Sou natural de Ponta Grossa, onde nasci no dia 4 de julho de 1939. Meu pai era Adelino Machado de Oliveira e minha mãe, Maria Montes de Oliveira. Fiquei em Ponta Grossa o menor tempo da minha vida, porque de 1951 até 1954 estive no internato para fazer o ginásio.
Depois, fiquei novamente três anos em Ponta Grossa, para fazer a escola de contabilidade, e finalmente me mudei para Paranaguá, em 1959, onde fiquei até 1963. Cheguei a Curitiba em dezembro de 1963 e aqui estou até hoje.
Meu pai foi o primeiro contador registrado em Ponta Grossa. E, durante muitos anos, foi diretor de uma indústria que fabricava madeira e celulose. Ele também foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Ponta Grossa. Além disso, por muitos meses, intercaladamente, foi prefeito interino de Ponta Grossa.
Meus pais tiveram 14 filhos, e dos seis homens, quatro foram estudar contabilidade e das oito mulheres, algumas também fizeram. Mas a profissão de contador apenas eu realmente segui. Iniciei em Paranaguá em 1963, e essa foi a minha atividade durante dez anos.
A primeira vez que trabalhei, foi em Ponta Grossa, na S/A Zacarias, onde fui auxiliar de escritório, controlador de estoque e correspondente. Depois, saí para fazer o serviço militar, passei o ano todo na tropa e, quando voltei, continuei a minha atividade de contador.
Eu trabalhei também em Paranaguá, no interior de Guarapuava e comecei em Curitiba em 1964. Era uma empresa que hoje está desativada, mas naquele tempo era conhecida. Chamava-se Politec, Politécnica Comercial. Lá estive como contador e como chefe de escritório. Logo em seguida, fui convidado para trabalhar na Carlos Hoepcke S.A, de Santa Catarina, uma empresa industrial e comercial, onde estive primeiramente como controlador e auditor; depois, passei a gerente da filial de Curitiba.
Desenhava-se para mim, portanto, uma carreira nesse campo de administração de empresas, e eu já tinha dez anos de atividade. Recebi, então, um convite do Escritório Augusto Prolik para uma reunião, quando me foi dito que “o escritório está precisando de um contador”. Eu me lembro até hoje da expressão usada pelo advogado que me falou “um contador do seu calibre”. Acho que ele quis dizer um contador experiente.
Eu estranhei, porque o Escritório Augusto Prolik é de advocacia, era assim conhecido. Aí soube que as empresas que eram assistidas pelo escritório tinham contadores, uma centena pelo menos. Mas porque eu, dentre essa centena? E porque que o escritório precisava de contador? Era para fazer a contabilidade do escritório? Não, era justamente para fazer a ponte entre o Escritório Augusto Prolik e os clientes e seus contadores. Isso foi em 1967.
O começo foi difícil, cheio de dúvidas e preocupações, porque eu já tinha uma carreira bem desenhada no campo administrativo. Lançar-se em uma nova empreitada, ainda desconhecida?… Mas acreditei e arrisquei.
Devo dizer o quanto devo à minha família, à minha esposa, Doralice Zanetti de Oliveira. Naquele momento, com dois filhos, o estímulo foi total.
Em março de 1968, a Universidade Federal do Paraná inaugurou um curso noturno de Direito. Esse curso era para 90 alunos, foi anunciado em janeiro, e o vestibular era em março. Então, foi uma luta terrível. Eu trabalhando, dois filhos, e já profissional integrado e recém-iniciado no Escritório Augusto Prolik.
Realmente foi difícil, foi uma luta enorme, mas consegui. Cinco anos de faculdade, no curso noturno de Direito. De manhã cedo, levava os filhos para a escola, ia para o escritório, ao final da tarde buscava os filhos na escola e depois, à noite, ia para o curso de Direito, até às 23 horas. Foram anos bastante difíceis, e ao final do curso eu já tinha quatro filhos.
Contador muito experiente, administrador já também com bastante experiência. Assim, receber na faculdade de Direito as teorias do Direito e aplicá-las no escritório onde atuava, foi um casamento perfeito.
