Nasci em Ponta Grossa, no dia 24 de agosto de 1925. Tenho muito orgulho de ter sido produto do casamento de Jordão da Silva, natural de Campos Novos/SC, tendo seus pais origem portuguesa, com Florentina Garcia, natural de Ponta Grossa e seus pais de origem francesa e espanhola.
O pai Jordão veio, aos 17 anos, de Santa Catarina, junto com tropeiros que traziam gado para Ponta Grossa, onde fez uma linda história, sempre lembrada e que deixou orgulhosos seus familiares. Foi fazendeiro, conhecido pela laçada de 28 metros e pelo dom para curar animais. A mãe Flora, costurava e administrava a casa e a família composta por 13 filhos, fruto de duas núpcias do pai, oito com a primeira esposa Maria José Ribas (Nhá Zefa): – Maria da Conceição (Sinhazinha), Domingos, Nestor, Cesar, Claudio, Pureza, José Bonifácio (Juca) e Vital, e cinco com a segunda esposa Florentina Garcia (Flora): – Jordão Filho (Eddy), eu, Aninha, Ana Ruth e Regina Helena, todos residiam na cidade de Ponta Grossa/Pr.
Aos 13 anos, para contribuir com a renda familiar, dei início à vida laborativa, com dedicação em tempo integral. A primeira experiência foi na quitanda do Sr. José, na Praça Barão do Rio Branco/PG, lá cuidava da estufa de bananas, organizava os demais produtos disponibilizados à venda, inclusive com o engarrafamento de aguardente e atendia os fregueses no balcão. O dono da “Venda” viajava frequentemente para Morretes/Pr para comprar produtos e comercializar em Ponta Grossa, como demonstrei disciplina e organização, fiquei responsável por tudo e contribui para transformar o pequeno negócio num estabelecimento de maior porte.
Com 14 anos, minha mãe, com zelo e energia que lhe eram próprios, orientou-me a mudar de ramo de trabalho, o que acatei prontamente, ainda que contrariado. Me candidatei para trabalhar nas Lojas Pernambucanas, onde logo obtive o registro em carteira. Aprendi muito na área de vendas com o gerente Sr. Rubens Pereira de Souza. Inicialmente, realizava serviços gerais, varria, limpava, lavava vidros, logo passei a auxiliar de embalagem, auxiliar de gerência, ora conferia as mercadorias nas prateleiras do estoque, ora embalava os tecidos, fazia pacotes e por último como vendedor.
Já na maioridade, por incentivo do meu pai e do irmão Domingos, abri Firma com o irmão Jordão. Iniciei na função de viajante no interior do Estado do Paraná, vendendo armarinhos e mais tarde tecidos.
A firma Silva & Cia foi composta por três lojas em Ponta Grossa, – “Casa dos Tecidos”, uma em Telêmaco Borba, com o mesmo nome e três lojas em Curitiba, – “Tecidolândia”.
Em 1945, casei-me com Elssi klimeck, pianista. Tivemos três filhos: Marcio, Lucia Helena e Odete. Foram sete anos de uma feliz união até o prematuro falecimento de Elssi, em 1952.
Fui apresentado a vizinha Marilia Baêta de Simas, professora de História e Geografia, sendo bastante incentivado pela minha mãe Flora que, com sua sabedoria percebeu ser ela a mulher com capacidade, dedicação e profundo amor, requisitos essenciais para criar meus três filhos, lembrando que o mais velho tinha 8 para 9 anos.
Casei-me com Marilia, em 1955, deste matrimonio nasceram 8 filhos: Marinez, Rita de Cassia, José Maria (falecido), Cid, Ulisses, Carmen Flora, Gil e Carlos Eduardo. Foram 55 anos de uma convivência alicerçada em princípios religiosos, na qual o amor e o respeito estavam presentes em nossas ações e ensinamentos. Marilia faleceu em 2010.
Minha vida profissional foi marcada por muita luta, e, tal como meu pai, também fui um desbravador. Trabalhei na Capital e em muitas cidades no interior do Paraná quando as dificuldades de locomoção nas “picadas” ou nas estradas eram precárias, difíceis e perigosas.
Atravessei rios, fiz algumas “previsões”, era conhecido como homem honesto e íntegro. Uma característica que me acompanhou pela vida toda.
Certa vez em Foz do Iguaçu, Sr. Candido Ferreira me chamou de “Profeta”, pois fiz uma previsão que se concretizou (pura sorte!).
