Nasci em 29 de março de 1959 em São Valentim no Rio Grande do Sul. Venho de uma família católica, cuja história remete a todas as famílias que colonizaram o Rio Grande do Sul, e muitas delas, na década de sessenta, vieram para o oeste do Paraná.
Meu pai, Severino Beal, era comerciante em São Valentim. Em 1965, depois de ter cinco filhos homens, decidiu ir para Cascavel para continuar o trabalho como caixeiro viajante. Trabalhou durante sete anos indo para São Paulo comprar mercadorias, e vendendo em todo o oeste do Paraná.
Em 1972, a minha mãe, Lídia Sarolli Beal, com cinco filhos entrando na “aborrescência” resolveu dar um trabalho para todos. Comprou um pequeno armazém no bairro São Cristóvão e nos iniciou na vida do varejo. Parece que foi ontem, mas já se passaram quarenta e sete anos de uma história com muita humildade, integração, dedicação e família.
Meus pais ensinaram para os cinco filhos princípios e valores cristãos, que considero uma base sólida, fundamental para a nossa evolução como pessoas e como empresários.
Infelizmente, não tenho mais a presença de meu pai, nem da minha mãe, mas os ensinamentos e os exemplos da vida deles estão sempre vivos no nosso dia a dia.
A empresa mantém os cinco irmãos na sociedade. Dois estão sediados em Cascavel, e três em Curitiba.
A vida no varejo foi muito sacrificante, nós tínhamos um pequeno comércio, neste país onde a instabilidade econômica, os planos de governo, a inflação, entre outros, corroem muito a liquidez, nós passamos toda a dificuldade que se possa imaginar, principalmente na década de setenta e oitenta. De setenta e dois até noventa e quatro passaram-se vinte e dois anos de muito trabalho, com muita persistência. Nesses vinte e dois anos, dois irmãos meus se casaram, o Flávio e o Wilson, e tiveram que sair da empresa, pois não tínhamos condições de manter essas duas famílias.
Até que, em noventa e quatro tivemos a oportunidade de alugar um imóvel no centro de Cascavel. Nosso pai nos ensinou que a honestidade, a credibilidade de uma palavra, o famoso “fio do bigode”, a ética, os valores, a coerência, os princípios morais podem valer mais do que dinheiro.
Fato. Essa loja estava à venda em Cascavel e nós não tínhamos dinheiro para comprar, pois tínhamos um pequeno mercado. Um amigo nos falou que o mercado catarinense estava à venda, porém não tínhamos dinheiro nem para fazer uma proposta. Ele marcou uma reunião em Maringá com o Seu Francisco, administrador do mercado e irmão do dono que morava em São Paulo. Eu e o Paulo fomos a Maringá. Seu Francisco fez uma proposta. Era muito dinheiro e não tínhamos a menor condição de aceitar. Restava-nos apenas fazer a nossa contraproposta. O receio de entrega-la era muito grande, afinal, não envolvia dinheiro, envolvia a palavra, o comprometimento e muita vontade de vencer. Entregamos a proposta. Ele pegou o papel na mão olhou, e falou: “Vocês querem comprar meu supermercado em quatro anos? Em quarenta e oito pagamentos?” Eu disse: “Sim! Nosso pai nos ensinou a dar o passo do tamanho da perna.” Então, ele perguntou: “Mas vocês não têm nem um real para dar de entrada? E querem noventa dias para dar a primeira parcela?” Falei: “É isso mesmo, Senhor Francisco”. Nunca me esqueço do que ele falou para nós, foi uma coisa que ficou gravada em nosso coração.” Olha, eu estou vendo o brilho nos olhos de vocês, e vocês vão vencer na vida, eu vou vender pra vocês esse supermercado.”
Somos eternamente gratos pela confiança que ele nos depositou, pois, a vida é feita de oportunidades, mas principalmente de confiança. Você pode não ter dinheiro, mas tendo crédito tem tudo. Dinheiro posso ter hoje, mas posso não ter amanhã. O crédito e os valores você precisa ter a vida toda.
Aí, começou a mudança na história da família Beal. Nossos irmãos, que estavam fora do mercado, foram chamados para nos ajudar nesse novo desafio, e de noventa e quatro pra cá, com muito trabalho, enfrentando muitas dificuldades, muitos planos econômicos, mas principalmente, com muita consciência e valores, pouco a pouco fomos construindo a nossa jornada no comércio.
Em 1992, eu fui eleito a vereador em Cascavel. Política nesse país é coisa séria, eu acho que pela omissão dos bons o que estamos vendo hoje é um boato triste em função do abandono das pessoas sérias de participar, acredito que todo mundo precisa participar. Terminei meu mandato em 1996 e voltei às minhas atividades no varejo.
