Sou nascido em Curitiba, filho de pai e mãe também curitibanos. Nasci em 1932, na casa de meu avô materno Max Rosenman, que era na Praça Tiradentes. Naquela época, as mães quando iam ter criança, iam para a casa de seus pais para terem o bebê com o apoio da sua mãe, e, claro, com uma parteira.
A família, radicada em Curitiba, era muito grande, tanto do lado de meu pai Bernardino quanto da minha mãe Regina. Brinco que tive quatro vidas consecutivas.
Minha primeira vida foi do dia em que eu nasci até os vinte e nove anos. Uma vida de um menino que tinha pais com situação financeira estável. Meu pai fazia comércio, fazia negócios. Era muito ativo. Abriu uma fazenda de café, na região de Paranavaí, mas em uma geada perdeu todo cafezal e teve que vendê-la. Era tão grande que aparecia em mapas do Paraná como “Fazenda Regina”.
Estudei o primário na Escola Americana,anexa ao colégio Belmiro César com um padrão de ensino muito bom. Estudei lá 12 anos, cinco anos de primário, quatro de ginásio e três de científico. Com menos de 18 anos, fui fazer vestibular. Passei para engenharia civil da UFPR. Cursei engenharia, fui bom aluno.
Formado, comecei a trabalhar convidado pelo Prof. Parigot de Souza, na COPEL, recém-criada. Sou o funcionário 0019 da COPEL. Fiz uma carreira inteira na COPEL, até meus 29 anos. Fiz bolsa de estudos na França em assuntos ligados à energia elétrica.
Minha segunda vida começou e durou 20 anos, quando, surpreendentemente, Ney Braga foi eleito governador do Estado, numa eleição em que o candidato, mais forte, Souza Naves, morreu de um enfarto fulminante. Ney nomeou o Parigot de Souza para a presidência da COPEL, que me convidou para ser diretor. Fui cinco anos diretor da COPEL, acumulando também, como diretor do Departamento de Água e Energia Elétrica que cuidava de serviços isolados de energia elétrica no Paraná. Eu acumulava a diretoria da Copel e do Departamento de Água e Energia com objetivo de transferir os serviços do governo do Estado do Departamento de Água e Energia Elétrica para a COPEL.
Ney Braga criou uma empresa de desenvolvimento, primeiro com a CODEPAR, depois virou BADEP. As pessoas que vieram organizar a empresa não tinham escritório e eu cedi espaço no Departamento de Águas e Energia. Como eu era palpiteiro, acabei virando o primeiro diretor dessa companhia, da qual Afonso Camargo foi o presidente. Fiquei nessa empresa, na sua formação, acumulando a diretoria da COPEL e do Departamento de Águas e Energia Elétrica.
Dois anos depois, fui ao Rio representar o Paraná na posse do presidente da Eletrobrás, Dr. Mario Pena Bhering, ex-presidente da CEMIG e que já me conhecia bem, como diretor da COPEL. Quando eu o cumprimentei, ele me disse:- Espera aí, eu quero falar com você! Esperei, e ele, após falar com o Presidente da República, disse:- Você vai ser diretor da Eletrobrás.! Eu que não estava interessado, estava muito bem no Paraná, família lá. Retrucou, que também não queria ser presidente, mas precisou aceitar. Você vai ser diretor de uma diretoria que criamos para você, chamada Diretoria de Gestão Empresarial e vai ficar responsável pelas subsidiárias da Eletrobrás!
A Eletrobrás tinha acabado de comprar duas empresas americanas, a American Fouren Power (AMFORP) que tinha a Força e Luz do Paraná como uma de suas subsidiárias. Voltei para Curitiba, Paulo Pimentel, era o governador, que manteve a diretoria da COPEL, Dr. Parigot presidente e eu diretor.
Fui para o Rio para ser diretor da Eletrobrás, onde fiquei três anos e meio. Decidi não mudar com minha família para o Rio, continuando a morar em Curitiba. Tinha filhos pequenos e achei que um cargo federal era sempre duvidoso. Jamais deixei de passar um final de semana longe de minha família.
