Arquiteto, casado, nascido em Minas Gerais, quarto filho de uma família de sete irmãos: Jessy, Jairo, Jonatas, eu, Josias, Junia e Judite.
O meu nome já informa que o nome de meu pai é Joel Ramalho e minha mãe chamava-se Judith Oliveira Ramalho, ambos pertencentes a famílias grandes, comum naquela época. Meus avós tanto paternos como maternos tinham atividades agrícolas em municípios pequenos; meu pai do Estado do Rio de Janeiro e minha mãe de Minas Gerais.
Meu pai, o mais velho de dez irmãos, foi o único que resolveu continuar seus estudos além do Primário, única escola disponível na pequena Paulo de Frontin e foi fazer o curso ginasial, depois o científico e depois engenharia em Juiz de Fora MG.
O velho Joel era uma pessoa visionária, muito à frente do seu tempo e trabalhando para manter seus estudos tornou-se, sem dúvida, um homem que contribuiu enormemente para o crescimento do país.
Até quase o final da década de 1930, o Brasil não produzia quase nada na área de metalurgia e era muito dependente de importação de veículos, motores, perfis, geladeiras, máquinas etc.
Não havia nenhum curso de metalurgia no país. Meu pai se antecipando ao problema começou a estudar a questão. Ele era formado em Engenharia Civil e Eletrotécnica e recorreu a livros em Inglês e principalmente alemão. Este é um detalhe interessante; meu pai lia, entendia, se correspondia em Alemão, mas não falava uma palavra desta difícil língua.
Meu pai era professor da engenharia e do Colégio Gramberi em Juiz de Fora e já com quatro filhos percebeu que o salário de professor era insuficiente. Buscando novas oportunidades, mudou-se para São Paulo indo trabalhar na fábrica de elevadores Atlas. Eu estava com quatro anos de idade.
Era uma indústria que importava motores, perfis, sistemas de controle e montava seus produtos. Quando da segunda Guerra Mundial, ficamos, de repente, sem importação e tivemos que produzir. Meu pai foi a peça chave para montar a Aços Villares, que não só atendeu a indústria de elevadores como se tornou muito maior que ela fabricando motores e perfis.
O prestígio do meu pai era tão grande que passávamos duas semanas de nossas férias na casa de praia dos Villares em frente ao mar, com barcos e toda mordomia.
A imagem que tenho do meu pai é de alguém que sabia tudo, mas que todos os dias ao chegar do trabalho sentava-se em sua poltrona e punha-se a ler e estudar. Quando criança eu pensava que todos os pais eram assim e só muito mais tarde fui descobrir que ele era tão genial. Há algum tempo eu consultei o Google para ver o que tinha a meu respeito; é surpreendente como em poucos segundos aparece tudo que foi publicado. Resolvi então consultar sem o Junior e apareceu uma foto do meu pai. Fiquei espantado porque ele não é do tempo do computador e verifiquei que se tratava de uma foto do cinquentenário da fundação da COSIPA. A principal siderúrgica de São Paulo. Soube depois que ele participou também da fundação da CSN Companhia Siderúrgica Nacional. Auxiliou também a montar projetos de outras siderúrgicas menores, mas dentro do seu jeito de ser, buscando muito mais contribuir do que ganhar dinheiro.
Dele aprendemos que o conhecimento que a educação nos dá não são apenas privilégios, mas também deveres, responsabilidade e compromisso de retribuir para a coletividade.
Nasci em Minas Gerais, na fazenda de meus avós maternos e morávamos em Juiz de Fora, MG. Nos meus quatro anos, a família mudou para São Paulo, onde meus pais tiveram ainda mais três filhos e onde estudei primário, científico e Universidade.
Me formei em arquitetura no Mackenzie. Vale a pena falar alguma coisa desta profissão.
Não tenho dúvidas ao afirmar que, no meu tempo de universitário, o arquiteto era o profissional brasileiro com maior repercussão internacional. Tínhamos no Rio de Janeiro nomes como Oscar Niemeyer, Lucio Costa, irmãos M.M.Roberto, Afonso Reidy; em São Paulo tínhamos Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha, Eduardo Kneese de Mello, Pedro Paulo Saraiva, Rino Levi, Oswaldo Bratke e tantos outros que colocaram a arquitetura brasileira num elevado patamar.
O Mackenzie e a FAU da Universidade de São Paulo, eram as duas escolas de arquitetura na época e estavam muito próximas uma da outra, o que proporcionava uma certa convivência.
O interessante é que o ensino de arquitetura nas duas escolas seguiu caminhos diferentes: O Mackenzie, dirigido por Cristiano S. das Neves, buscava ensinar que arquitetura deveria ser Clássica ou Neoclássica e a FAU buscava ensinar que a arquitetura tinha que ser Contemporânea ou Moderna.
Assim que me formei fui convidado a trabalhar com Eduardo Kneese de Mello, um Ícone da Moderna Arquitetura Paulista e foi fantástico. Além de grande arquiteto, Eduardo era uma figura excepcional. Fundador do Departamento do IAB em São Paulo, foi seu presidente nas duas primeiras gestões e organizou a construção do Prédio do IAB, onde se concentraram muitos dos arquitetos importantes da cidade.
