Nasci em Curitiba no dia 17 de março de 1947. Meu pai, José Rocha Faria, já falecido, nasceu em Ponta Grossa, PR. Foi advogado e membro do Ministério Público do Estado do Paraná, tendo se aposentado como procurador de Justiça. Minha mãe, Maria da Conceição Gomes Pereira Faria, também já falecida, nasceu em Porto Alegre, RS. Exerceu as atividades do lar e dos cuidados dos quatro filhos do casal: Enéas (falecido), Maria da Conceição, Francisca Olga e eu.
Em dezembro de 1969 casei-me com Elizabeth, filha do médico Jorge Anastácio e de Lia, ambos de Paranaguá. Temos cinco filhos: Lia Elizabeth, psicóloga e advogada, especialista na área de Direito de Família, minha colega de escritório e mãe de meu neto Juliano, este acadêmico de Direito; José Rocha Faria Neto, médico, doutor em Cardiologia pelo InCor-USP, pós-doutor pelo Cedars Sinal Medical Center (UCLA), professor titular de cardiologia (PUC-PR), e pai de minhas netas Giovana e Luiza; Karina, promotora de Justiça em Curitiba, mãe de minhas netas gêmeas Gabrielle e Beatrice; Maria Isabel, Odontóloga, mestre e doutora em endodontia, professora do curso de odontologia da UFPR, mãe de meu neto Leonardo, e Maria Fernanda, advogada, com pós-graduação na área de ciências sociais e também colega de escritório, mãe de meus netos Luiz Eduardo e Gabriel
Parte da minha infância foi vivida em Paranaguá, cidade onde meu pai foi promotor público. Com sua promoção a Curitiba, fomos residir nas imediações da Praça da Espanha.
Iniciada a fase escolar, meus primeiros estudos foram no Grupo Escolar 19 de Dezembro e, a seguir, no Colégio Santa Maria. Fiz o ciclo secundário no Colégio Novo Ateneu.
Já nessa época aflorava em mim o gosto pela participação no movimento estudantil, com ativa participação na União Curitibana dos Estudantes Secundários – UCES, tendo sido seu vice-presidente na gestão 1963/1964. A entidade mantinha intercâmbio com outras congêneres do mundo, inclusive países integrantes da “Cortina de Ferro”, bem como China e Cuba. As publicações recebidas eram guardadas em arquivo na sua sede, no 16º andar do edifício ASA.
No dia 31 de março de 1964, após uma noite insone de preocupações, com informações de “empastelamento” do jornal “Última Hora” e invasão em órgãos sindicais e estudantis pelo Brasil afora, resolvi fazer uma limpeza naquele material alienígena arquivado, e, ainda cedo, dirigi-me à sede da entidade, chaveei a porta, e passei a selecionar o que deveria ser destruído. Pelo volume, era impossível retirá-lo do local. Resolvi eliminá-lo ali mesmo, incinerando-o junto ao vaso sanitário e fazendo escoar as cinzas por descarga.
No início de abril daquele ano estava programado o Congresso Anual da UCES, que reuniria alunos dos colégios de ensino secundário de Curitiba. Para o evento nos fora cedido o plenário da sede do extinto PSD, na Praça Zacarias. Já na abertura fomos avisados que um caminhão do Exército com um grande número de militares e um jipe com oficiais estavam estacionando no local. Incontinenti, um capitão subiu as escadarias de acesso ao plenário, ao então presidente da UCES, Airton Carvalho, e informou-o que o Congresso apenas se realizaria sob a direção dele, capitão. Sem alternativa, aceitamos. Passados alguns minutos de constrangedor silêncio, o oficial dirigiu-se a nós da mesa diretiva e indagou: “O que faço agora?” Diante da quase patética indagação, aproveitamos a “deixa” e respondemos: “O senhor permanece na mesa presidindo, e o Airton conduz os trabalhos sob a sua orientação”. Fez expressão de sincero alívio, e concordou. Não interveio no andamento dos trabalhos.