O compadre Agenor, amigo de muitas aventuras, sempre contava sobre como atravessei a ponte sob o Rio Piquiri, próximo a Cascavel/Pr, com mais de 25m de altura, que estava condenada e aos pedaços. Dizia que somente um homem com muita coragem enfrentaria aquela situação. Eu falava em alto e bom tom “É Deus que me orienta e me guia”. É verdade, Deus sabia que eu tinha uma meta a cumprir e para alcançá-la necessitava chegar antes dos vendedores mais antigos. Como estas, outras tantas histórias fizeram parte de minha jornada.
Foram quase 40 anos vendendo tecidos. Lembro que no final de 1972, numa noite fria, Marilia e eu reunimos os sete filhos que ainda moravam conosco, três filhos já haviam casado, para expor sobre o encerramento das atividades da firma Silva & Cia, pois esta situação traria alguns desdobramentos. O terreno da casa onde a família residia tinha um espaço de lazer ao lado da casa, constituído por um parquinho com balanças, gangorras, escorregador, um campo gramado para jogo de futebol, o canil e a lavanderia, sendo assim achamos por bem consultarmos as crianças (a mais velha estava com 15 anos) se elas se importariam em abrir mão daquela área para a construção de um Estacionamento, já que era de suma importância a abertura de uma nova frente de trabalho que propiciasse uma renda familiar condizente com as despesas da família. No instante que colocamos o assunto todos entenderam e foram unânimes com a concordância da proposta. Logo em seguida, iniciaram as obras do novo empreendimento.
Estou consciente de que esta vivência foi muito positiva, repleta de aprendizado para a vida de todos.
A família residiu em Ponta Grossa até janeiro de 1973, quando devido as opções da educação formal, mudou para Curitiba.
De empresário de sucesso, um homem já na meia idade, me vi começando novamente, vendendo batatas, livros, equipamento de massagem o “Ativa – pé” … e graças a Deus venci os obstáculos e não deixei a família perecer. Todos colaboraram de alguma forma.
Desde sempre procurei ensinar e demonstrar aos filhos otimismo, nunca me deixei abater pois, algumas vezes, precisei iniciar novas atividades em ramos completamente diferentes. Cansaço e desânimo não fizeram parte das minhas atitudes, cito que a “paciência” é uma das melhores qualidades do ser humano. Desistir jamais.
A vida sempre foi de trabalho, lutas e conquistas, pautada no bem-estar de todos, aliado a inúmeros momentos felizes e comemorações. As reuniões festivas com mesa farta sempre foram uma característica desta grande família, unida, alegre e acolhedora.
Passamos também por momentos dolorosos; a perda de entes queridos, do filho José Maria aos 15 anos, nosso “anjinho da guarda”, de parentes e amigos. Mas, como homem de fé, aceitei a vontade de Deus, sereno, pois sei que esta vida é só uma passagem.
Procuro sempre me manter atualizado sobre os diversos aspectos: familiares, sociais, políticos, esportivos, para estar apto a discutir, emitir minha opinião, ouvir, apoiar, aconselhar quando necessário. Percebo que minha família e amigos me ouvem e respeitam, comentam que estes ensinamentos são ricos e devem ser considerados, pois só os anos trazem.
Hoje, me considero um inveterado contador de histórias, belas e inesquecíveis, fatos vividos por um homem que prima pela união da família, pela harmonia, pelo amor, respeito e pelos princípios religiosos.
Minha trajetória de vida está pautada no exemplo, onde a importância da convivência em família é cotidianamente expressada e vivida, com amor, carinho, respeito a Deus e ao próximo.
Casei-me com pessoas que completaram meu viver. Minha intenção é deixar à minha família a herança que não poderá ser perdida, ou usurpada, qual seja, a boa educação social e formal, além dos princípios da moralidade e do trabalho íntegro e honesto.
É oportuno e imprescindível agradecer ao convite que me proporcionou fazer parte do projeto Memórias Paraná, no qual já contei em vídeo sobre a vida do pai Jordão e a minha própria, e agora deixo aqui registrado aos meus descendentes, aos parentes e amigos, fatos importantes da minha história de vida familiar, social e profissional.
Em agosto de 2019 completarei 94 anos em plena forma: rejuvenescido, saudável, forte, alegre e bem sucedido, pois tenho fé em Deus e nos Anjos da Guarda; construí uma linda família com onze filhos, vinte e dois netos, quinze bisnetos e contando também parentes e uma gama de amigos sinceros, presentes que Deus me deu e os conservo porque entendo que aí está o segredo para uma vida longa e feliz.