Eduardo possuía o escritório no último andar do IAB e o restaurante do IAB no segundo andar era o ponto de convivência entre os profissionais.
Almoçávamos quase diariamente com os mais atuantes arquitetos da cidade. Esta convivência com esse grupo era muito interessante e proporcionou grandes momentos e muito aprendizado.
Formei-me em fins de 1959 e Brasília foi inaugurada em abril de 1960. O principal acontecimento de Arquitetura e Urbanismo Mundial da época. Tive oportunidade de estar presente com uma inesquecível e instrutiva viagem de Kombi na companhia de Vilanova Artigas (principal professor da FAU) e outros quatro importantes arquitetos de São Paulo.
Durante minha vida estudantil pratiquei muito esporte. Obtive destaque em Voleibol, onde o nosso time, em São Paulo, foi por seis vezes Campeão Paulista na década de 50 e o primeiro Campeão Brasileiro de Clubes do Brasil. Convocado para Seleção Brasileira, participei de dois sul-americanos (no Uruguai e Brasil) de um Pan-americano (em Chicago USA), dois torneios Mundiais em Paris, Universidade na Itália e Jogos Luso-Brasileiros em Portugal.
Em 1967, recebi um convite de Luiz Forte Neto para vir trabalhar no IPPUC em Curitiba e me mudei, nesta altura já casado com Neusa Maria Camargo Ramalho; com uma filha e outro a caminho.
Minha filha mais velha, Regina nasceu em São Paulo e mudou para Curitiba com menos de um ano; formada em Educação Física é hoje uma professora e empresária na Educação. Renato nasceu em São Paulo, mas já morávamos em Curitiba e veio com seis dias; formou-se em Administração e Marketing nos Estados Unidos e hoje é empresário com Academias de Natação e Educação Física além de acumular a presidência do Clube Curitibano. Roberta a terceira formou-se em Veterinária e depois em Direito e empresária, possui um hotel para cães e gatos (PETSPA). Rodrigo formou-se em Administração e administra uma empresa da família de Drywall, paredes, forros e moradias. Além desses quatro filhos do primeiro casamento, tivemos mais um eu e Leni Machado Teixeira Ramalho, minha atual esposa também arquiteta. Thomaz é o quinto, formado em Arquitetura, com Mestrado em Veneza está atualmente morando na África em Nairóbi (Quênia) trabalhando como arquiteto da ONU. Todos me orgulham muito e já me concederam o privilégio de cinco netos; Iasmin e Martina, filhas de Regina; Lourenço e Francisco filhos do Renato e Jonas da Roberta.
Meus filhos fizeram muito esporte, principalmente natação. As paredes de casa sempre estiveram cheias de medalhas (mais de mil) e viajaram muito com isso. Renato se destacou e foi a duas olimpíadas, representando o Brasil em Seul e Barcelona. Rodrigo a cada momento está saindo do país para correr uma absurda Maratona: 8 km de natação, 70 km de bicicleta e 42 km correndo. O esporte que me fez conhecer minha primeira esposa além de uma atividade social importante nos garante um bom retorno na área da saúde.
A Arquitetura é uma profissão que nos proporciona grandes momentos. Tive sempre muita sorte com meus companheiros de escritório. Com Eduardo Kneese de Mello, aprendi a gostar de Concursos. Ele que era já um arquiteto consagrado, dizia que o Concurso é uma renovação do Escritório porque não apenas precisamos solucionar bem o problema, mas é também necessário ir além; oferecer uma solução criativa que supere e encante mais que os centenas de concorrentes e mesmo que a resposta não seja o primeiro lugar, vale a pena. Obtivemos inúmeras premiações com Eduardo.
Meu escritório de Curitiba com Leonardo Oba, Guilherme Zamoner contando com uma dezena de estagiários, estudantes de arquitetura, foi a fase mais profícua de minha vida profissional. Participamos de todos os concursos que pudemos e obtivemos muitas premiações. Algumas obras executadas como BNDES no Rio de Janeiro, Centro de Convenções em Pernambuco e Edifício Tancredo Neves em Curitiba são parte do conjunto de 27 premiações que nos colocaram na posição do Escritório mais premiado do Brasil até aquela época.
Em função do conjunto de nossos projetos recebemos ainda premiações altamente valorizadas. Durante a comemoração do Cinquentenário do IAB PARANÁ recebi uma placa de “Arquiteto Destaque dos Cinquenta Anos” e durante o Congresso Nacional do IAB em Recife a “Medalha de Ouro Oscar Niemeyer” prêmio máximo do IAB Nacional.
Vale a pena lembrar a emoção e a surpresa que tive quando ao me virar para voltar ao meu lugar na plateia, meus filhos seguravam uma faixa que dizia “PAI VOCÊ É O NOSSO MEDALHA DE OURO PARA A VIDA” e ao caminhar para meu lugar minha esposa Leni me recebeu de pé com um inesquecível beijo. Ao sair do salão um arquiteto pernambucano me cumprimentou “meus parabéns pela a sua premiação e pela sua família”
A vida é feita de oportunidades, buscas, realizações, mas o grande tempero são as emoções.
Para responder sua pergunta inicial quero parafrasear Roberto Carlos e dizer:
Este cara sou eu!