Nasci em Paranaguá no dia 23 de dezembro de 1942. Por que Paranaguá? Porque minha mãe era de uma família dali e meu pai, paulista de Tietê, tinha ido para lá para cuidar dos negócios do Grupo Canet, voltados para as exportações de café. Conheceu minha mãe, casaram-se e construíram suas vidas envolvidos, principalmente meu pai, com as atividades sociais e políticas da cidade. Lá passei a minha infância, fiz as primeiras amizades, que cultivo até hoje, e estudei na Escola Normal até o terceiro ano primário. No quarto ano, não sei por que razões, talvez em busca de um ensino mais aprimorado, meu pai me mandou para o Rio de Janeiro, para estudar interno no Colégio São Bento.
Meu pai se chamava João Ferraz de Campos e minha mãe, Edy Pereira Ferraz de Campos. Fui para o Rio de Janeiro em 1953, com dez anos de idade, para um colégio fantástico, de origem beneditina, mas não me acostumei. Fiquei um ano e voltei, já não para Paranaguá, mas para Curitiba, para continuar os estudos no Internato Paranaense, onde fiquei dois anos como interno e depois como semi-interno.
Ainda passei pelo Colégio Estadual do Paraná, Bom Jesus e Iguaçu até ingressar no Curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Concluí o curso cinco anos depois, mas, nesse período, minha vida começou a tomar outros rumos. Meu pai era muito ligado ao Banco Comercial do Paraná que tinha, em seu grupo, a Companhia Comercial de Seguros Gerais. Surgiu, então, eu na casa dos vinte anos e no início dos estudos universitários, a oportunidade de trabalhar. Era o meu primeiro emprego e como diretor de uma corretora de seguros, chamada COSEPA – Corretores de Seguros do Paraná S/A. Depois passei para a Companhia Comercial de Seguros Gerais, que cresceu, comprou uma companhia de seguros no Rio de Janeiro chamada Nova América, outra em Joinville, a União do Comércio e Indústria e assim começou a minha trajetória no mercado de seguros.
Tempos depois a Companhia Comercial de Seguros Gerais foi vendida para o grupo Bamerindus e eu fui junto. Comecei como diretor de área na seguradora e terminei como presidente do Conselho de Administração, tendo sido, também, presidente executivo. Em vista de tudo isso, quando me formei em Direito já não segui a profissão de advogado. Meus interesses estavam todos voltados para o setor de seguros. Fiquei na companhia de seguros do Bamerindus até a intervenção decretada pelo Banco Central no Banco, não na seguradora, que era um dos principais ativos do Grupo.
Paralelamente às minhas atividades no mercado de seguros, ainda no início dos anos setenta, circunstâncias fortuitas abriram novas perspectivas na minha vida. Eu fazia parte de um movimento católico chamado Cursilhos da Cristandade e, em função dessas atividades, me aproximei muito do professor Guilherme Lacerda Braga Sobrinho, uma figura fantástica. Coincidentemente, nessa época, houve uma inesperada mudança no Governo do Paraná. O professor Parigot de Souza, que era o governador, faleceu e a Assembleia Legislativa elegeu o deputado federal Emilio Gomes para sucedê-lo. O novo governador convidou o professor Guilherme, que era o coordenador geral da Comissão Arquidiocesana para o Apostolado Leigo e eu era seu vice. Certo dia, enquanto escolhiam nomes para ocupar os cargos, ele me perguntou se eu não estaria disposto a participar do novo governo, e me convidaram para ser o superintendente da Fundação Educacional do Paraná – FUNDEPAR, por sinal, um órgão excepcional. Na época, dispunha de todos os dados da educação no Estado, financiava projetos de cultura, de esporte. Tinha sido fundada no primeiro governo Ney Braga, no início dos anos 1960, e desempenhava muito bem as suas funções. Esse foi meu ingresso na vida pública.
Em sucessão a Emílio Gomes, no ano de 1975, Jayme Canet Júnior foi indicado para ser o governador e me convidou para ser secretário de Administração, cargo que ocupei por três anos e meio. Aí, já com um pouco de experiência política, fui eleito, em 1978, deputado estadual com uma das maiores votações. Exerci o mandato e, cumulativamente, voltei para as minhas funções como diretor do Bamerindus. Nessa época, o doutor Tancredo Neves fundou o Partido Popular e Jayme Canet Junior, que era a sua principal liderança no Paraná, atraiu um bom número de políticos para a legenda, inclusive eu, que havia sido eleito pela Arena, ainda no bipartidarismo. Mas o PP não teve vida longa. Ele foi incorporado pelo MDB, que passou a se chamar PMDB. Nas eleições de 1982 para o Governo do Paraná ficou combinado que a ala do antigo MDB indicaria o candidato a governador e a do PP, o vice. Foi lançada, então, a chapa do PMDB, vitoriosa naquele ano, com José Richa para governador e eu para vice.
