José Eldir Ost (2016) Educação – Marechal Candido Rondon – Paraná

Paranaense, neto de alemães e filho de gaúchos. Nasci em Marechal Candido Rondon, cidade do extremo oeste paranaense, no dia 09 de setembro de 1963. Filho de Pedro Alvis Ost e Elzira Patzlaff Ost. Neto de Afonso Ost, Catharina Elsira Ost, Valentim Patzlaff e Carolina Geraldina Patzlaff. O sexto filho de uma família de seis irmãos: Laci Elisa Genevro, Gessi Maria Lange, Deli Faustina Zarur, Luiz Afonso Ost e Sergio Valdir Ost.

Na primeira metade do século passado, a região oeste do Paraná era formada pela Fazenda Britânia e foi colonizada por espanhóis e ingleses, que exploravam a extração da madeira e da erva-mate. Já no final da década de 1940, a Fazenda Britânia foi comprada pela colonizadora MARIPÁ (Madeireira Rio Paraná), que tinha sede em Porto Alegre (RS). Na década de 50, a região foi demarcada e regulamentada pelo governo e iniciou-se uma grande campanha de colonização realizada pela MARIPÁ e pelo governo federal, que tinha como objetivo ocupar a região às margens do Rio Paraná, por se tratar de área de fronteira.

Com o crescimento das famílias no Rio Grande do Sul e a falta de terras, meus pais gaúchos, motivados pelas campanhas de colonização, compraram sua primeira propriedade e se mudaram para Marechal Cândido Rondon em 1961. Vieram com a primeira leva de colonizadores. Meu pai, com 30 anos, e minha mãe, com 28 anos, trouxeram os 4 filhos. Meu irmão Valdir e eu nascemos em terras paranaenses.

Tempos difíceis para os colonizadores, mas muito rico para as crianças, apesar das dificuldades e carências. Entre as melhores lembranças da infância estão as imagens das grandes plantações de soja e trigo. Não sei a idade que tinha, mas lembro que brincávamos dentro das plantações que pareciam florestas. Elas tinham em torno de 1 metro, mas para nós era muita coisa.

Lembro dos banhos nos pequenos rios e das pescarias escondidas no Rio Paraná, onde só deveríamos ir acompanhados dos adultos. Lembro que muitos animais para consumo se transformavam em bichos de estimação, o que me impede de comer   carne da maioria deles até hoje. Não esqueço das histórias assustadoras das sucuris que comiam pessoas e animais inteiros, e das onças que atacavam à noite. Tudo isto provavelmente para limitar nosso território, mas que nos deixava com medo ao mesmo tempo que encantava.

Morávamos na zona rural. Para chegar até a escola, eu precisava caminhar 5 km, sempre com muita alegria, mesmo nas manhãs geadas. Antes da caminhada, o café da manhã, quase sempre o mesmo cardápio: uma bisteca grelhada com ovos e tomates fritos, enriquecido pelas palavras alentadoras da minha mãe. A mesa era sempre farta.

Meu pai era o anjo da guarda. Era quem dava carinho, cuidava quando estava doente, levava para vacinar… Aos finais de semana, uma pequena viagem para visitar os meus tios em Guaíra e ver as fascinantes Sete Quedas. Que espetáculo! Hoje, submerso pela represa de Itaipu. Eram as maiores cataratas em volume de água do mundo, o dobro do volume de Niágara Falls. Imaginem essas imagens para uma criança com um universo tão limitado.

Lembro claramente da minha última visita às Sete Quedas, já adulto e acompanhado pela minha mãe que tinha verdadeiro fascínio por aquele lugar. Foi uma despedida com lágrimas. Olhava e pensava que nunca mais veria aquela imagem. Era simplesmente inacreditável.

Tínhamos uma família grande e feliz. Hoje, vejo o quão sólidos são os valores que aprendi em casa. Mas nem tudo na vida é perfeito. No ano de 1970 uma sangrenta tragédia marcou minha vida e da minha família. Em uma tarde de sábado, no mês de julho, estávamos eu, então com sete anos, meu pai, minha mãe, meu irmão de nove anos, minha irmã mais velha com o marido e a filhinha, quando nossa casa foi invadida por posseiros, que sem justificativa assassinaram meu pai e meu cunhado a pedradas e pauladas, na frente de todos nós.

