Nasci em Carazinho, estado do Rio Grande do Sul, em 24 de dezembro de 1942. Na verdade, nasci em Não-Me-Toque, que era o 2º distrito de Carazinho. Então, oficialmente, sou de Carazinho. Quando eu era pequeno, meus pais vieram de Machadinho, onde meu pai era madeireiro. Eu me criei no interior do Rio Grande do Sul, numa região madeireira.
O início de ensino eu fiz no colégio de freiras em Machadinho, que ainda não era município. Quando eu tinha 12 para 13 anos, precisava estudar, crescer no estudo. O pai quis me colocar no colégio marista. Eu, que tinha sete irmãs e sabia o quanto era difícil conviver com mulheres, disse a ele que deveria ser muito mais complicado homens de saia. Isso porque os maristas não são padres normais. Eles usam aquela batina e são irmãos. Então eu disse que não ia e o pai desistiu da ideia.
Depois ele quis que eu fosse pra Passo Fundo, para casa de uma tia, e eu também não queria. Então ele encontrou uma saída: eu vir pra Palmas, no Paraná, fazer o Ginásio.
Terra vermelha, no Rio Grande. Neve, nunca. O problema era quando aquilo desmanchava. Subia uma umidade, um frio que doía até os ossos. Eu não estava preparado pra aquilo, não estava equipado e voltei pra casa. Peguei meu rico dinheirinho e voltei pra casa. A mãe chorou. Então eles me equiparam – com botas de cano alto, ceroulão, coberta de pena de ganso – e me levaram de volta. Assim eu enfrentei até 8 graus negativos em Palmas, a segunda cidade mais fria do Brasil e que só perde pra São Joaquim (Santa Catarina). Foram momentos difíceis só nesse sentido.
Fiz amizades fantásticas lá, apesar de os fazendeiros serem meio retraídos. Chamavam a gente de gringo por causa da origem italiana mas fomos conquistando espaço.
Convivi com pessoas extraordinárias do hotel Palmas. Era a família do senhor Humberto Giotto, já falecido, que eu considero meu segundo pai e os filhos dele como irmãos. Tanto assim que lá me chamam de Giotto porque éramos eu e os três filhos dele. Um desses filhos, o Valmor, veio estudar em Curitiba comigo e prosperou.
Um fato interessante envolvendo o hotel é que lá – para onde eu tinha ido morar logo no primeiro ano em Palmas, porque meu cunhado vendeu a madeireira que tinha lá e foi morar em Coronel Vivida – eu arrumei meu primeiro trabalho. Fiquei responsável pela rodoviária, pela venda de passagens e controle de pacotes que saíam e chegavam por meio dos três ônibus da empresa Kowaleski , de União da Vitória, que circulavam entre Palmas, Pato Branco e Francisco Beltrão. Não tinha salário. Em troca, eu morava no hotel e tinha comida e roupa lavada. Era o que eu queria: morar num hotel. Mas tinha 13 anos e estava a 600 quilômetros de casa, para onde voltava no final do ano para passar as férias escolares.
Esse trabalho eu arrumei na volta das primeiras férias de final de ano, depois de saber por um amigo que meus pais brigaram por causa de mim. Devido àquela mania dos italianos, que brigavam um em cada janela da casa, os vizinhos ficavam sabendo do que se tratava e esse meu amigo, na rua, veio me dizer.
Meu primeiro ganho veio de uma ideia do Seo Humberto. Ele sugeriu que eu fizesse a entrega dos pacotes que chegavam pelos ônibus nos endereços dos destinatários que quisessem e cobrasse por isso, de acordo com a distância. Gostei da ideia porque era um dinheirinho que entrava. Logo comprei uma bicicleta, meu primeiro patrimônio, pra fazer isso. Entre os destinatários das entregas estava o bispo prelado de Palmas, dom Carlos Eduardo Sabóia de Melo Bandeira, que toda semana recebia o dinheiro das festas da igreja nas redondezas. Eu ia levar e ganhava santinho, café com bolo mas nada de pagamento. Quando fui cobrar, ele reclamou. Não recebi, mas também não entreguei o pacote. Contei pro seo Humberto, que disse pra eu não me preocupar. Na primeira vez, o bispo mandou alguém lá no hotel buscar o pacote. Quando chegou outro, fui levar e cobrei. Ele se acalmou e resolveu pagar. Se o seo Humberto interferiu, não fiquei sabendo.
