Nasci em 28 de julho de 1946, em Lindóia do Sul, na época município de Concórdia, Santa Catarina. Sou o último de treze irmãos, mas convivi com dez deles e o meu pai foi também o caçula de nove irmãos de meu avô, Antonio Cavalieri, imigrante italiano, que partindo de Tríssino, no Vêneto, com cinco filhos, chegou de navio em Florianópolis em novembro de 1891 e após se fixou numa Colônia reservada aos imigrantes italianos em Nova Veneza, SC. Minha avó era Rosa Corponi. Meu pai, Gaetano Cavalieri, nasceu em Urussanga, SC e minha mãe, Maria Girardi Cavalieri, em Nova Veneza. Casaram-se em 1924.
Nasci numa típica família descendente de italianos, do interior, onde a atividade principal era a agricultura e agropecuária, numa propriedade relativamente grande. Todos trabalhávamos e mesmo os menores não fugiam da regra e todos os filhos cursaram o Primário no Grupo Escolar local. Tínhamos também lazer: futebol num campo improvisado na própria propriedade, um rio para pesca, canoas e natação, carrinhos de madeira feitos por nós mesmos etc.
Minha família era católica fervorosa e, na época, era uma graça de Deus ter na mesma, ou um filho padre e/ou uma filha religiosa. E a nossa teve exatamente as duas situações. Então, eu, por influência dos pais e deste irmão que estava no seminário e menos por convicção, com onze anos, ingressei no seminário, onde fiz os quatro anos do, na época, ginásio, na cidade de Erexim, RS. Nele, tínhamos bons professores e um estudo de intenso aprendizado, que além das matérias específicas havia também o latim e um pouco de grego. Afinal, naquela época o padre rezava a missa em latim.
Ao fim destes quatro anos, desisti do seminário. Foi com muita apreensão que, com uma carta de um padre do seminário explicando os motivos, manifestei a desistência aos pais, esperando até repreensão deles; mas qual foi minha surpresa com a sua atitude de pesar, mas sem qualquer admoestação. Após isto, amei muito mais meus pais.
Meus irmãos em ordem de idade: Rosa, Guerino e Flávio (já falecidos), Clemente, Caetano, Miguel, Caetana, Raulino e Antonia e eu, o irmão mais novo.
Nesta época, janeiro de 1962, por influência de irmãos que estavam morando em Guaíra, Pr., a minha família se mudou para aquela cidade e eu queria cursar o ensino médio. O meu irmão seminarista Raulino que estava fazendo Filosofia e Teologia no seminário Rainha dos Apóstolos e após se tornou Padre aqui em Curitiba, através de seus contatos, me conseguiu um lugar para morar, quarto locado em uma casa de uma senhora idosa à av. Silva Jardim e um emprego no SESC da Rua José Loureiro, já que meu pai, embora me dando inicialmente um dinheiro, não conseguia me sustentar totalmente aqui em Curitiba. E, então, com “mala (de papelão) e cuia”, meio matuto do interior, chego eu em Curitiba, com quinze anos. Passei grandes dificuldades iniciais, ganhando do SESC salário mínimo de menor (meio salário mínimo), trabalhando como “office boy”, mas logo em cinco meses, devido ao meu bom desempenho, trabalhei em serviço interno, aumentaram meu salário e posteriormente fui designado como chefe do Cinema do SESC (trabalho que adorava) e após fui chefe da Seção de Documentação e Estatística. No início, queria estudar o Científico no Colégio Estadual do Paraná, mas não havia mais vagas. Minha Diretora do SESC, disse-me, que, como eu trabalhava lá, era melhor fazer o curso Técnico de Contabilidade. Como precisava do emprego, não ousei discordar, e então fiz este curso no Colégio Bom Jesus, à noite, financiado por uma Bolsa, ganha através de um concurso.
Sempre gostei do ramo de Ciências e após concluído aquele curso, e, óbvio, com pouco preparo naquelas matérias, ousei tentar Medicina. Me inscrevi num Cursinho preparatório de Vestibular, não no Bardal por poucas condições financeiras e prestei o Vestibular em janeiro de 1966 e não fui aprovado. Passei num curso de Licenciatura em Ciências na PUC, mas cancelei a matrícula e com estímulos de minha irmã, Ir. Caetana, resolvi tentar mais uma vez o Cursinho preparatório Dom Bosco. Foi um ano de uma vida de eremita. Dei tudo que podia, estudando intensamente, apenas continuando o trabalho no SESC. No Vestibular de janeiro de 1967, confiante, pois nos “provões” do cursinho, estava, em geral, nos primeiros lugares, fui aprovado em 55º. lugar na Medicina Federal, na turma de 240 alunos.
