Eu sou filho de Porfirio Antoniuk e Antonina Antoniuk. Ele, natural da Ucrânia, chegou ao Brasil com oito anos de idade, e ela, nasceu assim que o navio chegou aqui. Meus pais tiveram nove filhos, mas os quatro primeiros morreram. Moravam em Prudentópolis, e o médico mais próximo distava 60 quilômetros. Eu sou o último dos cinco remanescentes.
Estudei o primário na minha cidade natal, Prudentópolis, no Colégio Ucraniano. O início foi muito difícil, minha família era humilde, mas muito correta, muito certa. Eu ajudava a minha mãe desde o início, ela tirava o leite das vacas, e eu entregava para várias cidades antes de ir ao colégio. Terminado o colégio, eu voltava para minha casa, e seguia o caminho de uma criança de sete, oito anos, por aí. O segundo ciclo, eu fiz em Curitiba, no Colégio Estadual do Paraná, mas terminei o ginásio em Ponta Grossa.
Já o científico, eu fiz totalmente aqui em Curitiba, no Colégio Estadual do Paraná, sempre estudei em colégio público. Terminado este ciclo segundo, já comecei a trabalhar. Trabalhava na farmácia Minerva durante a noite, deveria ter uns 12, 13 anos. Estudava a tarde e dormia de manhã. Assim fiz o curso secundário no Colégio Estadual do Paraná, naquele tempo chamava-se científico.
Aí eu fiz o vestibular de medicina. Dos 27 colegas meus, do Colégio Paranaense Externato, 23 passaram no vestibular, em vários cursos, vejam como era alto o nível de ensino naquela época. Eu fiz vestibular de medicina, estudei poucos meses no cursinho, e passei em primeiro lugar. Interessante que quando eu fui ver o resultado, comecei ver de trás para frente. Chegou no número dez, eu disse comigo “reprovei, vou embora”. Na saída, me agarraram, meus companheiros, e disseram “você passou em primeiro lugar”. Voltei, olhei de longe, porque estava cheio de veterano esperando para o martírio, que naquele tempo era horrível, e disse “é realmente reprovei”. Saí, cortei o cabelo, peguei o ônibus no dia seguinte e voltei para Prudentópolis, minha terra natal.
Passaram-se alguns dias, voltei até a universidade, e olhei de novo a listagem, e o meu nome estava em terceiro lugar. Eu descobri que havia um prêmio para quem passasse em primeiro. Ele, tinha um apaniguado, já naquela época acontecia isso, trocaram a minha posição pela dele, deixei passar porque isso não interferiu.
Assim que eu me formei, minha mãe esteve muito doente, e pediu que eu permanecesse algum tempo em Prudentópolis. Fiquei alguns meses lá, mas alguns amigos meus pediram que eu fosse trabalhar em Guarapuava. E assim fui para Guarapuava, 60 quilômetros de Prudentópolis. Comecei a trabalhar lá, e me dei muito bem.
Inclusive tem um fato pitoresco. Um jornalista, amante do jogo de snooker, teve uma desavença com um companheiro dele, e acabou levando uma tacada na cabeça. O jornalista caiu, entrou em coma, e ficou alguns dias no hospital.
Como durante o transcurso do meu estudo na medicina, eu trabalhava no Hospital Adauto Botelho desde o terceiro ano, eu acompanhava um neurocirurgião, José Portugal Pinto. No início era instrumentista dele, depois ajudava nas operações, então eu tinha certos conhecimentos do procedimento neurocirúrgico.
Não havia material para operar, então pedi a um dentista, que me emprestasse um boticão e fiz uma craniectomia. Alicerçado na clínica, porque ele estava com uma midríase no olho direito. Daí saiu o sangue, jorrou o sangue, e sem eu saber, um fotógrafo, companheiro de jornal deste paciente, estava atrás da mesa de cirurgia. Ele fotografou a saída do sangue.
