Nasci em Guarapuava, no terceiro planalto de Curitiba, ficamos lá até os meus dois anos de idade, quando fomos morar em Ponta Grossa por um período e, então, viemos para Curitiba.
Meu pai chama-se José Borba Filho, descendente de portugueses, meus avós paternos são o José Borba e a Messias de França Borba. Meu pai nasceu em Irati e uma grande parte da família é nascida aqui. Meu tio Parailio, descobri, recentemente, que nasceu em Guarapuava, assim como eu. Ele foi deputado Federal, Deputado Estadual e suplente de Senador. A minha mãe, Paulina Borba, antes Paulina Stocco Folador, de origem puramente italiana. Meus avós, por parte de mãe, Cirilo Folador e Teresa Stocco Folador vieram da Itália entre 1885-1886, pararam na baía de São Francisco e, mais tarde, vieram para o Paraná, onde se estabeleceram em São José dos Pinhais. Infelizmente, eles morreram muito cedo.
Tenho duas irmãs: a mais velha, que é a Marília e uma mais nova, que é a Silvana. Tenho dois filhos: a Heloise e o Guilherme. Os dois moram em São Paulo. A Heloise foi para São Paulo estudar Marketing e Publicidade e lá ficou. O Guilherme se formou em Administração na PUC e depois também foi morar em São Paulo.
Eu continuei aqui em Curitiba, onde fiz todo meu trajeto, minha vida, minha formação. Sou do tempo da escola pública e estudei no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Ali, me formei no primário e, então, fui para o Colégio Sagrado Coração de Jesus, onde fiz o que, na época, era chamado ginásio, e o segundo grau.
A minha adolescência foi muito tranquila, eu era muito focada nos estudos. Mas, uma boa lembrança que tenho, dessa época, é da casa na praia em Guaratuba.
A minha família é tradicional de professoras. Antigamente, todas as famílias queriam que suas filhas fossem professoras. Então, minhas irmãs, primas e tias são professoras; assim, eu também me formei professora normalista pelo Instituto de Educação do Paraná. Cumprida a meta da família de ser professora, fui fazer o curso preparatório no Bardahl para fazer o vestibular de Medicina, pois queria ser médica. Não passei no primeiro ano, pois não tínhamos as matérias que eram as do vestibular; não tinha física, química, zoologia, química orgânica, química mineral. Mas, no ano seguinte, garanti a vaga na Universidade Federal. Comigo fizeram vestibular o José Carlos Gasparin e o Lauro João Lobo. Eu e o José Gasparin, somos amigos desde a adolescência, fizemos cursinho juntos e o Curso de Medicina. E no curso, também foram nossos colegas Dr. Lauro Lobo, o Dr. Alceni Guerra, Dra. Marister Malvezzi, Antônio Augusto Cavalieri, um grupo grande de amigos que se formou, naquela turma de 1972, e mantém essa amizade até hoje, 47 anos depois.
Na época que entrei para a faculdade de Medicina, eu era de fazer concursos. Havia feito concurso para a vaga de professora primária e junto com a entrada na faculdade saiu a nomeação de professora. Assim, tive uma experiência única, fui professora no Instituto Paranaense de Cegos, na Visconde de Guarapuava durante os 6 anos do curso de Medicina. Éramos quatro estudantes de Medicina todos professores e tínhamos indisponibilidade de cumprir o horário padrão de classe, pois trabalhávamos no Instituto com os internos, auxiliando nas aulas, nas lições. Eu, a minha colega Iara Guimarães, com quem fiz a escola Normal, o cursinho e a faculdade.Lembrança muito boa essa! Lá, podíamos trabalhar à noite, sábado e domingo para poder completar a carga horária.
No momento que decidi fazer ginecologia e obstetrícia, prestei concurso para residência médica do Hospital de Clínicas. Ali, entrei como residente no departamento de tocoginecologia.
Em seguida, comecei como voluntária no Edifício do INAMPS. Fui ali substituir um colega que entrou de férias e foi o passo inicial para minha carreira de médica no INAMPS. Por muitos anos trabalhei ali como ginecologista.
Quando entrei na Medicina, nós éramos 16 mulheres e 150 homens. Poucas meninas e muitos rapazes. Então, quando fiquei no INAMPS, era muito procurada, pois haviam poucas mulheres ginecologistas; tinha a Dra. Antonieta Azevedo, Dra. Helen Anne Butler, mas eram poucas. Então, comecei lá sendo muito procurada. Ali, também cheguei ao cargo de diretora dos Postos do INAMPS. Haviam vários postos do INAMPS, um na Vila Hauer que era fantástico, de uma organização incrível, onde fui diretora por três anos.