Esse mesmo bispo, numa Semana Santa, foi almoçar no hotel. E nós, de famílias católicas, não comíamos carne naqueles dias. Quase ninguém no hotel comia. Mas o bispo foi servido com uma galinha inteira, de forno. Eu não aguentei e fui lá cobrar como era aquilo, afinal, ele era o bispo e estávamos na Semana Santa. A resposta: “Está tudo errado, meu filho. Quem trabalha, precisa ter força. E se a carne ajudar, não é pecado comer”. Nunca esqueci isso. Depois disso, servi o Exército em Palmas e, posso dizer, convivi com o crescimento da cidade.
No hotel, quase ganhei muito dinheiro por conta da Copa do Mundo de 1958. O pessoal fez um bolão e, como o grupo era pequeno, estabeleceu que o valor dobraria a cada partida se não houvesse ganhador. E a coisa foi dobrando, dobrando, dobrando e, no último jogo, precisei emprestar dinheiro pra participar. Coloquei 4 a 2 e o Brasil ia ganhando com esse placar. O jogo ia terminando assim e eu já contando o dinheiro, quando o Pelé me faz o quinto gol! Por causa disso, tinha bronca com o Pelé naquela época.
Mas foi tudo muito bom o que vivenciei em Palmas. Sou cidadão honorário de lá, de onde saí pra prestar vestibular em Curitiba com vários outros. Em Curitiba, morei numa pensão na esquina da Alameda Doutor Muricy com a Saldanha Marinho. Meu quarto ficava em cima de uma lavanderia, que lavava meu único terno depois de muitos dias de uso. A Fasa, onde eu trabalhava, exigia porque eu recebia a elite do processo. Mas o dinheiro recebido no Exército mal dava pra comprar sapatos. Eu entregava o terno numa sexta-feira e, na segunda-feira de manhã, um menino que trabalhava nessa lavanderia me devolvia, suspenso por um cabo de vassoura. Eu vestia e ia embora trabalhar.
Na empresa em que eu trabalhava – muito – sempre me preocupei com o que eu estava fazendo. Aí comecei a receber salários razoáveis e a montar minha estrutura. Comprei um Gordini e fui melhorando, me virando pra mostrar do que eu era capaz. Trabalhei 4 anos como comprador de peças dessa fornecedora de acessórios e ajudei a empresa a crescer.
Passei a gerente de compras já no terceiro dia de empresa. E assim eu me tornei responsável pelo setor de compras da Fasa.
Por conta disso, logo comecei a viajar pra São Paulo. Era muito bem recebido porque a nossa empresa era a segunda maior do Paraná, perdendo só pra HM. Fiquei na Fasa até montar uma empresa de representação, ao perceber que muitas fábricas relacionadas ao setor automotivo estavam chegando ao Brasil. Mas não saí , conforme pedido do seo Arnoldo, até deixar a empresa organizada para funcionar sem mim. Enquanto isso, por sugestão do patrão, montei a empresa, contratei funcionários e acertei de continuar na Fasa por mais 1 ano. Acabei ficando 1,5 ano na fornecedora e comecei a viajar, como representante, em 1967. Você não sabe o que foi minha primeira viagem a Londrina. Janeiro, 40 graus e eu de terno preto transpassado, caminhando na calçada pra visitar meu primeiro cliente: seo Romeu Assunção
Fiquei uns 15 minutos de pé, esperando que ele me recebesse. Veio com o cartão que eu havia entregue à secretária na mão e me observava. Meu cumprimento enérgico foi retribuído com um aperto de mão frouxo. Isso é um desastre pra um vendedor. E continuava a me observar. Até que perguntou se eu não era da cidade. “Porque aqui a gente não usa isso. Isso é coisa de capital. Faz o seguinte. Eu não atendo vendedor de tarde mas, como é a primeira vez do senhor aqui, o senhor visita outros clientes, almoça, tira essa gravata e volta depois, com outra roupa, que eu não estou aguentando ver isso”, disse. Voltei e vendi muito pra ele, ganhei muito dinheiro.