Assim que o sangue saiu, ele perdeu a consciência, caiu, bateu a cabeça e ficou em coma por dias também. Mas foi se recuperando, era somente uma contusão. E o que foi operado, em poucos dias recuperou-se também. A história difundiu-se, e eu me tornei um médico muito conhecido.
Permaneci em Guarapuava um ano, mas eu tinha sugestão do professor José Portugal, que era o único neurocirurgião aqui em Curitiba, uma cidade de 600 mil habitantes na época. Ele me orientou para ir a Montevidéu, que tinha um serviço de neurocirurgia muito bem equipado, muito bem preparado técnico e cientificamente. Fui lá, fiz um concurso, e meses depois, próximo ao natal, recebi uma carta dizendo assim “venha aqui, dia 1º você começa o seu treinamento”. Fui para lá, deixei tudo, e permaneci quase quatro anos no Instituto de Neurocirurgia de Montevidéu.
Lá eu fui agraciado com uma bolsa de estudos da Organização de Estados Americanos, que exigia o término do meu treinamento no Instituto de Neurocirurgia de Nova York. Pois bem, fui para lá, terminei o curso de neurocirurgia, e voltei aqui para Curitiba. Só havia praticamente um neurocirurgião, comecei a trabalhar intensamente, porque havia serviço para muito mais do que um neurocirurgião. Sempre visando entrar na universidade, porque eu queria ser professor. E aí, na universidade, fiz todos os concursos.
A minha progressão universitária: em 1966 fiz concurso para auxiliar de ensino em neurocirurgia, na Universidade Federal do Paraná. Logo após, por concurso público, atingi o grau de professor assistente em neurologia. Fui o primeiro colocado entre seis candidatos, inclusive um candidato veio de Paris, que acabou sendo meu amigo. Fui transferido para o Departamento de Neurocirurgia, e por titulação, fui promovido a professor adjunto.
Em 1976, fiz concurso para docência livre, do Departamento de Cirurgia, especialidade neurocirurgia. Previamente, recebi da reitoria a catalogação de notório saber, logo após, assumi a coordenação da recém-criada disciplina de neurocirurgia, da qual fui coordenador por mais de 30 anos. Durante quatro décadas participei na formação de aproximadamente nove mil médicos. A disciplina de neurocirurgia da Universidade Federal do Paraná, sediada no Hospital de Clínicas de Curitiba, foi catalogada como excelente pelo MEC. A disciplina sob a minha chefia formou três dezenas de neurocirurgiões altamente qualificados, e que se distribuíram pelo Paraná, pelo Brasil e pelo mundo afora. O treinamento era de quatro anos.
Em 1979, fiz concurso público para professor titular da neurocirurgia. Durante quatro anos fui chefe do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Paraná. Fui orientador de várias teses de mestrado e doutorado. Fui chefe do Departamento de Cirurgia do Hospital Nossa Senhora das Graças, por 20 anos. Chefe do Serviço de Neurocirurgia do mesmo hospital, que, junto com o professor João Cândido de Araújo, formamos dez neurocirurgiões, com quatro anos de permanência cada um, altamente qualificados, dos quais três são proeminentes professores nos Estados Unidos.
Quero abrir um parêntese, de como foi minha chegada em Curitiba. Depois que eu voltei dos Estados Unidos, eu não tinha condições econômicas nenhuma. Cheguei ao aeroporto do Rio de Janeiro, o fiscal abriu a minha mala, e estava cheia de material cirúrgico. Eu tinha comprado com todo o dinheiro que eu possuía, que não era muito, em material para neurocirurgia. O fiscal quis que eu lhe agradasse um pouco com propina, disse “olha, não tenho nada. Tudo que eu tenho vai dar pra chegar só até Curitiba”. Cheguei a Curitiba, não tinha onde ficar. Fui ao Hotel Braz, que eu conhecia antes como estudante, e eles me acolheram. Eu disse logo que não podia garantir quando iria pagar, mas mesmo assim eles me aceitaram.
