Ary Beira Fontoura nasceu em Curitiba, no Paraná, no dia 27 de janeiro de 1933 . Filho de um professor e de uma dona-de-casa de origem italiana, desde muito cedo manifestou a paixão pela arte de representar: aos quatro anos, já gostava de imitar as pessoas e transformava diversas situações em cenas teatrais. Aos dez, cantava em programas infantis da Rádio Clube Paranaense.
Ser ator naqueles tempos, porém, não era uma escolha bem vista pelas famílias, e a profissão, ainda não regularizada, estava associada à marginalidade. Resolveu, então, cursar faculdade de direito, que abandonou no último ano para seguir sua verdadeira vocação. Por seis meses trabalhou no circo dos Irmãos Queirolo, uma das diversões da capital paranaense entre as décadas de 1940 e 1970. Entusiasmado em seguir carreira, arrendou um imóvel e montou um grupo de teatro amador, a Sociedade Paranaense de Teatro, com amigos que também queriam se dedicar à atividade. Destacou-se em radioteatro. No início dos anos 1960, foi diretor de teledramaturgia na TV Paraná, onde também apresentou shows de televisão.
Buscando novas oportunidades, mudou-se para o Rio de Janeiro, em 31 de março de 1964 – no dia do golpe militar. Entre um teste e outro para integrar o elenco de peças teatrais, conseguiu gravar um LP, com a experiência de quem havia sido cantor de músicas românticas, como boleros e samba-canções, em bordéis de Curitiba. Participou de comédias ligeiras e musicais, atuando em Como Vencer na Vida Sem Fazer Força, com Marília Pêra, Procópio Ferreira e Moacyr Franco, e fez malabarismos para sobreviver e não retornar à cidade natal. Chegou, inclusive, a engraxar sapatos no prédio onde alugava um quarto e conseguiu um emprego de cozinheiro numa lanchonete.
Ainda no ano de 1964, foi escalado para substituir o ator Graça Mello na peça Mister Sexo, de João Bethencourt. Por intermédio do próprio Graça Mello, ganhou seu primeiro papel na TV Globo, no seriado Rua da Matriz (1965), de Lygia Nunes, Hélio Tys e Moysés Weltman. Em seguida, Ary Fontoura trabalhou no humorístico TV0 – TV1 (1966). Sua primeira novela foi Passo dos Ventos (1968), de Janete Clair. A partir de então, fez cerca de 40 novelas na TV Globo.
Entre seus principais papéis, destacam-se o costureiro Rodolfo Augusto, de Assim na Terra Como no Céu (1970), uma das primeiras representações de um homossexual na televisão; o professor de botânica Baltazar Câmara, da novela O Espigão (1974), que compensava sua repressão sexual colecionando mechas de cabelos de várias mulheres – o ator considera este um de seus personagens preferidos; e o professor Aristóbulo Camargo, de Saramandaia (1986), que se transformava em lobisomem nas noites de lua cheia. Todos esses papéis foram em novelas de Dias Gomes.
Em 1975, foi escalado para atuar em Gabriela, novela escrita por Walter George Durst a partir da obra de Jorge Amado. Na trama, viveu o personagem Doutor, que retorna a Ilhéus com planos de escrever sobre a sua família. Mais de 30 anos depois, integraria o elenco do remake de Gabriela, assinado por Walcyr Carrasco, no papel de Coriolano.
Um de seus personagens mais populares e elogiados pela crítica, no entanto, saiu das mãos da autora Ivani Ribeiro: o impagável protagonista Nonô Correia, da novela Amor com Amor Se Paga (1984). Inspirado em O Avarento, de Molière, Nono era pão-duro e sovina, colocava cadeados na geladeira e nos armários da despensa “para evitar desperdícios” e infernizava a vida dos filhos e da empregada Frosina (Berta Loran). O personagem era
humanizado ao longo da trama, após conhecer o órfão Zezinho (Oberdan Júnior). Até hoje Ary Fontoura conta que é chamado pelo nome do personagem.
Outras atuações marcantes, também caracterizadas por seu talento cômico, têm destaque na trajetória do ator. Como o prefeito Florindo Abelha, da novela Roque Santeiro (1985), de Dias Gomes e Aguinaldo Silva, que fazia par com Pombinha Abelha, interpretada por Eloísa Mafalda; o Coronel Artur da Tapitanga, de Tieta (1989) – novela de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares –, que dava abrigo às meninas pobres da cidade em troca de favores sexuais; e o inesquecível deputado corrupto Pitágoras William Mackenzie, de A Indomada (1997), que, inclusive, voltou ao ar em outra novela, de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares, Porto dos Milagres (2001). O personagem de A Indomada lhe valeu o prêmio de melhor ator da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
A atuação de Ary Fontoura na TV não se limitou às novelas. Ele trabalhou em humorísticos como Faça Humor Não Faça Guerra, na década de 1970, e Sai de Baixo, em 2000, além de fazer participações em diversos seriados e Casos Especiais. O ator teve, ainda, um papel de destaque no programa infanto-juvenil Sítio do Picapau Amarelo, em 2004.
Já nos anos 2000, roubou a cena junto com a atriz Nicette Bruno na novela Sete Pecados (2007), de Walcyr Carrasco: os dois interpretaram os personagens Romeo e Julieta, vivendo um romance na terceira idade que arrebatou o público. Em 2008, estreou no papel de Silveirinha, mordomo da personagem Donatela (Cláudia Raia), em A Favorita (2008), de João Emanuel Carneiro. No ano seguinte, fez uma participação especial na novela Caras & Bocas, de Walcyr Carrasco, como o milionário Jacques, avô da protagonista Dafne (Flávia Alessandra).
Além do trabalho na televisão, Ary Fontoura trabalhou em mais de 20 filmes, desde O Vigilante Rodoviário (1962), de Ary Fernandes, ao longa-metragem A Guerra dos Rocha (2008), de Jorge Fernando. Neste último, interpretou uma mulher, a matriarca octogenária em torno da qual gira a trama.
Sua passagem pelo teatro também é fecunda. Teve atuações em comédias clássicas, teatro de revista e passagens pelo Teatro Nacional de Comédia (TNC) e pelo Grupo Opinião. Em 1978, integrou o elenco de A Ópera do Malandro, de Chico Buarque, dirigida por Luiz Antônio Martinez Corrêa. Em 1979, destacou-se na peça Rasga Coração, de Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha. Na década de 1980, fez trabalhos memoráveis no elenco fixo do Teatro dos Quatro, no Rio de Janeiro, como as peças Rei Lear, de Shakespeare, com direção de Celso Nunes, e Sábado, Domingo e Segunda, de Eduardo De Filippo. Por suas atuações nestas duas últimas peças, recebeu duas vezes o Troféu Mambembe de melhor ator, em 1983 e 1986. Em 2005, comemorou 55 anos de carreira com a peça Marido de Mulher Feia Tem Raiva de Feriado, escrita e dirigida pelo ator, que também atuou, ao lado de Luciana Coutinho.
Em 2011, despontou na trama de Morde & Assopra como o prefeito falido Isaías “Zazá” Junqueira, casado com a fútil Minerva (Elizabeth Savalla) e pai da mimada Alice (Marina Ruy Barbosa) e do divertido homossexual Áureo (André Gonçalves). Além de ter sua atuação muito elogiada, Zazá Junqueira tornou-se um personagem inesquecível e segundo ele mesmo, um dos principais da sua carreira.
Em 2012 interpreta o tradicional Coronel Coriolano em Gabriela. No ano seguinte, encarna o médico Dr. Lutero Cardoso em Amor à Vida.