Terminada minha residência, me tornei plantonista do Hospital de Clínicas onde permaneci vários anos. Quando ia nascer minha menina, pedi demissão do Hospital de Clínicas e fiquei só no INAMPS e no meu consultório particular.
Sempre tive um apoio muito grande dos meus pais e, quando meus filhos estavam maiores, eles foram morar comigo. Nós tínhamos uma casa bem confortável e grande. Meu ex-marido foi um pai muito bom, um excelente genro, mas as coisas acontecem; ele se afastou de nós e hoje tem sua vida.
Voltei então, como médica para o Hospital de Clínicas e me tornei professora; carreira na qual estou até hoje. E atualmente sou chefe do Departamento de Tocoginecologia da Universidade Federal do Paraná.
Na minha vida também estive na Associação das Mulheres Médicas. Quando estava saindo da residência médica, as doutoras Alice Nogueira Lima e Dra. Antonieta Azevedo me convidaram para fazer parte desta Associação que já estava criada há uns dez anos. Elas, mais, Dra. Iracema Passos, que faleceu recentemente aos 97 anos, Dra. Elisa Checchia de Noronha, Eni Pioli Bassetti e várias outras médicas faziam parte dessa Associação e me convidaram pra participar. De lá, fui diretora da Regional do Paraná e por muitos anos também, diretora nacional. Por essa associação viájamos por todo o Brasil e fundamos associações em Santa Catarina e no Amazonas.
Essa associação foi criada porque naquela época eram poucas mulheres, médicas, professoras ou não, tivessem oportunidade de falar sobre suas pesquisas, seus trabalhos. Fazíamos eventos que eram abertos para o público em geral, onde as mulheres apresentavam seus trabalhos, suas pesquisas. Também desenvolvíamos alguns trabalhos filantrópicos.
Hoje, temos também o trabalho do Rotary Clube de Curitiba, a Dra. Virgínia Merlin, Dra. Chang Yen Li, Dra. Evalda Vanrose Stalke, Vilma Brunetti e a Dra. Cláudia,nossa diretora, que desenvolvem um trabalho muito grande com o programa “Mamãe, Eu Quero Mamar”, estimulando o aleitamento materno, fazendo orientações sobre o pré-natal e cuidados com o recém-nascido. A Associação continua viva com esse objetivo de levar informações às comunidades carentes.
Eu fazia parte também da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Paraná, hoje chamada de SOGIPA. Trabalhei por anos e fui presidente dessa associação por dois mandatos, a primeira mulher presidente aqui no Paraná. Depois vieram outras mulheres presidentes também, a Dra. Claudete Regiani e a Dra. Vera Bozza.
Mais tarde, fiz parte também da Federação Brasileira das Sociedades Ginecologia e Obstetrícia – a FEBRASGO. Participei de muitos congressos e a minha especialidade ficou muito voltada às mulheres no climatério, às primeiras pesquisas que começamos sobre reposição hormonal e ao risco de câncer. Eu fiz uma pesquisa muito grande e foi minha tese de mestrado: o uso da TRH nas pacientes na menopausa e no climatério.
Daí, fui para o Conselho Regional de Medicina; como conselheira, como secretária, como presidente da comissão de qualificação profissional onde avaliava todos os dados do profissional quando solicitava o título de especialista pelo CRM. Fiquei ali por cinco anos, e é muito importante na vida do médico passar por esse Conselho. Foi uma experiência única, excelente, de onde mantenho ótimos amigos até hoje.
Fui também para a UNIMED, essa cooperativa médica importantíssima aqui em Curitiba. Hoje, estamos em quase cinco mil médicos que fazem parte da UNIMED e fui diretora por 2 mandatos, totalizando dez anos lá. Primeiro, com o Dr. Marco Aurélio Cravo. Na comissão dele, fiz parte da Comissão de Ética e também no atendimento aos médicos e na gestão do Dr. Robertson D’Angnoluzzo, um pediatra meu amigo, junto com o Dr. Sérgio Ioshii, Dr. Ricardo Moreira, Dr. Mario Eduardo Rebolho, eu era o lado feminino. Fui secretária e também da comissão de atendimento aos médicos cooperados. Hoje, ainda participo da UNIMED como médica ginecologista e obstetra cooperada.
Durante cinco anos, de 2011 a 2015, fui diretora da maternidade Victor Ferreira do Amaral.
Nasceram muitas crianças comigo. Em 47 anos de formada, fiz muitos partos. Um amigo meu já disse “foram milhares, faça o cálculo, 47 anos fazendo crianças nascerem”. E, talvez, sejam milhares mesmo, nasceram inúmeras. Algumas já estão assim: ela nasceu comigo, seu filho também, então já sou obstreta avó.
