Nasci em São Paulo, capital. Sou filho de Vicente Favalli e Ibérica Favalli e neto, com muito orgulho, de Cosimo Favali, que me deu muitas regras de boa conduta. Um lema que ele me deu e que me trilhou a vida inteira: “um homem não vale o quanto ele ganha, vale o quanto ele economiza!”.
Tenho muito orgulho de ter muito Deus próximo de mim. Desde o meu nascimento, Deus esteve muito presente. Minha mãe se casou só para ter filhos e já no exame pré nupcial o médico disse que ela nunca poderia ter filhos. Isso foi um choque para ela, que saiu desesperada do consultório, chorando, correndo por três quadras. Quando chegou em casa se jogou na cama, muito cansada e dormiu, a ponto de sonhar. Sonhou com Santo Antônio, que estava com um neném nos braços e lhe dizia “Este é seu filho!”.
Ela lembra bem que a criança que estava nos braços de Santo Antônio, tinha cabelo douradinho, e mãos de bebê gordinho. Passando essa fase, depois de quatro meses, ela teve várias dores e voltou para o médico. O médico pediu novos exames e o resultado: “Dona Ibérica, é incrível, a senhora está grávida!”. E ela disse: “Eu já sabia!”.
Veja como isso é muito forte para mim: eu fui anunciado, por Deus, através das mãos de Santo Antônio, o meu nascimento foi anunciado. Tenho uma presença muito grande de Deus.
Eu nasci com quatro quilos e cem gramas, coitadinha da minha mãe, foi parto natural e ela pequenininha, imagina o que passou! E vocês vão ver depois que eu nasci de novo.
Lá pra frente, com 5 anos, houve uma crise horrível da construção civil. Meu pai tinha uma serralheria, que pela crise, quase não tinha serviço e com isso não tínhamos dinheiro. Minha mãe, muito, muito forte, disse “eu vou trabalhar também!”. Isso foi lá por 1957. Ela foi trabalhar como cabeleireira num salão de uma amiga. E lá entrou um vendedor do Carnê Erontex – famosa fábrica de tecidos – que conseguiu convencer minha mãe a comprar o tal carnê e ela colocou em meu nome. Resultado: fomos premiados e ganhamos, depois de muita polêmica, um carro Simca 3 Andorinhas que, na época, custava entre 40 a 50 mil reais, cuja venda a eminente falência da Serralheria do meu pai.
Sempre fui muito bom aluno. Muito disciplinado, muito correto. Minha educação foi sempre muito rígida. Com relação a escola sempre fui um aluno super prendado, tirando notas muito boas. Abaixo de 9 já estava triste, ficava bravo.
Passaram-se os anos, entrei no ginásio. Também fui muito bem. Estudei em uma escola de freiras, não de padres, de freiras. E teve uma professora muito especial, que foi a Madre Izabel, de matemática. Eu sempre fui muito bem de matemática, e um dia ela me chamou de lado “Edelsio, você vai muito bem na matemática. Olha bem, você pode ser um ótimo engenheiro, um ótimo economista ou arquiteto. Porque mexe muito com números!”. E, assim, ela foi quem me iniciou na engenharia.
Meu primeiro emprego foi com 14 anos, como office boy em uma construtora de São Paulo. Meu primeiro holerite, que nada mais era que um saquinho de papel verde, com o dinheirinho lá dentro. Fui mostrar para o meu avô, o Cosimo Favalli: “vovô, olha aqui, meu primeiro salário!”. Meu avô, muito sábio, pouco estudo, mas muito sábio. Ele sentado na cadeirinha de fórmica, com a armação de ferro, pegou na minha cabeça, alisando minha nuca, falou, não esqueço até hoje: “ouça o que vovô vai falar: um homem não vale o quanto ele ganha, vale o quanto ele economiza!”. No segundo salário eu já estava pegando um dinheirinho, equivalente a uns cem reais ou coisa do tipo, e estava fazendo uma caderneta de poupança.