Pois bem, e a minha família, retrocedendo um pouco a história. Cinco irmãos sobreviveram, um foi dentista, o outro foi um contabilista, uma professora de curso superior, uma irmã não quis estudar, e eu que fiz medicina. Importante salientar que durante o curso de medicina, eu sempre trabalhei em hospitais, e sempre fui autossuficiente. A minha esposa, bonita, sempre, vamos fazer 50 anos de casados. Minha esposa chama-se Ingrid Scharappe Antoniuk.
Quem me acompanhou na medicina: dois sobrinhos. Um é neuropediatra, doutor Sérgio Antoniuk, hoje talvez o nome mais conhecido no Brasil nesta área. O outro é um neurocirurgião, diretor da área Neurocirúrgica do Hospital do Trabalhador, ambos são professores da universidade. E um terceiro sobrinho é dentista, que está em Portugal, fez todos os concursos lá e está bem.
É evidente que, no transcurso da minha vida acadêmica, eu atendi muitos pacientes, operei centenas de indivíduos. Participei como examinador, examinava todos os anos a escolha para o residente de neurocirurgia. Havia anos em que se apresentavam 30 candidatos para uma vaga, com duração de quatro anos.
Como membro de bancas examinadoras, ou como presidente, examinei dezenas de candidatos para professor assistente, docência livre e professor titular da Universidade Federal do Paraná. Fiz parte de bancas examinadoras de concurso para docência livre na USP, São Paulo, Faculdade de Medicina de Porto Alegre, Londrina. E concurso para professor titular de neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina da Universidade de Brasília. Exerci por quatro anos, após eleição, inicialmente como vice-presidente, depois como presidente, do Conselho de Curadores da Universidade.
Fui presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgiões Capítulo do Paraná, no ano 1900. Sou membro da Academia Paranaense de Medicina, membro da Academia Brasileira de Neurocirurgia, membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Homenageado com louvor pela Sociedade de Neurocirurgia do Paraná, em 1998. No 28º Congresso Latino Americano de Neurocirurgia, realizado em Santiago no Chile, recebi medalha de ouro da Federação Latino Americana de Neurocirurgia, primeiro brasileiro a recebê-la. Trata-se do galardão máximo da entidade.
Em 2006, no 26º Congresso Brasileiro de Neurocirurgia, realizado em Florianópolis, recebi uma placa com os dizeres “Ao Professor Doutor Affonso Antoniuk, pela influência decisiva na formação de neurocirurgiões brasileiros. Homenagem da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia”.
Participei com vários trabalhos científicos em congressos no Brasil e no Exterior. Participei do 12º Congresso Mundial de Neurocirurgia, como palestrante em Marrocos, em 2005. Fui convidado como palestrante para o 14º Congresso Mundial de Neurocirurgia, nos Estados Unidos, na cidade de Boston, no ano 2009. E uma série de outras participações em congressos, que eu até não me lembro de todos.
Idealizador e criador da Clínica Diagnóstico Avançado por Imagem, DAPI. De propriedade da Liga das Senhoras Católicas de Curitiba. É uma entidade que me orgulha, tem mais de 26 anos. Talvez seja o centro de imagem mais avançado do Brasil. Possui os aparelhos mais avançados que existem no mundo.
Adquirimos o aparelho mais avançado que existe de tomografia, só tem um aqui, um em São Paulo e outro no Peru. Devem existir somente seis no mundo. Faz uma imagem do coração em uma volta somente. Compramos também um aparelho de diagnóstico para lesões de mama.
O DAPI faz milhares de exames por mês. Além do mais, a maior parte do sustentáculo econômico, mantenedor de seis creches da Liga das Senhoras Católicas, é através do que é produzido pelo DAPI. Os médicos nem assinam cheque, ganham de acordo com a produtividade. E também, muito importante, o DAPI, pela obrigatoriedade do seu estatuto, direciona 20% do faturamento dos exames, que vêm quase todos dos planos de saúde, para pacientes que não têm condições econômicas.