Na véspera do encerramento do Congresso fomos informados por outro oficial que teríamos que comparecer ao comando da Região, eu, o Airton Carvalho, o Juarez da Fonseca e o Alberto Carazzai Neto, por ordem do comandante. Um convite “compulsório”. E lá fomos recebidos pelo general, que de pronto nos perguntou: “Vocês são comunistas?” Em uníssono respondemos que não, que éramos estudantes defensores da democracia e das liberdades, e que o Congresso transcorria dentro da normalidade, sem atentado às instituições democráticas. Na sequência, indagou: “Quem é o Fajardo Faria?” Apresentei-me. Ele, curto e grosso, afirmou: “Pois seu Fajardo, diz-se que o senhor é candidato a presidente da entidade. Pois eu vou deixar que o senhor seja candidato porque o professor Altair dos Santos Cavalli me falou que o senhor provém de uma boa família, que seu pai é um homem honrado, é um Promotor de Justiça, então só por esta razão eu vou deixar o senhor ser candidato”. O professor Altair dos Santos Cavalli, homem culto e inteligente, era meu professor de psicologia no Colégio Nosso Ateneu, e lecionava também na Faculdade de Direito de Curitiba. Assim, com seu aval, fui eleito presidente da União Curitibana dos Estudantes Secundários, na gestão 1964/1965.
Prestei vestibular de Direito na Universidade Federal do Paraná em 1966, turma que colou grau em 1970. Já no primeiro ano, fui eleito presidente do grêmio de turma.
Na fase de estudos universitários exerci atividades laborais, como locutor em diversas emissoras de comunicação social de Curitiba, estagiário no então Instituto de Assistência ao Menor do Estado, funcionário da Fundação de Desenvolvimento Educacional do Paraná – FUNDEPAR, e Auxiliar Jurídico do Tribunal de Justiça do Paraná, nomeado por concurso público.
Recém-formado, no início de 1971 prestei concurso para ingresso na carreira do Ministério Público, sendo aprovado em primeiro lugar, perante uma banca examinadora integrada pelos juristas paranaenses Ivan Ordini Righi, Eros Gradowiski, René Dotti, Luciano Lacerda e Eddie dos Santos Ribas.
Ao longo da carreira no Ministério Público exerci o cargo nas comarcas de São José dos Pinhais, Campo Largo, Ipiranga, Rio Negro, Paraíso do Norte, Morretes, Paranaguá, Cascavel e Curitiba.
Como promotor de Justiça em Curitiba fui honrado com convites dos então procuradores gerais Josaphat Porto Lona Cleto (1983-1985), Gerônimo de Albuquerque Maranhão (1985-1987) e Luiz Chemim Guimarães (1989- 1990), para exercer as funções de oficial de gabinete dos mesmos. Ainda como promotor de Justiça na Capital, por indicação do MP, participei do curso de pós-graduação lato sensu em Direito Civil e Processo Civil, promovido pelo Instituto Paranaense de Cultura Jurídica Ltda., no ano de 1981.
Em agosto de 1990, fui promovido ao cargo de procurador de Justiça, que exerci, entre outras atribuições, como parecerista em matérias cíveis, criminais e administrativas, assim como representante da Procuradoria Geral nas sessões de julgamento da então 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça.
Fui designado também como professor de Direito Constitucional do curso de formação do Ministério Público, no biênio 1992-1993.
Durante o exercício no Ministério Público, por não havia impedimento legal, acompanhei meu irmão Enéas Faria em suas campanhas eleitorais para vereador em Curitiba por duas legislaturas, deputado estadual – eleição na qual obteve a maior votação de um candidato àquele cargo, em torno de noventa e sete mil votos, sendo que em Curitiba recebeu o sufrágio de um terço do eleitorado da cidade –, deputado federal e senador da República. Era uma inteligência privilegiada, orador brilhante que encantava multidões, e um coração generoso e nobre.
Aventurei-me pessoalmente em disputa à Assembleia Legislativa em 1982, obtendo em torno de dezesseis mil votos, não tendo, porém, sido eleito.