Quando o Presidente Geisel assumiu a Presidência da República, fui chamado pelo Ministro de Minas e Energia que ele nomeou, Maurício Rangel Reis, meu velho conhecido, ele me convocou para assumir a presidência do Banco Nacional da Habitação BNH, que era uma empresa muito poderosa e com mais dinheiro que existia no Brasil, na época. Tudo isso funcionou muito bem. O BNH tinha direito a uma vaga no Conselho Monetário que ocupei nos cinco anos desse governo.
O Presidente da República, General Geisel, já me conhecia de Curitiba, quando ele serviu aqui. Um dia eu perguntei a ele:- Presidente, me diga, o senhor me conhecia, sabe da minha vida, que sempre fui ligado a energia elétrica, por que que eu virei presidente do BNH? Eu não tinha nenhuma ligação nem com a construção civil? Geisel: “Por isso mesmo, precisava de alguém que não tivesse nenhum compromisso com essas entidades que sempre tinham algumas coisas menos lineares na sua história!”.
Quando terminou o governo Geisel, fui surpreendido de novo e fui convidado no governo Figueiredo para ser presidente da Eletrobrás onde eu já tinha sido diretor sete anos antes. Voltando um pouco para trás, entre a minha Diretoria da Eletrobrás e presidência do BNH, teve uma crise política no Paraná. Dr. Parigot tinha sido eleito Vice-Governador. O Governador renunciou e o Doutor Parigot assumiu o Governo do Estado e me convocou para ser Secretário de Fazenda. Eu saí da Diretoria da Eletrobrás e vim ser o Secretário de Fazenda no Paraná, onde fiquei três anos e meio. Dr. Parigot já estava doente nessa ocasião, acabou piorando, como ele tinha muita confiança em mim, eu acabava tendo a responsabilidade de distribuir os recursos do governo do Paraná.
O Governo do Estado tinha bastante disponibilidade nesta época, porque o governo federal, para valorizar o café que era o principal produto do Paraná na época, representava quase 40% da arrecadação. O Ministro Delfin Neto resolveu tirar o café de circulação e comprou a safra antecipadamente, o que deu muito dinheiro para Fazenda, mas as coisas eram tocadas com muita seriedade pela orientação básica do professor Parigot. Dr. Parigot veio a falecer, infelizmente. Eu ia voltar para o meu cargo de diretor da Eletrobrás, que estava aberto me esperando.
Emílio Gomes, que era deputado federal, foi eleito governador pela Assembleia e queria que eu continuasse Secretário de Fazenda, com ele governador. Fiquei então até o fim do meu mandato.
Fui então, já tinha contado um pouco antes, eleito Presidente da Eletrobrás onde assumi e foi uma época conturbada. A inflação começou a subir, os juros internacionais subiram muito, a rentabilidade das empresas públicas do Brasil caiu por causa do juro alto. Foi uma época difícil e eu, como presidente da Eletrobrás, decidi que não podia fazer obras nem financiar projetos sem que tivesse dinheiro, cujo custo fosse compatível com a tarifa que aqueles serviços iam poder cobrar. Desentendi-me com o ministro de Minas e Energia, fui ao Presidente da República e pedi para que ele me liberasse, porque eu não ia fazer o que o ministro mandava e não ia financiar projetos com dinheiro caro, que ia gerar uma tarifa muito alta e que não ia poder ser paga pela população. Tinha que ser exclusivamente em projetos que eram autossuficientes.
Saí da presidência da Eletrobrás e quando cheguei em Curitiba, tinha um recado do Banco Bamerindus, aqui no Paraná. Então, terminou minha segunda vida, no serviço público por 20 anos de eleito diretor da Copel até sair da presidência da Eletrobrás. 20 anos inteiros, sendo governo, todos os dias, sempre fui nomeado para o seguinte, antes de sair do que estava.