Eu entrei na Faculdade de Engenharia Industrial – FEI, de São Bernardo do Campo, em São Paulo, com 17 anos. Tinha uma forma diferente de fazer vestibular: eram três faculdades juntas, as melhores e mais famosas – Mauá, Politécnica e FEI. Era uma prova só, pela nota se definia a faculdade. Primeiro lugar sempre era a Politécnica, que era USP, não era paga, uma das melhores. Eu não tirei uma nota ruim, tirei uma nota razoável e entrei na FEI. As melhores notas entravam na Politécnica. Eu não cheguei nesse nível, mas entrei na FEI, que foi ótima para mim. Uma faculdade excelente, uma faculdade que ensina em primeiro lugar a se virar, uma faculdade que dificilmente você terminava em cinco anos. Você ficava seis, sete anos por causa da dependência. Tinha que se virar em biblioteca, em fazer trabalhos, enfim, era muito difícil. Mas graças a Deus eu fiz a minha faculdade no tempo certo, em cinco anos. Me formei com 22 anos pra 23 anos.
Formado, entrei em uma filial de uma multinacional americana, Falcon Corporation, aqui Falcon do Brasil. Fabricante de redutores de velocidade, da parte mecânica, de acoplamentos de velocidade também. Comecei como auxiliar de orçamentista e meus colegas de turma diziam “caramba, você é engenheiro, entrar como auxiliar de orçamentista, que coisa, se desprestigiando!” E eu falava assim pra eles: “meus amigos, eu estou enxergando o futuro, estou enxergando lá pra frente”. E realmente, entrei como Auxiliar de Orçamentista, ocupei outras funções e cheguei como Gerente Nacional de Vendas e acima desse cargo, só a diretoria.
Eu me casei aos 26 anos, com Tânia Balion e tivemos uma filha, Daniela, hoje com 27 anos.
Viajando, pelo interior de São Paulo, com o diretor presidente da Falcon que me perguntou sobre meu plano futuro de vida? “Quero ser um distribuidor, como um negócio próprio, sempre pensei nisto!”. E o Diretor “então faz o seguinte…faz um projeto pra mim, como que está a rede de distribuição e o que você pensa fazer!”
E realmente acabei fazendo o projeto para ele, e no projeto saiu que o distribuidor da Bahia, e o distribuidor do Paraná, não estavam vendendo e nem comprando bem. Ou seja, seriam duas pontas que eu poderia pegar: ou Salvador-Bahia, ou Paraná. Eu acabei optando pelo Paraná e foi assim que cheguei em Curitiba, em 1991. E por aqui, a primeira coisa que eu fiz, foi fechar contratos, que eu sabia que isso iria me segurar fortemente. Fechei contratos com a Gerdau, Votorantim, Klabin. Vale ressaltar também que meus produtos são endereçados para a indústria de transformação, para indústrias que transformam. Por exemplo, calcário em cimento – Votorantim; madeira em papel – Klabin; ferro velho em vergalhões – Gerdau; soja em óleo da soja – Coamo, Cocamar, Sadia, todo o pessoal que faz óleo. Meus produtos são para este tipo de empresa.
Graças a Deus tive vendas muito grandes, consegui aumentar cada vez mais o meu estoque. Soube investir, investia no produto mesmo. Investi também em imóveis. Ai também vem o conselho do meu avô, como ele falava, olha como ele é muito presente. Ele falava assim “Edélcio, imóvel não se vende, só se adquire!”. O velhinho não era fraco não, era fera. E tudo isso me deu condições de criar um patrimônio bastante bom.
Bem, há 10 anos atrás. Eu estava com 48 pra 49 anos e minha empresa foi contratada pelo Porto de Paranaguá, pra fazer um projeto de um dos silos verticais de concreto. Na verdade, é um grande charutão de concreto, como se fosse um prédio de uns 13 andares sem laje, vazado. Então se torna um grande charuto e é tudo armazenado lá embaixo, grãos como soja, aveia, milho. Tudo o que se tem de grãos.