Conheci o Paraná inteiro por conta de ser representante. Era estrada de chão. Trocar pneu era um risco, um perigo. Não dava pra saber o que tinha a dez, 15 metros antes ou depois daquele pó. Tinha que sair da estrada pra fazer a troca. Um dia, saí num café. Naquela época, a gente chegava em Maringá só com os olhos e os dentes brancos. O resto, tudo vermelho. O pó vermelho umedecido pelo calor colava o corpo da gente no banco. E a gente chegava correndo porque, às 22 horas, tudo fechava na cidade e você não tinha nem onde comer. Então era chegar, tomar banho rápido e comer.
Quando vim pra Curitiba e comecei a trabalhar na Fasa, fui convidado pelo chefe da divisão de freios, Adinor Oliveira, que era jogador do Imperial do Mossunguê, pra jogar também. Ali conheci muita gente e formamos um timão. Tanto que saímos da terceira divisão do futebol amador pra jogar pela Taça Paraná com o Trieste. Eu, o Marco Busato e o Sargento Godói, que vieram comigo pra Curitiba, fizemos sucesso.
Então fui convidado pelo Ivo Bordignon para fazer parte do conselho do Colorado, do Ferroviário. Por causa de salário atrasado de jogador Tico, acabei comprando um terreno do clube em Guaratuba que estava sendo colocado à venda pra ajudar. Comprei à vista. Se o jogador não recebesse, não voltava pra jogar. Depois disso, como paguei à vista pelo terreno, técnico e outras pessoas com salários atrasados também começaram a aparecer no meu escritório e não me livrei mais daquilo. O terreno está na minha declaração de Imposto de Renda mas eu nunca vi. Depois fui diretor do Hipólito Arzua na segunda fase dele, quando do lançamento do Colorado. Fui vice-presidente de Patrimônio do Max Rosenmann, que substituiu o Arzua na presidência e me envolvi na fusão, antes e depois, pra salvar o clube depois do Aziz Domingos.
Assim, eu, Renato Trombini, Dely Macedo e outros fizemos o Colorado Empreendimentos. Pagamos tudo e, com o que sobrou, devolvemos o principal a quem havia feito doações e pedimos que deixassem o lucro para o clube. Eu me envolvi tanto que veio a ideia da fusão. O primeiro contato foi feito pelo publicitário Zeno José Otto, que criou a imagem do Neguinho da Vila. É que o Pinheiros havia feito uma consulta ao Zeno, interessado em ter mais torcida e o Zeno sugeriu que os clubes se unissem, Pinheiros e Colorado. Da primeira reunião participamos eu, Ernani Buchmann, Dely Macedo, Jorge Celestino, deputado Erondy Silvério e Valdir Pierini. Foi no escritório do Zeno.
Foram 2 anos de negociação permanente que incluiu até um fato curioso: uma diferença entre padres. O padre Chico, do Água Verde, era quem fazia a parte religiosa dentro do Pinheiros. E ele tinha ciúmes do padre Paulo, que já morreu, que levava o clube até nas calotas do carro. Como ele achava que ficaria de fora por conta da fusão, na missa, na homilia, ele falava contra o processo. Então, colorados e pinheirenses nos reunimos para um churrasco e um truco com o padre. Foi um passo de cada vez.
A definição da gralha, como símbolo, veio depois. A ideia inicial é que fosse uma águia, como a do Forte Norte americano. O último ato que selou a fusão foi um jantar para 50 colorados e 50 pinheirenses. Quando foram chegando as autoridades pinheirenses, a ideia que deu era que, ao invés de os neguinhos da vila invadirem as piscinas do Pinheiros – como a imprensa dizia – a elite do Pinheiros é que ia se sobrepor. A separação, na chegada, ficou evidente e eu disse ao Pacheco que teríamos que resolver aquilo com nossos discursos, que se não conseguíssemos, então, a coisa não avançaria. Fizemos isso, apelamos para que as pessoas se sentassem juntas, colorados e pinheirenses, e eles saíram de lá de mãos dadas. Daquela reunião saiu um dos maiores patrimônios do futebol brasileiro.