O Escritório Augusto Prolik é um local de pessoas sérias, éticas, competentes, onde eu recebi o maior apoio, a maior consideração. Vou completar 50 anos de casa, por qual razão? Porque foi realmente uma casa que me recebeu e, hoje, sem vaidade, sem orgulho, mas olhando para a realidade, dos 70 anos do escritório, eu passei 2/3 da minha vida lá.
Estive no Conselho de Contribuintes de Recursos Fiscais do Paraná durante quatro anos, como vogal. Na Ordem dos Advogados do Brasil, eu estive de 2001 até 2006. Estive no Tribunal de Ética e Disciplina, inclusive fui presidente de uma turma do Conselho. E, logo depois, fui eleito conselheiro estadual da OAB, onde fiquei por dois anos. No Instituto de Direito Tributário do Paraná, fui membro do conselho, que existe desde 1968.
Eu fiz o meu curso primário no Grupo Senador Correia, em Ponta Grossa, durante quatro anos. Em termos de escolaridade, ali foi realmente o começo de tudo. Terminado o primário, meus pais, procurando a continuidade, souberam que havia um colégio recém-iniciado em Irati, o Colégio São Vicente de Paulo, e lá fui interno por quatro anos. Foi uma excelente formação.
Em Ponta Grossa, eu fiz um curso de contabilidade, também noturno, quando eu já trabalhava. Em Paranaguá, fui procurador da Companhia Sul Brasil de Armazéns Gerais e contador.
Naquele tempo, o jornal “O Estado do Paraná” tinha enorme penetração no Interior. Em uma das vezes que vim a Curitiba, coloquei um anúncio no jornal: “Contador, atualmente no Interior do Estado, se oferece para trabalhar em Curitiba”. Dei o endereço da caixa de correio e recebi três cartas. E acabei vindo para Curitiba.
A Doralice, minha esposa, é uma mãe dedicada. Foi professora por muitos anos, mas não se conformou em ser somente dona de casa. Então, estudou pintura. Em 1980, ela começou a pintar seus quadros. Hoje, a Doralice tem exposições pelo Brasil todo, já esteve no Exterior, com exposições em Lisboa e Roma.
A minha filha mais velha, Susane, é psicóloga; meu segundo filho, Cícero José, é advogado e trabalha no Escritório Augusto Prolik. O outro filho é o Flávio, também trabalha no Escritório Prolik, e a Elaine, que é a filha mais nova, também é psicóloga. Esta é a minha família.
Todos os meus filhos são esforçados e buscam seus espaços. Minhas duas filhas trabalham juntas em uma empresa de recursos humanos. Elas nunca trabalharam como psicólogas em clínicas, sempre estiveram voltadas para a área de recursos humanos e criaram uma empresa para elas próprias, onde são reconhecidas.
Nesse campo de família e de formação, eu sou um homem realmente feliz e abençoado, porque não poderia ter sido melhor. Eu tenho oito netos (Tatiane, Eduardo, Ana Letícia, Gustavo, Ana Carolina, Mariana, Sabrina e Rafael, a mais velha tem 25 anos, e o mais novo tem oito). Então, este ambiente de oito netos e uma bisneta (Selena) é uma coisa suave e gostosa. Diz-se comumente que ser avô é a maravilha de ter as crianças, mas não ter a responsabilidade de criá-las.
O mundo está aqui, e nós somos um fragmento de nada, uma coisa totalmente inexpressiva. Mas cada um de nós tem o que pôr, o que dar, o que ajudar para tentar construir um mundo melhor. E é isso que, tanto como profissional, quanto como pai de família e colaborador de várias instituições, eu busco transmitir.
Agora, quero buscar um pouco da história muito importante que tem o Escritório Augusto Prolik, onde eu estou há quase 50 anos. E que o doutor Augusto fundou há quase 70 anos.
Augusto Prolik é uma figura inesquecível. Um homem sensível, entendedor da vida e das coisas, dedicado à família, dedicado à comunidade, participou de inúmeras instituições de toda a natureza, religiosa, cultural, política.