Basta o médico fazer o requerimento do exame, informar o procedimento ao paciente, e providenciar um comprovante de que o paciente não possui condições financeiras. Tem semanas que fazemos mais de 80 exames gratuitos. E preferimos fazer exames caros, como ressonância e tomografia computadorizada, para conseguir os 20% do faturamento.
Fazendo isso, atendendo os pacientes necessitados, e mantendo praticamente 700 crianças em creche, justifica esse trabalho social que o DAPI faz para a sociedade de Curitiba.
Pois bem, sou fundador também de um hospital de neuropsiquiatria do Paraná, que chama San Julian, em homenagem a um grande neurocirurgião uruguaio. São 400 leitos entre adultos e adolescentes, e é considerado pelo Ministério da Saúde, um hospital altamente qualificado.
Uma terceira coisa que me dá muita alegria, há 20 anos, aqui em Curitiba, se falava muito da cisticercose. A incidência de ataque epilético era muito intensa. E o estudo feito no Hospital de Clínicas, pelo grupo da neurologia, provou que 64% dos pacientes que tinham ataque epilético, a causa era a neurocisticercose. Isto é, o parasita dentro do cérebro.
Naquela época nós tratávamos com um medicamento que só existia para tratamento em animais, com dosagem pequena. Aí eu comecei a usar em seres humanos, com prévia autorização. E tinha que receitar dez comprimidos, três ou quatro vezes por dia. Até o vendedor do remédio duvidava da minha sanidade quando eu pedia tanto comprimido.
Pois bem, um laboratório me procurou e disse “vamos fazer um comprimido com uma dosagem de 400 miligramas, aí não vai precisar tomar tantos comprimidos”. E é o que hoje se usa na prática. Eu fui o primeiro a usar esse medicamento no tratamento da cisticercose, no mundo. Era tão frequente em Curitiba há 20 anos, que eu tinha no hospital de clínicas, em um andar de neurocirurgia, dez leitos reservados para tratar da neurocisticercose. E a mortalidade naquela época era de 16%. Hoje eu digo com alegria, acho que essa doença, no Paraná, está erradicada.
Outro projeto meu, que me dá alegria, foi com o desastre que teve com a usina atômica, na Ucrânia, em Chernobyl. Muitas crianças que depois nasceram, ou algumas que sobreviveram, desenvolveram um câncer disseminado. Um câncer de difícil cura. Fazia-se transfusão de medula, e muitos desses garotos, dessas meninas, foram trazidos para Curitiba, para o Hospital de Clínicas.
Um dia eu tive a ideia e transmiti a outros médicos, que ao invés de trazer as crianças doentes, porque não trazer um grupo de médicos e enfermeiras. Deixá-los um ano aqui, para que aprendam as técnicas e voltem para Ucrânia e comecem a fazer o tratamento lá. Dois anos depois, eu fui chamado para lá, e tive o prazer de ver um hospital que praticamente o governo da Alemanha construiu para eles, especializado nesse tratamento de câncer secundário à irradiação. Eles já tinham feito mais de 100 tratamentos e transplantes de medula com ótimos resultados. E isso me alegra muito.
Tudo isso que eu falei é a trajetória da minha vida. Mas a maioria das coisas significativas que eu fiz, não foi sozinho. Ninguém faz nada sozinho, é preciso ter uma equipe, ter um dom de motivá-los. Eles devem acreditar naquilo que você acredita. Em praticamente tudo, com exceções de concursos, eu nunca estive só, sempre estive com amigos. E muitos deles continuam até hoje. Então eu tenho a impressão que uma parte que me cabia fazer, eu fiz.
Eu sou filho de Porfirio Antoniuk e Antonina Antoniuk. Ele, natural da Ucrânia, chegou ao Brasil com oito anos de idade, e ela, nasceu assim que o navio chegou aqui. Meus pais tiveram nove filhos, mas os quatro primeiros morreram. Moravam em Prudentópolis, e o médico mais próximo distava 60 quilômetros. Eu sou o último dos cinco remanescentes.