Até 2003, chegamos a cinco lojas em Cascavel. Houve um tempo em que percebemos que o nosso projeto de vida estava consolidado em Cascavel.
O destino, praticamente da mesma forma que em Cascavel, nos colocou a oportunidade de vir para Curitiba.
Um amigo nosso perguntou se nós queríamos comprar o Festval em Curitiba pois estava à venda. Nós do interior, sem conhecer nada em Curitiba, marcamos uma reunião com o Vanderlei Micheletto e Valdemar Lissoni, que eram os proprietários do Festval. Conversamos com eles e nos fizeram uma proposta. Repetiu-se também o fato de nos terem dito algo que ficou marcado.
Disseram: “o preço é esse e não se muda. Podemos parcelar, mas o valor nós não mexeremos”.
Fomos a Cascavel, e depois de muita conversa, montamos uma proposta que consistia em parcelar o valor durante sessenta meses, com três meses de carência.
Voltamos para Curitiba, apresentamos ao Micheletto e ao Lissoni, eles acharam a proposta coerente e nos venderam a empresa.
Todo o crescimento da família Beal tem bases fortes, que são os valores e princípios. Em ambos os negócios que fizemos, não tínhamos dinheiro, porém, tínhamos algo que nosso pai nos ensinou: crédito. Portanto em 2003, mudamos para Curitiba, eu e o Paulo. Em Cascavel, ficaram o Wilson, o Flávio e o Rubens cuidando da empresa. Vim com a minha família. Sou casado há trinta e seis anos com a Márcia e tenho duas filhas, a Layana e a Carla.
O legado que queremos deixar é que a vida se baseia em um tripé. O primeiro é Deus. Devemos ser tementes a Ele e agradecer todos os dias por nos dar perseverança e saúde para trabalhar. O segundo é a família. É a base de tudo. Nos acolhe quando caímos e nos incentivam a levantar para ir em frente. O terceiro é a empresa, que alimenta os nossos sonhos e nos desafia diariamente.
O que mudou de 1972 para 2019 nesses quarenta e sete anos? A responsabilidade.
Em 1972 ,tínhamos dois colaboradores na empresa, hoje nossa empresa tem mais de três mil. São cinco lojas em Cascavel, onze lojas e um centro de distribuição em Curitiba, onde concentramos o recebimento e expedição dos produtos que comercializamos, produzimos nossos sucos naturais, saladas verdes, saladas de frutas, e em breve pães, sushis, sashimis, entre outros.
Nossas principais diretrizes são a valorização e a qualificação dos colaboradores. Hoje ,o maior patrimônio do Festval em Curitiba e do Beal em Cascavel é o capital humano. Dar a oportunidade para que todos tenham e realizem seus sonhos e de suas famílias, crescendo junto conosco, é nosso maior objetivo. É um prazer.
Temos vários projetos para Curitiba e Cascavel, sempre contando com o apoio do cliente, pois consideramos o cliente o verdadeiro dono do Festval e do Beal.
A mensagem que queremos deixar é trabalhar com humildade, cuidar da família e ter muita perseverança. Esta é a fórmula que há quarenta e sete anos mantém os irmãos unidos, trabalhando cada um na sua função, deixando o legado para nossos filhos que já estão começando a entrar na empresa, sempre com muito profissionalismo e dedicação.
Nessa jornada chamada vida, que passa tão rápido, Deus nos dá talentos que devemos usar, pois um dia, seremos cobrados por isso.
O que queremos é que nossa empresa possa continuar crescendo, com valores, princípios e qualidade. Temos que resgatar as boas atitudes e a crença nesse país. Eu sou um eterno sonhador, acho o Brasil um país maravilhoso e acredito nesse lugar. Temos que deixar a palavra crise de lado e trabalhar mais, pois com trabalho superamos as dificuldades e vencermos obstáculos. Eu como, empresário, agradeço a família por estar sempre comigo, aos amigos, aos colaboradores, e aos clientes que sempre nos prestigiam, e nos estimulam continuar esse desafio.
Comments 2
Parabéns…eu nunca tive essa coragem, me sinto rídícula, tenho medo de tudo…de assalto, violência e muito mais e com isso ñ consigo incentivar minhas filhas a montar algum negócio próprio pois dinheiro ñ tenho e o pouco q tenho fico com medo de perder indo à falência. Já ñ tenho saúde e idade para recomeçar…infelizmente. novamente tenho q aplaudir e desejar q continuem fazendo sucesso nos negócios. Obs ..tem produtos muito caros…poderiam abaixar um pouquinho.
Parabéns,Bela,estou orgulhoso do seu feito,me identifico muito com vc na minha vida, vc deve se lembrar do meu período de gerente de vendas do Lembrasul e posteriormente da pequena rede de supermercados Flatel que montamos,tenho ótimas lembranças do período que nos relacionamos,parabéns.