Eu sempre trabalhei como amigo do cliente, buscando aplicar aquilo que aprendi na escola. Enquanto representante e, depois, por meio das duas empresas de distribuição que abri: a Dasa Distribuidora Limitada (de peças para motores diesel MWM ) e a DP Distribuidora (de peças menores para todas as linhas automobilísticas). Era o terceiro maior do segmento no Paraná quando comecei a presidir o Paraná Club e , quando saí, o 11º. Pra ver a falta que faz o dono à frente do negócio. E me tornei presidente do nosso sindicato quando estava em viagem à Europa. Cheguei e fui informado de que tinha sido eleito. Propus novas eleições e voltei a ser eleito.
Tornei nossa instituição a terceira da federação e isso chamou a atenção sobre mim, o que viabilizou a sucessão do Brustolin, que tinha alguma idade. Foram me buscar pra suceder o presidente e não me arrependo. Estou no terceiro mandato, que vai até junho de 2018, e estamos investindo R$ 300 milhões em educação, saúde, esporte e cultura. Também sou vice-presidente da Confederação Nacional do Comércio, além de membro da Academia Paranaense de Letras devido ao apoio à educação e à cultura. É o caso do resgate de manifestações culturais como as cavalhadas da Lapa e o fandango do litoral. Minha cadeira é a 29.
Os conterrâneos gaúchos que me perdoem, mas meu coração bate pelo Paraná. É o estado que me acolheu e me dá tanta alegria, onde fiz minha família – apesar de ter vários familiares ainda no Rio Grande do Sul. Se estou na Federação, não me deram essa honraria de graça mas pelo reconhecimento ao produto do meu trabalho, iniciado aqui no Paraná. E eu quero dar a minha contribuição para corresponder ao respeito e tudo o que recebi dessa terra.
Nasci em Carazinho, estado do Rio Grande do Sul, em 24 de dezembro de 1942. Na verdade, nasci em Não-Me-Toque, que era o 2º distrito de Carazinho. Então, oficialmente, sou de Carazinho. Quando eu era pequeno, meus pais vieram de Machadinho, onde meu pai era madeireiro. Eu me criei no interior do Rio Grande do Sul, numa região madeireira.
O início de ensino eu fiz no colégio de freiras em Machadinho, que ainda não era município. Quando eu tinha 12 para 13 anos, precisava estudar, crescer no estudo. O pai quis me colocar no colégio marista. Eu, que tinha sete irmãs e sabia o quanto era difícil conviver com mulheres, disse a ele que deveria ser muito mais complicado homens de saia. Isso porque os maristas não são padres normais. Eles usam aquela batina e são irmãos. Então eu disse que não ia e o pai desistiu da ideia.
Depois ele quis que eu fosse pra Passo Fundo, para casa de uma tia, e eu também não queria. Então ele encontrou uma saída: eu vir pra Palmas, no Paraná, fazer o Ginásio.
Terra vermelha, no Rio Grande. Neve, nunca. O problema era quando aquilo desmanchava. Subia uma umidade, um frio que doía até os ossos. Eu não estava preparado pra aquilo, não estava equipado e voltei pra casa. Peguei meu rico dinheirinho e voltei pra casa. A mãe chorou. Então eles me equiparam – com botas de cano alto, ceroulão, coberta de pena de ganso – e me levaram de volta. Assim eu enfrentei até 8 graus negativos em Palmas, a segunda cidade mais fria do Brasil e que só perde pra São Joaquim (Santa Catarina). Foram momentos difíceis só nesse sentido.
Fiz amizades fantásticas lá, apesar de os fazendeiros serem meio retraídos. Chamavam a gente de gringo por causa da origem italiana mas fomos conquistando espaço.