Estudei o primário na minha cidade natal, Prudentópolis, no Colégio Ucraniano. O início foi muito difícil, minha família era humilde, mas muito correta, muito certa. Eu ajudava a minha mãe desde o início, ela tirava o leite das vacas, e eu entregava para várias cidades antes de ir ao colégio. Terminado o colégio, eu voltava para minha casa, e seguia o caminho de uma criança de sete, oito anos, por aí. O segundo ciclo, eu fiz em Curitiba, no Colégio Estadual do Paraná, mas terminei o ginásio em Ponta Grossa.
Já o científico, eu fiz totalmente aqui em Curitiba, no Colégio Estadual do Paraná, sempre estudei em colégio público. Terminado este ciclo segundo, já comecei a trabalhar. Trabalhava na farmácia Minerva durante a noite, deveria ter uns 12, 13 anos. Estudava a tarde e dormia de manhã. Assim fiz o curso secundário no Colégio Estadual do Paraná, naquele tempo chamava-se científico.
Aí eu fiz o vestibular de medicina. Dos 27 colegas meus, do Colégio Paranaense Externato, 23 passaram no vestibular, em vários cursos, vejam como era alto o nível de ensino naquela época. Eu fiz vestibular de medicina, estudei poucos meses no cursinho, e passei em primeiro lugar. Interessante que quando eu fui ver o resultado, comecei ver de trás para frente. Chegou no número dez, eu disse comigo “reprovei, vou embora”. Na saída, me agarraram, meus companheiros, e disseram “você passou em primeiro lugar”. Voltei, olhei de longe, porque estava cheio de veterano esperando para o martírio, que naquele tempo era horrível, e disse “é realmente reprovei”. Saí, cortei o cabelo, peguei o ônibus no dia seguinte e voltei para Prudentópolis, minha terra natal.
Passaram-se alguns dias, voltei até a universidade, e olhei de novo a listagem, e o meu nome estava em terceiro lugar. Eu descobri que havia um prêmio para quem passasse em primeiro. Ele, tinha um apaniguado, já naquela época acontecia isso, trocaram a minha posição pela dele, deixei passar porque isso não interferiu.
Assim que eu me formei, minha mãe esteve muito doente, e pediu que eu permanecesse algum tempo em Prudentópolis. Fiquei alguns meses lá, mas alguns amigos meus pediram que eu fosse trabalhar em Guarapuava. E assim fui para Guarapuava, 60 quilômetros de Prudentópolis. Comecei a trabalhar lá, e me dei muito bem.
Inclusive tem um fato pitoresco. Um jornalista, amante do jogo de snooker, teve uma desavença com um companheiro dele, e acabou levando uma tacada na cabeça. O jornalista caiu, entrou em coma, e ficou alguns dias no hospital.
Como durante o transcurso do meu estudo na medicina, eu trabalhava no Hospital Adauto Botelho desde o terceiro ano, eu acompanhava um neurocirurgião, José Portugal Pinto. No início era instrumentista dele, depois ajudava nas operações, então eu tinha certos conhecimentos do procedimento neurocirúrgico.
Não havia material para operar, então pedi a um dentista, que me emprestasse um boticão e fiz uma craniectomia. Alicerçado na clínica, porque ele estava com uma midríase no olho direito. Daí saiu o sangue, jorrou o sangue, e sem eu saber, um fotógrafo, companheiro de jornal deste paciente, estava atrás da mesa de cirurgia. Ele fotografou a saída do sangue.
Assim que o sangue saiu, ele perdeu a consciência, caiu, bateu a cabeça e ficou em coma por dias também. Mas foi se recuperando, era somente uma contusão. E o que foi operado, em poucos dias recuperou-se também. A história difundiu-se, e eu me tornei um médico muito conhecido.