O presidente do Banco Bamerindus do Brasil, que me conhecia muito bem, Edson Vieira, pediu para conversar com ele e fui conversar. Tive várias propostas de trabalho, mas não resisti ao convite dele para cuidar no Bamerindus da área de Crédito Imobiliário e Poupança, pela minha experiência que tinha acumulado na presidência do BNH.
No dia seguinte, começou minha terceira vida, já trabalhando como diretor da Empresa de Crédito Imobiliário que era muito próspera, tinha captação do Paraná e Santa Catarina, uma atividade muito intensa. Comprou algumas empresas de poupança para aumentar seu portfólio. Como eu conhecia todas as pessoas, acabei conversando com a nova diretoria do BNH, com as empresas de crédito imobiliário, virei diretor da Associação Brasileira de Crédito Imobiliário e Poupança e participava de tudo, porque era o ramo que eu tinha atuado no passado.
Menos de um ano depois, em um acidente de avião, faleceu o Edson Vieira, assumiu a presidência do Banco Bamerindus José Eduardo Vieira que, naquela ocasião, estava morando nos Estados Unidos e me pediu que ficasse na Presidência do Crédito Imobiliário e Poupança. José Eduardo fez grandes mudanças no Bamerindus. Virei diretor financeiro do grupo e passei a representá-lo perante o governo federal.
Anos depois José Eduardo se candidatou ao Senado e me nomeou presidente do grupo Bamerindus. O grupo cresceu muito e se tornou um dos maiores do país. Como Presidente do Bamerindus, tive grande participação nas atividades financeiras do Brasil.
Fui a todas as reuniões do FMI, reuniões dos Bancos por todo mundo. Presidi a Federação de Bancos do Brasil – FEBRABAN. Fui diretor da “filial” do Bamerindus em Hong Kong e em Luxemburgo. Veio então um período de muita turbulência na economia, inflação alta, mudanças de regras, perda de liquidez e o governo decidiu intervir em vários Bancos, inclusive no Bamerindus, e acabou por decretar sua liquidação.
Como todos os diretores, fiquei com meus bens indisponíveis, sem emprego e sem fonte de renda. Assim acabou a minha terceira vida.
E começou minha quarta vida, que dura até hoje. Quando voltei para Curitiba, fui convidado por Otorino Marini, que tinha sido diretor do Bamerindus e estava aposentado e participava de um escritório de negócios, junto com Roberto Caiado, que me convidou para participar do escritório. Passei a trabalhar como consultor, que é dar palpite na vida dos outros e os aconselhar no que fazer.
Tivemos muito sucesso e ajudamos muitas empresas a encontrar caminhos para os seus negócios, a reorganizar e reprogramar suas dívidas, a vender parte de seus ativos e a encontrar outras formas de resolver seus problemas. Infelizmente Marini faleceu há alguns anos, mas eu continuo no escritório com Roberto Caiado, até hoje. O número de clientes era muito grande, mas foram acabando e hoje tem bem poucos.
Vou contar um pouco de minha vida familiar. Sou casado há mais de 60 anos com Martha, que é minha companheira em tudo que eu fiz. É empreendedora, já foi criadora em fábrica de roupa feminina. Teve sua própria confecção, com 20 funcionários, mas com a abertura do mercado brasileiro, decidiu fechar por não poder competir com os importados da China. Tem grande atividade social e comunitária. Temos dois filhos: Renato, engenheiro ex-funcionário do Bamerindus em São Paulo, depois em Nova York, e depois em Londres. Passou para um Banco de Negócios, mudou para São Paulo e hoje é diretor deste Banco em Nova York. Sua mulher Cristina é diretora de outro Banco em Nova York. Eles têm duas filhas, a Paula e Júlia que também moram nos Estados Unidos.
Minha filha Cila é comunicadora e jornalista. Foi Secretária de Comunicação no governo do Jaime Lerner e mora em São Paulo há mais de 20 anos, onde trabalha com comunicação. Tem um filho, Felipe que acabou de se formar em Business, nos Estados Unidos e está voltando para o Brasil. Somos todos muitos ligados e apesar da distância, nos comunicamos com muita frequência.
Assim continua minha quarta vida. Espero que ainda por um bom tempo.