Convivi com pessoas extraordinárias do hotel Palmas. Era a família do senhor Humberto Giotto, já falecido, que eu considero meu segundo pai e os filhos dele como irmãos. Tanto assim que lá me chamam de Giotto porque éramos eu e os três filhos dele. Um desses filhos, o Valmor, veio estudar em Curitiba comigo e prosperou.
Um fato interessante envolvendo o hotel é que lá – para onde eu tinha ido morar logo no primeiro ano em Palmas, porque meu cunhado vendeu a madeireira que tinha lá e foi morar em Coronel Vivida – eu arrumei meu primeiro trabalho. Fiquei responsável pela rodoviária, pela venda de passagens e controle de pacotes que saíam e chegavam por meio dos três ônibus da empresa Kowaleski , de União da Vitória, que circulavam entre Palmas, Pato Branco e Francisco Beltrão. Não tinha salário. Em troca, eu morava no hotel e tinha comida e roupa lavada. Era o que eu queria: morar num hotel. Mas tinha 13 anos e estava a 600 quilômetros de casa, para onde voltava no final do ano para passar as férias escolares.
Esse trabalho eu arrumei na volta das primeiras férias de final de ano, depois de saber por um amigo que meus pais brigaram por causa de mim. Devido àquela mania dos italianos, que brigavam um em cada janela da casa, os vizinhos ficavam sabendo do que se tratava e esse meu amigo, na rua, veio me dizer.
Meu primeiro ganho veio de uma ideia do Seo Humberto. Ele sugeriu que eu fizesse a entrega dos pacotes que chegavam pelos ônibus nos endereços dos destinatários que quisessem e cobrasse por isso, de acordo com a distância. Gostei da ideia porque era um dinheirinho que entrava. Logo comprei uma bicicleta, meu primeiro patrimônio, pra fazer isso. Entre os destinatários das entregas estava o bispo prelado de Palmas, dom Carlos Eduardo Sabóia de Melo Bandeira, que toda semana recebia o dinheiro das festas da igreja nas redondezas. Eu ia levar e ganhava santinho, café com bolo mas nada de pagamento. Quando fui cobrar, ele reclamou. Não recebi, mas também não entreguei o pacote. Contei pro seo Humberto, que disse pra eu não me preocupar. Na primeira vez, o bispo mandou alguém lá no hotel buscar o pacote. Quando chegou outro, fui levar e cobrei. Ele se acalmou e resolveu pagar. Se o seo Humberto interferiu, não fiquei sabendo.
Esse mesmo bispo, numa Semana Santa, foi almoçar no hotel. E nós, de famílias católicas, não comíamos carne naqueles dias. Quase ninguém no hotel comia. Mas o bispo foi servido com uma galinha inteira, de forno. Eu não aguentei e fui lá cobrar como era aquilo, afinal, ele era o bispo e estávamos na Semana Santa. A resposta: “Está tudo errado, meu filho. Quem trabalha, precisa ter força. E se a carne ajudar, não é pecado comer”. Nunca esqueci isso. Depois disso, servi o Exército em Palmas e, posso dizer, convivi com o crescimento da cidade.
No hotel, quase ganhei muito dinheiro por conta da Copa do Mundo de 1958. O pessoal fez um bolão e, como o grupo era pequeno, estabeleceu que o valor dobraria a cada partida se não houvesse ganhador. E a coisa foi dobrando, dobrando, dobrando e, no último jogo, precisei emprestar dinheiro pra participar. Coloquei 4 a 2 e o Brasil ia ganhando com esse placar. O jogo ia terminando assim e eu já contando o dinheiro, quando o Pelé me faz o quinto gol! Por causa disso, tinha bronca com o Pelé naquela época.
Mas foi tudo muito bom o que vivenciei em Palmas. Sou cidadão honorário de lá, de onde saí pra prestar vestibular em Curitiba com vários outros. Em Curitiba, morei numa pensão na esquina da Alameda Doutor Muricy com a Saldanha Marinho. Meu quarto ficava em cima de uma lavanderia, que lavava meu único terno depois de muitos dias de uso. A Fasa, onde eu trabalhava, exigia porque eu recebia a elite do processo. Mas o dinheiro recebido no Exército mal dava pra comprar sapatos. Eu entregava o terno numa sexta-feira e, na segunda-feira de manhã, um menino que trabalhava nessa lavanderia me devolvia, suspenso por um cabo de vassoura. Eu vestia e ia embora trabalhar.