E me perguntam se eu sou avó, não sou por opção dos meus filhos. Eles não quiseram ter filhos e hoje a gente deixa isso livre. São pessoas amáveis, ambos casados, que adoram crianças, adoram animais mas, não quiseram ter filhos e o tempo passou. Mas, dos filhos das minhas irmãs, alguns nasceram comigo e seus netos também.Sou tia avó, e curto muito com eles e eles curtem comigo.
No dia a dia, eu leio bastante; era hábito do meu pai, um leitor assíduo, capaz de dar um parecer sobre qualquer assunto. Tenho em casa uma biblioteca imensa! Fico feliz em ver na televisão programas, filmes, novelas cujos personagens, como o ator Antonio Fagundes, prestigiando e estimulando a leitura. Meu pai incentivava muito a leitura, eu leio muito, a minha filha lê muito também. Eu acho isso muito bom, nos ajudou muito.
Eu gosto de fazer atividade física, faço Pilates e graças a isso, cheguei a Jerusalém e consegui fazer toda a caminhada por lá. Gosto de caminhar também, sempre que posso. Moro numa casa relativamente grande, vou ao jardim, subo e desço o tempo todo. De manhã, tenho minhas atividades no Hospital de Clínicas e à tarde no consultório. Iniciei trabalhando também no Hospital Santa Brígida, um mérito muito grande da Dra. Elisa Checchia de Noronha, que tinha uma visão lá na frente, adiantada. Trabalhei muitos anos também, no Nossa Senhora de Fátima, com todas as irmãs, atenciosas, amorosas onde trabalho até hoje. Dois excelentes hospitais.
Hoje, trabalho como médica mais diretamente na Maternidade Curitiba, uma maternidade de excelência e muito próxima da minha casa o que facilita chamadas de emergência. E também trabalho no Hospital Santa Cruz.
Meu tio Parailio, o irmão dele, meu padrinho, Altino e meu pai José, sempre foram atlheticanos. Uma família de atlheticanos. Sempre moramos ali, perto da Baixada, na esquina da Getúlio Vargas com a Coronel Dulcídio. Meu tio Caju, a Majestade do Arco, sempre foi um orgulho pra nós, uma pessoa boníssima. Sempre moramos todos por ali.,. Mesmo depois quando casei, fui morar um pouquinho mais pra cima, na Francisco Negrão, mas ainda morava muito perto da casa da tia Glaci, esposa do tio Caju, cujo filhos também jogaram no Atlhético. Meus filhos são atlheticanos roxos! Botamos faixas e bandeiras do time na casa, quando o Atlhético joga.
Por outro lado, tenho que falar e os meus primos vão ficar tristes. O Renato Folador pai, ex-Secretário de Agricultura do Governo Pimentel, o Renato, meu primo, foi jogador do Coxa, assim como o Renatinho, também jogou no Coxa. Então, temos esse lado da família que é Coxa. Mas, somos uma família muito unida, aquela família de descendentes de Italianos, em que todo mundo fala junto, ao mesmo tempo, até parece que estão brigando. Tinha a tia Luisa, que falava que só ela podia falar mal da família, se alguém de fora viesse falar mal, fazia um “perequete” danado!
Eu sou de formação católica, praticante, dizem que sou amiga dos padres. Frequento três igrejas. Agora, quando cheguei de Jerusalém, fui na Igreja de Santa Terezinha, onde tem o Padre Pedro, agradecer pela viagem a Jerusalém; que fui muito bem sucedida, muito agradável e muito profunda Depois que você volta mudam alguns posicionamentos. Então, fui lá, onde me casei e meu filho também. Fui agradecer à Santa Teresinha e também na Igreja Santuário do Sagrado Coração de Jesus, próximo do Cemitério do Água Verde, onde tem o Padre Maurício, e ainda, na Capela da Imaculada Conceição, que é um encanto, onde tem o Padre Otávio que é médico e formado por nós, no Hospital de Clínicas. Então, agradeci a todos eles pela viagem.
Em Jerusalém, eu pedi por mim, pela minha família e pelos meus pacientes. Quando eu rezo, sempre peço pelas minhas mãos, pela minha mente e o meu coração. E é isso o que procuro transmitir aos meus alunos da Universidade Federal do Paraná, que são excelentes alunos. Mas, a Medicina está ficando muito fria; tem bons médicos, com muito conhecimento, mas se afastam do paciente e se aproximam somente da tecnologia. Vêem, não o paciente, mas sim, a doença. Hoje, se o paciente diz que tem um desconforto, o médico vai olhar aquele ponto, não vai, em nenhum momento, ver a pressão desse paciente, auscultar o coração, examinar. São bons médicos, mas a relação médico-paciente está cada vez mais distante. Por isso, digo a eles, vocês precisam ver o paciente como um todo. Peçam sempre a Deus que ilumine as suas mãos, a sua mente e o seu coração e com certeza serão bons profissionais.