Nasci em São Mateus do Sul, Paraná, em 05 de julho de 1923, de parto natural e em casa.
Minha mãe, Maria Augusta Muller Luz, aos dezesseis anos, casou-se com meu pai, Modesto Anastácio da Luz, à época com vinte e quatro anos. Ele era militar e terminou a carreira como coronel da Polícia Militar do Paraná.
Meus avós maternos foram Felipe Muller, telegrafista do Telegrafo Nacional e descendente de alemães prussianos, e Anna Carmeliana de Miranda, cuja família era de Antonina.
Tenho lembranças muito queridas dos meus avós maternos. Ele, um alemão grande e alegre, que me dava moedinhas para comprar cerveja. “Duas Weissbier”, ele dizia, e eu descia ao empório localizado na parte de baixo de sua casa, na praça Osório. Minha avó era meiga, calorosa e guardo lembranças da grande e farta mesa de café em sua casa, onde sempre havia crianças e adultos barulhentos e alegres. Não conheci meus avós paternos.
Minha mãe faleceu quando eu tinha dez anos, mas lembro de nossas conversas na varanda de casa, onde depois da lida do almoço ela costumava sentar em sua cadeira de balanço e cerzir meias em seu ovo de madeira enquanto me dava conselhos que estão guardados em minha memória e em meu coração… e foram estes conselhos que sempre deram rumo à pessoa que me tornei.
Sou a quinta filha de seis irmãos, três homens e três mulheres. Infelizmente todos falecidos. Anísio Luz, Anna Luz, Modesto Filho, Maria da Conceição Luz, Ivete (eu) e Henrique Luz. Éramos uma família muito unida, vivíamos em harmonia e sempre um apoiando o outro.
Vim pequena para Curitiba. Fiz meu curso primário e secundário no grupo escolar da Escola Normal do Paraná, na época sediada na Rua Emiliano Perneta, hoje Instituto de Educação do Paraná. Sempre fui boa e dedicada aluna, pois tinha consciência de que os estudos trariam melhores oportunidades.
Fui normalista para também satisfazer a vontade de meu pai que desejava que eu fosse professora, e escolhi ser professora de Educação Física por influência de Raquel Oliveira, minha professora de Educação Física no secundário. Ela era sempre alegre, competente, entusiasta, admirada e querida por suas alunas.
Cursei a Escola Normal e a Escola de Educação Física conjuntamente e era bem puxado estudar em uma e fazer estágios em outra…, mas consegui levar adiante meu projeto.
Em 1945 concluí a Escola de Educação Física e Desportos do Paraná, uma das primeiras criadas no Brasil, pelo professor Francisco Matheus Albizu.
Aos vinte e um anos, sofri um grave acidente de ônibus voltando de Paranaguá. Durante nove meses fiquei com o braço direito engessado, mas ministrava aulas assim mesmo.
Os médicos tinham dito que jamais voltaria a mexer esse braço em razão das graves lesões que sofri…, mas não desisti facilmente, fui persistente e, com muita força de vontade, exercícios e muita dor, recuperei o movimento e a funcionalidade do braço.
Dessa época ficou a lembrança de minha tia Parisina, tão querida, cuidando de mim na Santa Casa de Misericórdia, em Curitiba, e dos médicos doutor Mário Braga de Abreu e doutor Manuel Cavalcante, bem como dos amigos e de toda a turma conhecida que se reunia no final da tarde no meu quarto para conversar e comer os quitutes e frutas trazidos pela família e amigos. Era uma festa!
Curitiba naquela época era pequena e os jovens frequentavam os mesmos lugares, bailes e tardes dançantes onde todos se conheciam.
Em 1944, cursando a Escola de Educação Física, fui convidada pelo interventor Manoel Ribas para comandar uma colônia de férias com onze meninas paraguaias, em intercâmbio estudantil ao Paraná, com idade entre onze e quinze anos. O interventor afirmou: “se você tiver a mesma fibra do seu pai você vai ter êxito nessa empreitada e será nomeada professora de Educação Física no Ginásio Paranaense” (atualmente Colégio Estadual do Paraná). Missão dada, missão cumprida!
Lá fomos nós para Matinhos onde permanecemos os três meses de verão hospedadas numa pensão/pousada com o objetivo educacional de aprendizagem de natação e ginástica.
Para isso levantávamos às seis horas da manhã, treinávamos no mar, às oito horas estávamos de volta à pensão para banho, café e arrumação do quarto e tarefas que fossem necessárias para só então retornarmos à praia para aproveitar o sol e o mar.
À tarde fazíamos passeios e à noite sempre havia reunião com outros jovens para cantoria e jogos. As paraguaias cantavam muito bem suas canções típicas. Era muito agradável para todos.
Também foi um período de muito trabalho, responsabilidade e superação.
Uma tarde estávamos as onze meninas e eu na água, quando o mar começou “a puxar”, foi o maior alvoroço! Todas já sabiam nadar e gritei que boiassem até que viesse o socorro. Foi o que fizeram, menos a menor e mais fraquinha que começou a se afogar desesperada e não conseguia boiar… nadei até ela e quando cheguei perto ela me agarrou e ficamos um bom tempo afundando e voltando à superfície. No seu desespero ela tinha visões de Nossa Senhora. Quando achei que era o fim, pois estava exausta, avistei a canoa se aproximando e pedi que ela movimentasse as pernas para ficarmos na superfície até a canoa nos alcançar. Foi um grande alívio, pois assim consegui acalmá-la e ficarmos na superfície aguardando socorro. Foi um susto enorme! Mas conseguimos voltar todas sãs e salvas e com muita história para contar.
Formamos uma grande família e mantivemos contato por muito tempo, elas me chamavam de “Mamita” e uma delas ficou na minha casa até a conclusão de seus estudos.
Depois desse trabalho, fui nomeada pelo interventor Manoel Ribas a primeira professora de Educação Física do Estado do Paraná para o Ginásio Paranaense, hoje Colégio Estadual do Paraná.
Fiz parte da elite dos professores pioneiros do Colégio Estadual do Paraná, entre eles: Diva Muller, Aglaé, Albertina, Selma, Luiza Carrano, Arlete e tantos outros amigos queridos. Especializei-me em aulas de ginástica rítmica, danças folclóricas e natação. Um episódio muito feliz era quando chegava ao Colégio Estadual e minhas alunas vinham correndo me receber – apesar dos gritos das inspetoras – trazendo flores que, segundo as que não tinham trazido [flores], seriam “roubadas”. Era muito divertido.
Durante esse período conheci Hélcio Buck Silva, advogado, professor de educação física no Colégio Estadual do Paraná e também atleta olímpico. Ele foi o primeiro paranaense a participar de uma Olimpíada, disputando a modalidade salto com vara na Olimpíada de Helsinki em 1952.
Casamo-nos em 1953 na igreja Bom Jesus dos Perdões, na Praça Rui Barbosa. Temos quatro filhos: Hélcio José, Maria Olívia, Maria Augusta e Roberto Anísio.
Foi um período de muito trabalho, dando aulas, cuidando de quatro crianças e da casa. Mas agradeço sempre por ter saúde e a ajuda do Hélcio para encararmos tudo juntos e seguindo em frente.