Após essa eleição, o recém-empossado governador José Richa convidou-me para assumir a presidência da Banestado Processamento de Dados e Serviços, empresa integrante do Grupo Banestado. Tratava-se da empresa com o maior número de funcionários de todo o conglomerado, que tinha a seu encargo a definição e implementação de políticas atinentes ao serviço de informatização de todo o Grupo Banestado.
Oriundo que eu era da área jurídica, entendi necessário assessorar-me de pessoas de comprovada competência administrativa e de perfil rigorosamente técnico, sem a preocupação de aparelhar a empresa com pessoas envolvidas com partidos políticos ou mesmo apoiadores eleitorais, de sorte a atender pedidos que afloravam aos borbotões. Assim, formulei convite a um antigo amigo, o Dr. Antonio Sebastião da Cunha Gebran (já falecido) para a chefia de gabinete. Isso desencadeou ostensivo patrulhamento ideológico e fez com que o governador fizesse chegar a mim a necessidade de afastar o Dr, Gebran, dizendo que ele reconhecia o seu valor e que pessoalmente não se opunha à sua permanência, mas que razões de ordem política impunham o seu afastamento. Diante disso, reuni todos os diretores e gerentes de área, narrei os fatos, e informei que estava exonerando-me da presidência da empresa, por não aceitar a determinação do governador.
Por questão de justiça à memória do Dr. Gebran, esclareço que no início de todo o imbróglio político, ele me apresentou o seu pedido de exoneração, de forma irretratável, mas eu, também de forma irretratável, não o aceitei.
No início do primeiro governo Jaime Lerner, atendendo a convite do dileto amigo Dr. Cândido Manoel Martins de Oliveira, grande expressão da política e da cultura paranaenses e que assumira a Secretaria de Estado da Segurança Pública, exerci as funções de diretor-geral daquela pasta, cargo que ocupei entre 1995 a 1998.
Ainda enquanto no serviço ativo no Ministério Público, foi honrado com minha indicação para integrar a “Comissão Provisória de Estudos Constitucionais”, constituída pelo Decreto Presidencial nº 91.450/85, e instalada em 03 de setembro do mesmo ano, com reuniões em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Seu objetivo era “ouvir a Nação, discutir com o povo as suas aspirações, estimular a participação da cidadania no processo de discussão da natureza e fim do Estado, e estimulá-la a escolher bem os Delegados Constituintes”. A Comissão, presidida pelo professor Afonso Arinos de Melo Franco, foi integrada por quarenta e nove brasileiros, dentre os quais nomes ilustres, como Barbosa Lima Sobrinho, Celso Furtado, Cristovam Buarque, Hilton Rocha, Jorge Amado, José Paulo Sepúlveda Pertence, Saulo Ramos, Miguel Reale, Miguel Reale Júnior.
Aposentei-me, a pedido, do Ministério Público no mês de setembro do ano de 2000.
Publicado o ato de minha aposentadoria iniciei-me na advocacia, passando a integrar o escritório do Dr. Ronaldo Botelho, também Procurador de Justiça aposentado. Após um ano de profícuo convívio com aquela criatura humana extraordinária, estabeleci-me em escritório próprio, juntamente com outro colega de MP, o Procurador de Justiça Murilo Buchmann, que após um ano também se estabeleceu em escritório próprio.
Na atual gestão da Associação Comercial do Paraná, tenho a honra de integrar o Conselho Político da Entidade.
Para encerrar este singelo traçado de uma vida simples, devo ressaltar valores hauridos no lar: minhas convicções na doutrina espírita kardecista, e a honra. O primeiro, que me traça o norte da transcendência, projetando-me como ser do universo, responsável pela minha evolução; o segundo, que se constrói nos atos da vida, e nos afirmar como pessoas do tipo gente.
Aos amigos que não nomino, mas que, ao lerem esse depoimento, saberão ser eles os destinatários do registro, o meu carinho fraternal, com a afirmação da importância que representam na minha vida e de minha família.