No início do Governo, Richa, talvez levando em conta a minha experiência na área de seguros que de certa forma está associada ao sistema financeiro, pediu-me para presidir o Banco de Desenvolvimento do Paraná – BADEP, que estava numa situação difícil. A princípio estranhei porque nunca um vice-governador havia acumulado outro cargo na história do Paraná e havia dúvidas se isso não contrariaria algum dispositivo legal. Estudamos o caso, consultamos especialistas e o deputado Anibal Khury, com sua incrível habilidade e disposição para encontrar soluções, propôs uma lei aprovada na Assembleia Legislativa permitindo que o vice-governador assumisse qualquer outro cargo na esfera do Executivo estadual sem prejuízo de suas funções.
Fui presidente efetivo do BADEP por mais de um ano, até o governador Richa me convidar para assumir a Secretaria de Finanças onde fiquei por cerca de dois anos, até o dia em que ele se desincompatibilizou para disputar uma cadeira no Senado e eu assumi o seu lugar. Fui governador do Paraná por dez meses, um período excepcional por uma série de fatores e, principalmente, porque o Governo Federal do Presidente Sarney lançou o Plano Cruzado, que funcionou muito bem nos primeiros tempos, justamente a época em que eu governava. Estávamos praticamente em pleno emprego e com moeda estável. O Governo do Estado tinha recursos e nenhuma obra iniciada no período do Richa foi paralisada. O meu governo era a continuidade do governo do Richa e ainda conseguimos executar novas obras e projetos.
Depois o Plano Cruzado não deu certo, mas eu já não estava mais no Governo, tinha voltado para o Bamerindus. Logo que voltei, o presidente do Banco, José Eduardo de Andrade Vieira, mais tarde senador, me convidou para assumir a presidência executiva da Bamerindus Seguros, a terceira maior companhia do País no setor. Passei três ou quatro anos nessa função depois fui designado para um Conselho do Banco, representando a área de seguros. O presidente era o Dr. Maurício Schulman, um nome de muito prestígio, que havia sido secretário de Finanças do Paraná, presidente da Eletrobras, do Banco Nacional de Habitação, e quando ele não comparecia às reuniões eu assumia o seu lugar, como se fosse um vice-presidente. Tudo caminhava dentro da normalidade quando, oportunidades inesperadas mudam, de novo, os rumos da minha vida. Uma vez, o professor Guilherme Lacerda Braga outra o senador José Eduardo de Andrade Vieira, uma outra ainda, o governador Jayme Canet Júnior e dessa vez, o Mário Petrelli, que trabalhava na área de seguros.
Estávamos numa reunião do setor em Florianópolis, eu como presidente da Bamerindus e presidentes de outras companhias, como Bradesco, quando ele me perguntou por que eu não me candidatava a presidente da Federação Nacional de Seguros – FENASEG. Nunca havia pensado nessa hipótese e nem frequentava a Federação. Quem representava a Bamerindus naquela entidade era o Hamilcar Pizzatto, presidente do Conselho de Administração. Na hora, não reagi com entusiasmo. Não me animava muito a ideia, se eleito, de sair do Paraná para trabalhar no Rio de Janeiro onde fica a sede da FENASEG. Em todo caso, decidi conversar com o José Eduardo, presidente do Grupo Bamerindus, sobre essa possibilidade. Lembro que ele praticamente nem discutiu a questão e só me fez uma pergunta: “Você ganha essa eleição em que votam todas as seguradoras?” Disse que havia avaliado a situação com o Mário Petrelli, que o presidente do Bradesco estava disposto a me ajudar e que nós achávamos que havia chance, sim. Fui eleito seis vezes consecutivas e fiquei dezoito anos como presidente, primeiro da Fenaseg e depois da CNseg – Confederação Nacional de Seguros.
Nesse período, aconteceram transformações importantes no mercado de seguros. Quando assumi, estava, há muitas décadas estacionado num faturamento equivalente a um por cento do PIB e hoje representa cerca de seis por cento.
Na minha vida pública, fui, também, presidente do PFL do Paraná. Estava no Bamerindus e na Fenaseg e o deputado Anibal Khury, sempre muito enfronhado na política me convocou para assumir o diretório do Paraná. O PFL aqui passava por uma crise e ele achava que eu conseguiria unir os vários grupos dentro do Partido. Aceitei para ficar um ano e fiquei quatro ou cinco porque o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen, prorrogou os mandatos dos dirigentes. Esse foi meu último cargo político. Não me arrependo de ter dedicado um tempo à vida pública. Fiz muitos amigos e conheci, entre outras, duas grandes figuras, os governadores Jayme Canet Junior e José Richa com os quais tive a oportunidade de trabalhar e estabelecer relações muito próximas.