Permaneci em Guarapuava um ano, mas eu tinha sugestão do professor José Portugal, que era o único neurocirurgião aqui em Curitiba, uma cidade de 600 mil habitantes na época. Ele me orientou para ir a Montevidéu, que tinha um serviço de neurocirurgia muito bem equipado, muito bem preparado técnico e cientificamente. Fui lá, fiz um concurso, e meses depois, próximo ao natal, recebi uma carta dizendo assim “venha aqui, dia 1º você começa o seu treinamento”. Fui para lá, deixei tudo, e permaneci quase quatro anos no Instituto de Neurocirurgia de Montevidéu.
Lá eu fui agraciado com uma bolsa de estudos da Organização de Estados Americanos, que exigia o término do meu treinamento no Instituto de Neurocirurgia de Nova York. Pois bem, fui para lá, terminei o curso de neurocirurgia, e voltei aqui para Curitiba. Só havia praticamente um neurocirurgião, comecei a trabalhar intensamente, porque havia serviço para muito mais do que um neurocirurgião. Sempre visando entrar na universidade, porque eu queria ser professor. E aí, na universidade, fiz todos os concursos.
A minha progressão universitária: em 1966 fiz concurso para auxiliar de ensino em neurocirurgia, na Universidade Federal do Paraná. Logo após, por concurso público, atingi o grau de professor assistente em neurologia. Fui o primeiro colocado entre seis candidatos, inclusive um candidato veio de Paris, que acabou sendo meu amigo. Fui transferido para o Departamento de Neurocirurgia, e por titulação, fui promovido a professor adjunto.
Em 1976, fiz concurso para docência livre, do Departamento de Cirurgia, especialidade neurocirurgia. Previamente, recebi da reitoria a catalogação de notório saber, logo após, assumi a coordenação da recém-criada disciplina de neurocirurgia, da qual fui coordenador por mais de 30 anos. Durante quatro décadas participei na formação de aproximadamente nove mil médicos. A disciplina de neurocirurgia da Universidade Federal do Paraná, sediada no Hospital de Clínicas de Curitiba, foi catalogada como excelente pelo MEC. A disciplina sob a minha chefia formou três dezenas de neurocirurgiões altamente qualificados, e que se distribuíram pelo Paraná, pelo Brasil e pelo mundo afora. O treinamento era de quatro anos.
Em 1979, fiz concurso público para professor titular da neurocirurgia. Durante quatro anos fui chefe do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Paraná. Fui orientador de várias teses de mestrado e doutorado. Fui chefe do Departamento de Cirurgia do Hospital Nossa Senhora das Graças, por 20 anos. Chefe do Serviço de Neurocirurgia do mesmo hospital, que, junto com o professor João Cândido de Araújo, formamos dez neurocirurgiões, com quatro anos de permanência cada um, altamente qualificados, dos quais três são proeminentes professores nos Estados Unidos.
Quero abrir um parêntese, de como foi minha chegada em Curitiba. Depois que eu voltei dos Estados Unidos, eu não tinha condições econômicas nenhuma. Cheguei ao aeroporto do Rio de Janeiro, o fiscal abriu a minha mala, e estava cheia de material cirúrgico. Eu tinha comprado com todo o dinheiro que eu possuía, que não era muito, em material para neurocirurgia. O fiscal quis que eu lhe agradasse um pouco com propina, disse “olha, não tenho nada. Tudo que eu tenho vai dar pra chegar só até Curitiba”. Cheguei a Curitiba, não tinha onde ficar. Fui ao Hotel Braz, que eu conhecia antes como estudante, e eles me acolheram. Eu disse logo que não podia garantir quando iria pagar, mas mesmo assim eles me aceitaram.
Pois bem, e a minha família, retrocedendo um pouco a história. Cinco irmãos sobreviveram, um foi dentista, o outro foi um contabilista, uma professora de curso superior, uma irmã não quis estudar, e eu que fiz medicina. Importante salientar que durante o curso de medicina, eu sempre trabalhei em hospitais, e sempre fui autossuficiente. A minha esposa, bonita, sempre, vamos fazer 50 anos de casados. Minha esposa chama-se Ingrid Scharappe Antoniuk.