Augusto Prolik tinha um problema de artrite reumatoide, ele tinha dificuldades de locomoção. Certa feita, chegou ao Teatro Guaíra e viu que ali não havia elevadores, somente escadas, e disse que trataria de instalá-los. Passou, então, a angariar fundos com os amigos e clientes. Acrescentou recursos próprios e a instalação de elevadores foi feita e lá estão até os dias de hoje. Mais uma iniciativa pessoal do doutor Augusto Prolik.
No escritório, Augusto ele era um líder. Se voltarmos aos anos 1950 e início dos anos 1960, ele liderava o escritório todo. Havia Salvador de Maia, Renê Dotti, Élio Narezi, Flavio Leite D’Avilla, entre outros, mas a turma era liderada pelo Augusto.
Em 1970, estávamos na Rua XV, esquina com a Dr. Muricy, no edifício onde havia a Farmácia Minerva Colombo, o edifício Azulay. Estávamos todos lá, Élio Narezi, Renê Dotti, Prolik. Havia um prédio novo na Marechal Deodoro e o Augusto disse: “Nós vamos comprar um andar e vamos para lá. E nós não vamos sozinhos”.
Convenceu o Renê Dotti, convenceu o Élio Narezi, e essa turma toda foi para lá. Ele então liderava, não só o seu escritório, mas comunidades inteiras de advogados, estudantes etc.
Augusto era um homem que agregava as pessoas, não somente os profissionais do escritório, mas todos os que passaram por lá, e todos os que estão até hoje, desde o tempo dele, que são muitos.
O doutor Augusto deixou no Centro Cultural Brasil Estados Unidos e em todas as instituições pelas quais passou, uma marca. Ele não era um homem dominador, muitas vezes parecia, era o jeito dele, mas era assim que ele conseguia agregar as pessoas. Era uma coisa boa, desafiadora. O Augusto fazia muito isso, ele desafiava as pessoas, mas no bom sentido. Desafiava-as a mostrarem, de dentro para fora, o que elas tinham de bom.
Voltando à minha família, aqueles que estão se formando. A Tatiane e o Eduardo são filhos da Suzane; a Mariana, filha do Cícero e da Ana Claudia; o Flávio e a Ana Paula são pais da Ana Letícia, do Gustavo e da Ana Carolina. E a Elaine tem o Rafael e a Sabrina. E, por fim, a Selena, que é a nossa bisnetinha.
Gostaria ainda de prestar uma homenagem às mulheres, que encantam e enriquecem as nossas vidas. Faço isso lembrando de Maria Montes de Oliveira, mãe de 14 filhos, eu sou o décimo terceiro. Cuidou de todos com zelo, com amor, tornando-nos pessoas preparadas para a vida. E ainda arrumava tempo para participar da Associação das Damas de Caridade e da Associação das Mães Cristãs, organizações que preparavam roupas para os pobres, usavam roupas usadas, retalhos. E a minha mãe, semanalmente, estava nesta tarefa. Cuidava dos filhos e ainda ajudava os pobres. Gostaria também de homenagear um dos maiores civilistas do Paraná, Faurlim Narezi, amigo de primeira hora, companheiro leal, também fundador do Escritório Augusto Prolik. Peço a Deus pela sua vida.
A imprensa cumpre um papel importantíssimo e hoje, com os recursos tecnológicos, ela serve cada vez mais à humanidade. Registra atos, fatos e acontecimentos que se não forem vistos, poderiam se perder.
Quero lembrar aqui também de Francisco Cunha Pereira Filho, um dos maiores comunicadores que o Estado do Paraná conheceu e o Brasil também. Ele foi durante toda a vida um jornalista empenhado nas causas públicas, nas causas do Paraná, e é um exemplo que fica a todos na área da imprensa.
Provavelmente tenha esquecido de alguns fatos, de algumas pessoas, confundido certamente algumas coisas, mas que isso seja debitado à minha memória, que, em alguns momentos, não me ajudou. Gostaria, por fim, de agradecer a oportunidade de prestar este depoimento.