Os três primeiros anos da Faculdade, por ter menos aulas à tarde, consegui conciliar o trabalho no SESC e o curso, mas a partir do 4º. Ano (1970), tive que deixar de trabalhar devido a muitas aulas durante todo o dia. Foram oito anos no SESC, que além de trabalho, fazia parte de um Clubinho (Clube Ideal) com reuniões nos sábados com desenvolvimento de atividades recreativas, sociais e filantrópicas. Como tinha feito uma boa poupança, me mantive bem, sem trabalhar. No início deste 4º ano, prestei concurso e passei como aluno interno do Hospital Nossa Senhora das Graças que, com um corpo clínico de professores de primeira grandeza, iniciei na prática de, principalmente, Clínica Médica, Pediatria e Cirurgia Geral. Também neste ano, eu e um grande amigo de curso, meu compadre, Dr. Rodney Luiz Frare e Silva, fomos selecionados como Alunos Monitores da Cadeira de Doenças Infecciosas e Parasitárias, onde o Professor Titular era o Dr. Miroslau C. Baranski. Em ambas funções, permaneci até o 6º. ano. No fim do 4º. ano, aconteceu um evento muito triste na minha vida; faleceu meu pai de Infarto do Miocárdio. Por causa disto, durante as férias estudei bastante Doenças Cardíacas, e como não havia apostila de Cardiologia, me reuni com dois amigos de curso, Dr. Roberto Pinotti e Dr. André Balla e fizemos tal apostila, após consentimento e supervisão do Professor Dr. Paulo Franco de Oliveira, já falecido. Isto já foi um dos motivos que me fez escolher após o curso, Cardiologia. Em dezembro de 1972, tivemos a formatura com a Colação de Grau e baile. Sempre me dediquei e estudei muito durante o curso, obtendo o 4º. lugar na classificação final do curso.
Ainda como acadêmico, tinha recebido convite de um médico, dono de um hospital em Guaíra para trabalhar lá, após a formatura. Mas por decisão conjunta minha e de minha esposa, acabei me candidatando e sendo selecionado para Médico Residente de Clínica Médica no Hospital de Clínicas (HC) da UFPr. Foram 2 anos (1973 e 1974) de intensos estudos, com uma das melhores, senão a melhor, equipe de Professores de Clínica Médica do Paraná. No final do 2º. ano da Residência intensifiquei o estudo de Cardiologia. Como no HC não havia Unidade de Terapia Intensiva, tipo de atividade hospitalar em voga já por alguns anos e indispensável para o cardiologista, o Professor Dr. Gastão Pereira da Cunha, Titular de Cardiologia, conseguiu para alguns residentes interessados, nos dois meses finais da Residência, um Estágio em UTI em outras capitais. Então, eu, Dr. Rodney Luiz Frare e Silva e Dr. Alberto Szniter, fizemos este estágio no Instituto de Cardiologia Dante Pazzanese e Hospital da Beneficiência Portuguesa de São Paulo.
Em 1975, iniciamos a atividade profissional, pois afinal precisava atingir minha independência financeira, pois até aí, recém-casado, morava na residência de meus sogros. Inicialmente, trabalhei no Pronto Socorro e Clínica de um médico primo de minha mulher, Dr. Valdir Ribas. Não fazia nem um mês neste trabalho, no caminho de atender uma urgência domiciliar, sofri um acidente de trânsito, com fratura grave do fêmur que, de tão grave não podia ser tratada cirurgicamente. Então, permaneci no leito noventa e seis dias de hospital e mais sessenta dias em casa até uma recuperação ainda não total, e só então reiniciei o trabalho naquela Clínica. Nesta época fui contratado, precariamente, pelo INAMPS, onde atendia no ambulatório e posteriormente pelo então FUNRURAL. Em 1976, após aprovação em concurso público do DASP, federal, fui efetivado no INAMPS. Este, posteriormente englobou o FUNRURAL, perdi este vínculo, mas dentro do INAMPS fui designado chefe do setor do FUNRURAL. Em 1980, tendo sido aprovado naquele concurso do DASP por dois vínculos, fui também efetivado pelo segundo vínculo, médico cardiologista no Serviço Médico do Tribunal Regional do Trabalho. Neste, fui também Diretor do Serviço de Saúde, e me aposentei em 1998.