Impossível descrever o horror que passamos, a violência que todos nós sofremos e a dor que impregnou e marcou nossas vidas. Não sei como minha mãe encontrou forças para nos manter unidos, nos sustentar e nos encaminhar com honradez pela vida. Ela passou a ser pai, mãe e um porto seguro que nos abrigava e nos alimentava, também de esperança por dias melhores. Não há como descrever a violência de que fomos vítimas, nem como descrever a força, a grandeza, a dignidade, o trabalho e o amor que minha mãe nos deu até seu último dia.

Começamos uma nova vida. Vendemos as terras na zona rural e compramos um terreno na cidade para construir um restaurante e um local para morarmos. Foi um recomeço difícil. Anos tristes e sofridos. Todos nós ajudávamos na construção do novo prédio, que seria o restaurante da família. No andar de cima, nossa casa. Trabalhar nunca foi uma punição, mas uma oportunidade de contribuir e retribuir todo amor e carinho que eu havia recebido. Sentia o mesmo dos meus irmãos e assim construímos uma nova vida, alicerçada na força e coragem da minha mãe, que morreu 23 anos depois do meu pai, ainda deprimida e sofrendo dolorosamente sua perda.

Em 1980, começa uma nova fase em minha vida. Mudo para Curitiba em busca de escolas melhores e encontro pessoas maravilhosas que me ajudaram a construir uma identidade e me deram condições perfeitas para me preocupar somente com os estudos. Em 1982, aos 18 anos, ganhei certa independência quando fui empregado pelo Deputado Tércio Albuquerque em seu gabinete. Depois passei a trabalhar no gabinete do Dr. Ary de Christian, na superintendência da Fundação de Saúde/PR. Duas experiências com pessoas realmente transformadoras. Ainda em 1982, conheci Carlos Rodolfo Sandrini, meu amigo, parceiro e sócio até hoje.

Em 1983, motivado por Carlos Sandrini me mudei pra Florianópolis, onde iniciei a faculdade de administração, concluída posteriormente em Curitiba. Na sequência, fiz mestrado em Administração Estratégica. Sonhador, busquei trabalho no setor que mais me fascinava: a aviação. Não fui humilde. Busquei a melhor companhia aérea do mundo na época (Varig) e me candidatei ao cargo mais alto disponível: promotor de vendas para o Estado de Santa Catarina. Fiquei lá por 10 anos e construí uma belíssima carreira.

Trabalhar na Varig, uma empresa que era referência internacional em serviços, foi a melhor escola que poderia ter naquele momento. Sem contar as oportunidades de viajar e conhecer o mundo. Além das minhas funções contratuais, também era instrutor para colaboradores de lojas, serviço de bordo e agentes de viagens em diversas bases onde a empresa atuava.

Mais uma vez pessoas geniais passaram pela minha vida e contribuíram generosamente para minha formação. Paralelamente à Varig participei do projeto de implantação dos albergues da juventude em Santa Catarina, hoje conhecidos como hostels, tendo como foco o turismo social e oportunizando jovens carentes do interior catarinense a conhecerem o mar e a capital.

Em 1991, já com muito conhecimento adquirido na área do turismo, com experiências   internacionais, principalmente na Europa, eu e Carlos Rodolfo Sandrini realizamos nosso sonho de voltar a morar em Curitiba e fundar uma instituição de ensino que ajudaria a transformar o Brasil. No primeiro ano trabalhamos com o nome Centro Italiano. Após parcerias com instituições de outros países europeus, além da Itália, adotamos o nome Centro Europeu. Em 1992, deixo a Varig, após o sucesso inicial do Centro Europeu, para me dedicar exclusivamente a ele.

O mercado logo entendeu nosso conceito. Moderno, rápido, prático e focado em áreas, naquele momento inovadoras, mas que seriam logo as mais valorizadas pelo mercado de trabalho. As entidades de classes logo passaram a chancelar os nossos certificados em reconhecimento à qualidade do nosso ensino. Impossível agradecer a todos que contribuíram para o nosso sucesso e com isto a realização de um sonho.

O Centro Europeu foi o grande sonho. Transformar a vida das pessoas por meio da melhor formação possível era o máximo da gratificação que poderíamos obter. Hoje, além da escola atuo em outros setores, mas é o ensino que está no meu DNA e é ao ensino que me dedicarei sempre. A forma que tenho de agradecer à realização dos meus grandes sonhos é me dedicando às ações sociais, trabalhar na educação e, assim, melhorar a vida daqueles que mais precisam e principalmente ser muito grato a todos as pessoas que contribuíram para minha vida.

 

 

 

 

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