos estimulam continuar esse desafio.

Comments 1

  1. Parabéns…eu nunca tive essa coragem, me sinto rídícula, tenho medo de tudo…de assalto, violência e muito mais e com isso ñ consigo incentivar minhas filhas a montar algum negócio próprio pois dinheiro ñ tenho e o pouco q tenho fico com medo de perder indo à falência. Já ñ tenho saúde e idade para recomeçar…infelizmente. novamente tenho q aplaudir e desejar q continuem fazendo sucesso nos negócios. Obs ..tem produtos muito caros…poderiam abaixar um pouquinho.

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