Na empresa em que eu trabalhava – muito – sempre me preocupei com o que eu estava fazendo. Aí comecei a receber salários razoáveis e a montar minha estrutura. Comprei um Gordini e fui melhorando, me virando pra mostrar do que eu era capaz. Trabalhei 4 anos como comprador de peças dessa fornecedora de acessórios e ajudei a empresa a crescer.
Passei a gerente de compras já no terceiro dia de empresa. E assim eu me tornei responsável pelo setor de compras da Fasa.
Por conta disso, logo comecei a viajar pra São Paulo. Era muito bem recebido porque a nossa empresa era a segunda maior do Paraná, perdendo só pra HM. Fiquei na Fasa até montar uma empresa de representação, ao perceber que muitas fábricas relacionadas ao setor automotivo estavam chegando ao Brasil. Mas não saí , conforme pedido do seo Arnoldo, até deixar a empresa organizada para funcionar sem mim. Enquanto isso, por sugestão do patrão, montei a empresa, contratei funcionários e acertei de continuar na Fasa por mais 1 ano. Acabei ficando 1,5 ano na fornecedora e comecei a viajar, como representante, em 1967. Você não sabe o que foi minha primeira viagem a Londrina. Janeiro, 40 graus e eu de terno preto transpassado, caminhando na calçada pra visitar meu primeiro cliente: seo Romeu Assunção
Fiquei uns 15 minutos de pé, esperando que ele me recebesse. Veio com o cartão que eu havia entregue à secretária na mão e me observava. Meu cumprimento enérgico foi retribuído com um aperto de mão frouxo. Isso é um desastre pra um vendedor. E continuava a me observar. Até que perguntou se eu não era da cidade. “Porque aqui a gente não usa isso. Isso é coisa de capital. Faz o seguinte. Eu não atendo vendedor de tarde mas, como é a primeira vez do senhor aqui, o senhor visita outros clientes, almoça, tira essa gravata e volta depois, com outra roupa, que eu não estou aguentando ver isso”, disse. Voltei e vendi muito pra ele, ganhei muito dinheiro.
Conheci o Paraná inteiro por conta de ser representante. Era estrada de chão. Trocar pneu era um risco, um perigo. Não dava pra saber o que tinha a dez, 15 metros antes ou depois daquele pó. Tinha que sair da estrada pra fazer a troca. Um dia, saí num café. Naquela época, a gente chegava em Maringá só com os olhos e os dentes brancos. O resto, tudo vermelho. O pó vermelho umedecido pelo calor colava o corpo da gente no banco. E a gente chegava correndo porque, às 22 horas, tudo fechava na cidade e você não tinha nem onde comer. Então era chegar, tomar banho rápido e comer.
Quando vim pra Curitiba e comecei a trabalhar na Fasa, fui convidado pelo chefe da divisão de freios, Adinor Oliveira, que era jogador do Imperial do Mossunguê, pra jogar também. Ali conheci muita gente e formamos um timão. Tanto que saímos da terceira divisão do futebol amador pra jogar pela Taça Paraná com o Trieste. Eu, o Marco Busato e o Sargento Godói, que vieram comigo pra Curitiba, fizemos sucesso.
Então fui convidado pelo Ivo Bordignon para fazer parte do conselho do Colorado, do Ferroviário. Por causa de salário atrasado de jogador Tico, acabei comprando um terreno do clube em Guaratuba que estava sendo colocado à venda pra ajudar. Comprei à vista. Se o jogador não recebesse, não voltava pra jogar. Depois disso, como paguei à vista pelo terreno, técnico e outras pessoas com salários atrasados também começaram a aparecer no meu escritório e não me livrei mais daquilo. O terreno está na minha declaração de Imposto de Renda mas eu nunca vi. Depois fui diretor do Hipólito Arzua na segunda fase dele, quando do lançamento do Colorado. Fui vice-presidente de Patrimônio do Max Rosenmann, que substituiu o Arzua na presidência e me envolvi na fusão, antes e depois, pra salvar o clube depois do Aziz Domingos.