E eles vendem muito pra fora, então navios de todo lugar do mundo vem buscar os grãos. Eles me chamaram pra fazer o projeto da mecanização, de tirar os grãos lá de baixo do silo, levar até a correia transportadora, que numa velocidade tal, faz uma parábola e cai exatamente no porão do navio. Eu fiz esse projeto, vendi os equipamentos, com exceção do motor elétrico, que eu não vendo. E deu tudo certinho.
Anos depois, em 15 de julho de 2005, o gerente de manutenção me chama desesperado “Edélsio, tá quebrando, não posso nem pensar em quebrar isso que tem um monte de navio esperando”. Não lembro quantos navios eram, mas deviam ser uns 30. Eu falei “não quebra, isso aí não pode quebrar. O fator de segurança é tão grande, que pode cair o silo, mas o equipamento não quebra”. Ele insistiu, então falei “vou te mandar 3 dos melhores técnicos que tenho, que estão em São Paulo!”. E ele “negativo! Você projetou, você vendeu, você vem!”.
Como o Porto era um grande cliente meu, falei “tá bom, eu vou!”. Contratei os 3 técnicos de São Paulo, que sabia que eram bons, e ok, fiquei esperando na hora marcada. E desde lá já estava sendo avisado que não era pra ir. Atrasaram muito, perdemos a hora e no último minuto eles aparecem lá. Descemos, fomos até Paranaguá, fomos até o silo de 13 andares. O silo tem elevador para pessoas, fora os elevadores de carga. Subimos os quatro, e eu pedi “olha ai o redutor, veja o que está acontecendo, que barulho é esse, veja se vai quebrar mesmo!”.
Eles foram e ninguém escutou nada. Então subi, e pus a orelha perto de um dos equipamentos. E realmente escutei o barulho, mas fiquei mais tranquilo. Porque a frequência do barulho era diferente da frequência das engrenagens lá de dentro do redutor, que era o que poderia travar e parar o equipamento. Era uma frequência muito maior, mais rápida. Eu pensei de onde está vindo esse barulho? Quando olhei pra baixo, eu vi que tinha um parafuso solto na base e era isso que estava fazendo barulho. E não era nada do barulho exagerado que ele falava que ia quebrar. Eu vi aquilo e vi o parafuso batendo.
O que eu fiz? Cometi um erro. Eu fui até a caixa de ferramentas e peguei a chave para fechar. Eu não deveria ter feito isso, deveria ter chamado um mecânico que tem muito mais força, está muito mais treinado pra isso. Mas fui eu. E essa chave ela tem uma haste de aço e eu fui fechando, apertando o parafuso. Mas chegou uma hora que ficou muito pesado e não conseguia mais prender o parafuso. Encostei aquilo no peito e fui me lançando junto aquela haste de aço. Eu fiquei em posição de mergulho praticamente. E fechei até uma hora que conseguiu travar o parafuso. Mas na hora que travou, eu escutei perfeitamente como escuto algumas noites, quando estou dormindo, um “tec”. Esse “tec” era a chave que estava com óleo e pulou do parafuso. Como eu já estava em posição de mergulho, e aquilo soltou, acabei mergulhando de vez. Caprichosamente eu mergulhei bem no meio do acionamento do elevador 5, que ficava do lado onde eu estava. O maior elevador do porto. Cai com a cabeça no meio daquele acionamento girando muito rápido. A engrenagem que gira a 1750 rpm, com a força de 350 cavalos. A engrenagem bateu na minha cabeça, quebrou meu crânio. Eu que não aguento um soco do Myke Tyson, também não aguento aquela parada, então desmaiei e perdi, claro a consciência. E lá fiquei. Foi tão rápido, que nenhum técnico me viu. E, segundo testemunhas, com a engrenagem batendo. Como não parava de bater e é muita potência, começou a trincar, até sair uma calota do crânio, como se fosse um pires de cafezinho. Como é muito rápido, muito forte, 1750 rpm, 350 cavalos, saiu seccionando, chupando. E me chupou ¼ do meu cérebro, exatamente um punho de massa encefálica.