Quem me acompanhou na medicina: dois sobrinhos. Um é neuropediatra, doutor Sérgio Antoniuk, hoje talvez o nome mais conhecido no Brasil nesta área. O outro é um neurocirurgião, diretor da área Neurocirúrgica do Hospital do Trabalhador, ambos são professores da universidade. E um terceiro sobrinho é dentista, que está em Portugal, fez todos os concursos lá e está bem.
É evidente que, no transcurso da minha vida acadêmica, eu atendi muitos pacientes, operei centenas de indivíduos. Participei como examinador, examinava todos os anos a escolha para o residente de neurocirurgia. Havia anos em que se apresentavam 30 candidatos para uma vaga, com duração de quatro anos.
Como membro de bancas examinadoras, ou como presidente, examinei dezenas de candidatos para professor assistente, docência livre e professor titular da Universidade Federal do Paraná. Fiz parte de bancas examinadoras de concurso para docência livre na USP, São Paulo, Faculdade de Medicina de Porto Alegre, Londrina. E concurso para professor titular de neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina da Universidade de Brasília. Exerci por quatro anos, após eleição, inicialmente como vice-presidente, depois como presidente, do Conselho de Curadores da Universidade.
Fui presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgiões Capítulo do Paraná, no ano 1900. Sou membro da Academia Paranaense de Medicina, membro da Academia Brasileira de Neurocirurgia, membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Homenageado com louvor pela Sociedade de Neurocirurgia do Paraná, em 1998. No 28º Congresso Latino Americano de Neurocirurgia, realizado em Santiago no Chile, recebi medalha de ouro da Federação Latino Americana de Neurocirurgia, primeiro brasileiro a recebê-la. Trata-se do galardão máximo da entidade.
Em 2006, no 26º Congresso Brasileiro de Neurocirurgia, realizado em Florianópolis, recebi uma placa com os dizeres “Ao Professor Doutor Affonso Antoniuk, pela influência decisiva na formação de neurocirurgiões brasileiros. Homenagem da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia”.
Participei com vários trabalhos científicos em congressos no Brasil e no Exterior. Participei do 12º Congresso Mundial de Neurocirurgia, como palestrante em Marrocos, em 2005. Fui convidado como palestrante para o 14º Congresso Mundial de Neurocirurgia, nos Estados Unidos, na cidade de Boston, no ano 2009. E uma série de outras participações em congressos, que eu até não me lembro de todos.
Idealizador e criador da Clínica Diagnóstico Avançado por Imagem, DAPI. De propriedade da Liga das Senhoras Católicas de Curitiba. É uma entidade que me orgulha, tem mais de 26 anos. Talvez seja o centro de imagem mais avançado do Brasil. Possui os aparelhos mais avançados que existem no mundo.
Adquirimos o aparelho mais avançado que existe de tomografia, só tem um aqui, um em São Paulo e outro no Peru. Devem existir somente seis no mundo. Faz uma imagem do coração em uma volta somente. Compramos também um aparelho de diagnóstico para lesões de mama.
O DAPI faz milhares de exames por mês. Além do mais, a maior parte do sustentáculo econômico, mantenedor de seis creches da Liga das Senhoras Católicas, é através do que é produzido pelo DAPI. Os médicos nem assinam cheque, ganham de acordo com a produtividade. E também, muito importante, o DAPI, pela obrigatoriedade do seu estatuto, direciona 20% do faturamento dos exames, que vêm quase todos dos planos de saúde, para pacientes que não têm condições econômicas.
Basta o médico fazer o requerimento do exame, informar o procedimento ao paciente, e providenciar um comprovante de que o paciente não possui condições financeiras. Tem semanas que fazemos mais de 80 exames gratuitos. E preferimos fazer exames caros, como ressonância e tomografia computadorizada, para conseguir os 20% do faturamento.
Fazendo isso, atendendo os pacientes necessitados, e mantendo praticamente 700 crianças em creche, justifica esse trabalho social que o DAPI faz para a sociedade de Curitiba.