Assim, eu, Renato Trombini, Dely Macedo e outros fizemos o Colorado Empreendimentos. Pagamos tudo e, com o que sobrou, devolvemos o principal a quem havia feito doações e pedimos que deixassem o lucro para o clube. Eu me envolvi tanto que veio a ideia da fusão. O primeiro contato foi feito pelo publicitário Zeno José Otto, que criou a imagem do Neguinho da Vila. É que o Pinheiros havia feito uma consulta ao Zeno, interessado em ter mais torcida e o Zeno sugeriu que os clubes se unissem, Pinheiros e Colorado. Da primeira reunião participamos eu, Ernani Buchmann, Dely Macedo, Jorge Celestino, deputado Erondy Silvério e Valdir Pierini. Foi no escritório do Zeno.
Foram 2 anos de negociação permanente que incluiu até um fato curioso: uma diferença entre padres. O padre Chico, do Água Verde, era quem fazia a parte religiosa dentro do Pinheiros. E ele tinha ciúmes do padre Paulo, que já morreu, que levava o clube até nas calotas do carro. Como ele achava que ficaria de fora por conta da fusão, na missa, na homilia, ele falava contra o processo. Então, colorados e pinheirenses nos reunimos para um churrasco e um truco com o padre. Foi um passo de cada vez.
A definição da gralha, como símbolo, veio depois. A ideia inicial é que fosse uma águia, como a do Forte Norte americano. O último ato que selou a fusão foi um jantar para 50 colorados e 50 pinheirenses. Quando foram chegando as autoridades pinheirenses, a ideia que deu era que, ao invés de os neguinhos da vila invadirem as piscinas do Pinheiros – como a imprensa dizia – a elite do Pinheiros é que ia se sobrepor. A separação, na chegada, ficou evidente e eu disse ao Pacheco que teríamos que resolver aquilo com nossos discursos, que se não conseguíssemos, então, a coisa não avançaria. Fizemos isso, apelamos para que as pessoas se sentassem juntas, colorados e pinheirenses, e eles saíram de lá de mãos dadas. Daquela reunião saiu um dos maiores patrimônios do futebol brasileiro.
Eu sempre trabalhei como amigo do cliente, buscando aplicar aquilo que aprendi na escola. Enquanto representante e, depois, por meio das duas empresas de distribuição que abri: a Dasa Distribuidora Limitada (de peças para motores diesel MWM ) e a DP Distribuidora (de peças menores para todas as linhas automobilísticas). Era o terceiro maior do segmento no Paraná quando comecei a presidir o Paraná Club e , quando saí, o 11º. Pra ver a falta que faz o dono à frente do negócio. E me tornei presidente do nosso sindicato quando estava em viagem à Europa. Cheguei e fui informado de que tinha sido eleito. Propus novas eleições e voltei a ser eleito.
Tornei nossa instituição a terceira da federação e isso chamou a atenção sobre mim, o que viabilizou a sucessão do Brustolin, que tinha alguma idade. Foram me buscar pra suceder o presidente e não me arrependo. Estou no terceiro mandato, que vai até junho de 2018, e estamos investindo R$ 300 milhões em educação, saúde, esporte e cultura. Também sou vice-presidente da Confederação Nacional do Comércio, além de membro da Academia Paranaense de Letras devido ao apoio à educação e à cultura. É o caso do resgate de manifestações culturais como as cavalhadas da Lapa e o fandango do litoral. Minha cadeira é a 29.
Os conterrâneos gaúchos que me perdoem, mas meu coração bate pelo Paraná. É o estado que me acolheu e me dá tanta alegria, onde fiz minha família – apesar de ter vários familiares ainda no Rio Grande do Sul. Se estou na Federação, não me deram essa honraria de graça mas pelo reconhecimento ao produto do meu trabalho, iniciado aqui no Paraná. E eu quero dar a minha contribuição para corresponder ao respeito e tudo o que recebi dessa terra.