Depois de “ressuscitar” 45 dias depois, soube que na primeira parada cardíaca fui atendido pela equipe de resgate, levado e operado neurologicamente para limpeza, contenção da hemorragia e proteção do cérebro com enxertia – no hospital regional de Paranaguá. Minha chance de sobrevivência era de 1%. Após oito dias, ainda em Paranaguá, a UTI aérea não conseguiu pousar na cidade, face muita chuva e pista inadequada, fui levado para Curitiba, sob grande risco de vida, por uma UTI terrestre até o aeroporto Afonso Pena e de lá para o hospital Alberto Eisnten na capital paulista.
Foi uma longa odisseia, por hospitais, com cirurgias, como a reparadora reconstrutiva do crânio com enxerto e microcirurgia de vasos e artérias, infecções graves, complicações clínicas, com exames invasivos delicados entre a vida e a morte, constantes dos longos relatórios médicos. Inclusive de outras cirurgias, no decorrer dos anos seguintes, que passei para colocação de prótese, troca de válvula de derivação e uma de tendões.
Bem desde que eu pude toquei minha empresa direto, desde que eu estava ciente para a vida de novo. Quando não pude tocar diretamente contratei gente pra fazer isso. Gerentes, supervisores. Eu falo com muito orgulho: 28 anos de empresa nesse Brasil que a maioria quebra em 3 ou 4 anos. A Favalli tem 28 anos, só distribuindo equipamento de primeira linha, Falcon, equipamentos que fazem o Brasil andar, crescer, movimentar. Movimentam a indústria, fazem a economia crescer, girar no Brasil, com muito orgulho.
Tive uma recuperação muito grande. Sempre superei todos os tipos de adversidade. Sou uma pessoa muito vaidosa. Olhar pra minha cabeça, mesmo depois do enxerto, não é nada bonito. Não foi fácil, mas superei graças a Deus, sempre muito presente na minha vida, por isso supero essas coisas.
Eu me casei com 26 anos e minha primeira mulher foi a Tania Balioni e tivemos uma filha a Daniela. Uma moça lindíssima, hoje com 25 anos. Fez gastronomia na Positivo. Formada, trabalhando, quer ter um negócio próprio. Parece que é de família, ter um negócio próprio. Eu acabei me separando da Tânia depois de 14 anos juntos. E acabei casando uma curitibana, Angela Ribas. Uma pessoa incrível, uma pessoa marcante na minha vida. E acabamos nos separando por problemas de família, um problema bobo, leviano. Mas as coisas acontecem porque tem que acontecer, Deus sabe o que faz. E eu supero, passo a régua. Sigo em frente. Isso é uma capacidade que Deus me deu, superar. Supero as coisas com facilidade.
Hoje eu faço além da fisioterapia, Pilates junto com a Márcia do “New You” e tenho novos projetos de vida com relação a trabalho, a empresa.
Estou assessorado por pessoas maravilhosas como o Milton William Duarte, vulgo “Piá”, comigo há 13 anos, mais a Lani e três funcionários que me assessoram, provisoriamente.
Eu sei, Deus não faz a obra incompleta. Eu sei que a obra de Deus é completa. Foi um milagre? Sim, foi um milagre, eu sei disso. Foi um milagre estar vivo. E eu sei que vou voltar a ter todos os movimentos, igual como eu tinha antes, quando semanalmente nadava, jogava tênis e andava de bicicleta cem quilômetros.
E confesso, depois do acidente, aprendi a rezar.
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Parabéns meu nobre, uma história de superação e fé, Deus tem um propósito em sua vida.