Em novembro de 1974, um grupo de médicos cardiologistas sob a liderança do Professor Dr. Paulo Franco de Oliveira, foi inaugurado o primeiro hospital em Curitiba especializado em Doenças do Coração: Hospital do Coração, à rua Cel. Dulcídio, 609. Tratava-se de um pequeno hospital, instalado modestamente em uma pequena casa, mas que tinha além de consultórios e internamentos, uma UTI Cardíaca e o primeiro Pronto Socorro cardiológico de 24 horas, todo aparelhado para atender emergências, inclusive domiciliar com ambulâncias equipadas com UTI móvel. Em julho de 1975, fui convidado e me incorporei ao corpo clínico deste hospital. Com dois plantonistas permanentes, o trabalho era intenso, cansativo e tenso, mas que me propiciou me tornar um verdadeiro cardiologista, onde pude angariar uma grande e fiel clientela. Muito frequentemente nos deparávamos com pacientes muito graves, com infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca terminal, tromboses e embolias, acidentes vasculares cerebrais etc. Inúmeras vezes atendíamos paradas cardíacas em domicílio e no hospital, estas, naturalmente, na grande maioria recuperadas. Tínhamos situações inusitadas e até trágico-cômicas, como aquelas de atendimentos de maridos passando mal ou mesmo tendo morte súbita quando “pulando a cerca” ou atendendo chamados de familiares de defuntos em velório para confirmar se estavam mesmo mortos. Muitas outras situações como estas ocorriam frequentemente e dariam até para escrever um livro. Em 1996, o hospital expandiu sua capacidade com parceria com o Hospital de Fraturas XV, tendo se mudado para novas instalações anexas àquele hospital. Posteriormente, tal parceria se desfez e foi feita uma nova com o Hospital Vita Batel, se mudando em anexo ao mesmo, à rua Angelo Sampaio, onde permanece até hoje. Sou do corpo clínico do Hospital Vita.
Sempre procurando aperfeiçoamento profissional, em 1978 e 1979, fiz o curso de Mestrado em Cardiologia no Hospital de Clínicas da UFPR., sob a chefia do mestre titular, Prof. Dr. Gastão Pereira da Cunha. Infelizmente, devido à grande sobrecarga de trabalho na ocasião (tinha quatro a cinco locais de trabalho), não pude fazer a dissertação exigida, e então só me foi conferido o título de Especialista em Cardiologia, posteriormente, após prova, confirmado também pela Sociedade Brasileira de Cardiologia/AMB. Tive também participação ativa em sociedades da especialidade, tais a Sociedade Paranaense e Brasileira de Cardiologia, inclusive em diretorias. Participei em muitos congressos, simpósios, jornadas etc., seja como participante, palestrante, coordenador etc.
Agora vou abordar o assunto mais importante a mim e que acredito deva ser para todos: a família. Em 1969, estando no 3º. ano de Medicina, comecei a namorar minha esposa, Jussara Maria Ribas. Casamo-nos em dezembro de 1972, dois dias após a minha formatura. Ela é enfermeira e mestre em Educação e praticamente só exerceu o magistério, tendo sido professora e diretora do curso de Enfermagem da PUC e da Universidade Tuiuti. Aposentou-se em 2008. Temos um filho e uma filha. O filho, é o Marco Antonio que é Doutor em Economia pela UFMG, Pós-Doutorado na Universidade de Chicago, Professor de Economia da UFPr. e atualmente é Pró-Reitor de Administração da mesma Universidade. Ele é casado com Ednéia, Doutora e Professora de Patologia Básica da mesma Universidade com quem tem dois filhos: Gabriel e Antonio Augusto. A filha, é a Marcia Maria, reside em Belo Horizonte, é Doutora e Professora de Arquitetura da UFMG e da Universidade Instituto Metodista Izabela Hendrix daquela cidade. Ela é casada com Fabricio Durão, médico Psiquiatra Infantil e médico Psiquiatra da Policia Militar de MG., com quem tem um filho: Daniel.
Finalmente, acredito que a minha missão de médico está sendo cumprida satisfatoriamente para os meus pacientes e para mim. O paciente deve ser ouvido atentamente e nunca deve ser atendido com pressa mesmo com queixas que aparentemente não sejam importantes. Abomino consultas de 10 a 15 minutos! A minha, quase nunca é menos de 60, mesmo no retorno/reconsulta. Por quê? O paciente quer saber o que está acontecendo com ele e nós médicos devemos lhe explicar TUDO sobre o seu diagnóstico, prognóstico e tratamento. Para este, então, deve-se dar boas razões para, quase sempre na nossa especialidade, a necessidade de sua aplicação continua ressaltando mais benefícios que custos. Isto é mais importante do que falar só poucos minutos e solicitar uma quantidade enorme de exames. Tal conduta, fará com que a relação médico/paciente seja a melhor possível, angariando a confiança do teu paciente, é a peça chave para o êxito do tratamento.