Quando saí da Confederação das Seguradoras, em 2010, o Bamerindus não mais existia e passei a me dedicar aos negócios particulares. Criei com outros empresários, a Empresa Paranaense de Participações e tenho interesses em sociedade com vários amigos em diversos setores. Hoje me sinto como se já estivesse pendurando as chuteiras. Não estou diretamente à frente de nenhuma empresa, mas participo de todas como presidente do Conselho de Administração. Continuo sendo um segurador, com uma companhia aqui no Paraná.
Casei-me bem moço – tinha 23 anos – com uma moça da família Leão de Macedo – Tina Ferraz de Campos – com quem tive duas filhas, Ana Carolina e Ana Paula. Depois me separei e me casei com uma jornalista do Rio de Janeiro, Regina Martelli, minha atual esposa.
Meus avós, por parte de mãe, eram de uma grande e tradicional família de Paranaguá, os Pereira Alves. Por parte de pai, meus avós vieram da Espanha nos anos 1890 e foram morar em Tietê, interior de São Paulo. Vieram com dois filhos, uma, minha avó e outro, pai do ex-governador Jayme Canet Júnior. Quando os avós, morreram, Canet, já radicado no Paraná, mandou buscar o pai dele e meu pai, seu primo, veio junto. Meu pai se formou em Direito em Curitiba. Minhas filhas não têm filhos e me auxiliam nos negócios.
Tenho uma obra assistencial, o instituto que leva o nome do meu pai – João Ferraz de Campos – e funciona há onze anos em Pinhais. Por que em Pinhais? Porque em Pinhais eu tenho uma empresa na área de entretenimento, a Expotrade, que atua no aluguel de espaços para eventos, espetáculos, ou seja, está inserida na comunidade do município. Atendemos, hoje cerca de noventa crianças e o financiamento é feito com recursos próprios sem nenhum centavo dos governos federal ou estadual.
Também sou presidente do Conselho do Centro de Educação João Paulo II, em Piraquara, criado pelo professor Belmiro Valverde Jobim Castor, um exemplo notável de obra de caridade. Com o seu falecimento, sua esposa, Elisabeth, me convidou para presidir o Conselho e eu ajudo na medida do possível, não tanto quanto merece e eu gostaria de ajudar. Faço as reuniões aqui no meu escritório e procuro ajudar a Elisabeth a administrar essa belíssima obra que o Belmiro deixou.
Em resumo, a minha vida é mais ou menos isso. Tive muitas oportunidades, pelas mãos de amigos ou, talvez possa dizer, pelas mãos de Deus e acho que as aproveitei. Não tinha obsessão por cargos, posições ou para atingir determinado objetivo. Tudo aconteceu mais ou menos naturalmente. Tenho um grande círculo de amizade. Que prezo muito. Hoje moro no Rio de Janeiro, mas todos os meus negócios estão aqui no Paraná. Isso me faz vir para cá com muita frequência, até porque aqui moram as minhas filhas, minha irmã, meu irmão, meus laços afetivos. Aqui é meu domicílio eleitoral, meu domicílio fiscal e onde ainda tenho o que se pode dizer de algum interesse político.
Faço parte do Instituto Democracia e Liberdade – IDL, que tem o amigo Edson Ramon na presidência e eu na presidência do Conselho.
No futebol, torço para o Club Athletico Paranaense, do qual fui presidente do Conselho quando era presidente do clube Anibal Khury.
Em religião sou católico, apostólico romano e participava bastante da vida da Igreja aqui no Paraná. Quando entrei na política me afastei um pouco da atividade religiosa porque eu entendia que poderia haver algum mal-entendido, como se eu estivesse me aproveitando da religião para ter vantagens eleitorais. Hoje, estou novamente muito ligado à Igreja. Tive a oportunidade de conhecer pessoalmente os papas João Paulo II e Bento XVI, com quem tenho uma fotografia.
Apesar de não mais morar em Paranaguá, desde a infância, todos os anos, vou à festa de Nossa Senhora do Rocio, padroeira do Parana e cuja principal paróquia está lá, no bairro do Rocio, por sinal, onde acharam a imagem de Nossa Senhora. A festa é em novembro e eu sempre convido alguns amigos e lotamos um ou dois ônibus para participar da novena, que vai do dia seis ao dia quinze. Tenho 76 anos e, claro, até pela idade, muita coisa para contar da minha vida como empresário, como político, como religioso e como torcedor de futebol. São boas lembranças, inestimáveis para mim, de fatos e acontecimentos que, em geral, me deram grande satisfação e muito mais me aproximaram de pessoas do que me afastaram.