Pois bem, sou fundador também de um hospital de neuropsiquiatria do Paraná, que chama San Julian, em homenagem a um grande neurocirurgião uruguaio. São 400 leitos entre adultos e adolescentes, e é considerado pelo Ministério da Saúde, um hospital altamente qualificado.
Uma terceira coisa que me dá muita alegria, há 20 anos, aqui em Curitiba, se falava muito da cisticercose. A incidência de ataque epilético era muito intensa. E o estudo feito no Hospital de Clínicas, pelo grupo da neurologia, provou que 64% dos pacientes que tinham ataque epilético, a causa era a neurocisticercose. Isto é, o parasita dentro do cérebro.
Naquela época nós tratávamos com um medicamento que só existia para tratamento em animais, com dosagem pequena. Aí eu comecei a usar em seres humanos, com prévia autorização. E tinha que receitar dez comprimidos, três ou quatro vezes por dia. Até o vendedor do remédio duvidava da minha sanidade quando eu pedia tanto comprimido.
Pois bem, um laboratório me procurou e disse “vamos fazer um comprimido com uma dosagem de 400 miligramas, aí não vai precisar tomar tantos comprimidos”. E é o que hoje se usa na prática. Eu fui o primeiro a usar esse medicamento no tratamento da cisticercose, no mundo. Era tão frequente em Curitiba há 20 anos, que eu tinha no hospital de clínicas, em um andar de neurocirurgia, dez leitos reservados para tratar da neurocisticercose. E a mortalidade naquela época era de 16%. Hoje eu digo com alegria, acho que essa doença, no Paraná, está erradicada.
Outro projeto meu, que me dá alegria, foi com o desastre que teve com a usina atômica, na Ucrânia, em Chernobyl. Muitas crianças que depois nasceram, ou algumas que sobreviveram, desenvolveram um câncer disseminado. Um câncer de difícil cura. Fazia-se transfusão de medula, e muitos desses garotos, dessas meninas, foram trazidos para Curitiba, para o Hospital de Clínicas.
Um dia eu tive a ideia e transmiti a outros médicos, que ao invés de trazer as crianças doentes, porque não trazer um grupo de médicos e enfermeiras. Deixá-los um ano aqui, para que aprendam as técnicas e voltem para Ucrânia e comecem a fazer o tratamento lá. Dois anos depois, eu fui chamado para lá, e tive o prazer de ver um hospital que praticamente o governo da Alemanha construiu para eles, especializado nesse tratamento de câncer secundário à irradiação. Eles já tinham feito mais de 100 tratamentos e transplantes de medula com ótimos resultados. E isso me alegra muito.
Tudo isso que eu falei é a trajetória da minha vida. Mas a maioria das coisas significativas que eu fiz, não foi sozinho. Ninguém faz nada sozinho, é preciso ter uma equipe, ter um dom de motivá-los. Eles devem acreditar naquilo que você acredita. Em praticamente tudo, com exceções de concursos, eu nunca estive só, sempre estive com amigos. E muitos deles continuam até hoje. Então eu tenho a impressão que uma parte que me cabia fazer, eu fiz.
Eu sou filho de Porfirio Antoniuk e Antonina Antoniuk. Ele, natural da Ucrânia, chegou ao Brasil com oito anos de idade, e ela, nasceu assim que o navio chegou aqui. Meus pais tiveram nove filhos, mas os quatro primeiros morreram. Moravam em Prudentópolis, e o médico mais próximo distava 60 quilômetros. Eu sou o último dos cinco remanescentes.
Estudei o primário na minha cidade natal, Prudentópolis, no Colégio Ucraniano. O início foi muito difícil, minha família era humilde, mas muito correta, muito certa. Eu ajudava a minha mãe desde o início, ela tirava o leite das vacas, e eu entregava para várias cidades antes de ir ao colégio. Terminado o colégio, eu voltava para minha casa, e seguia o caminho de uma criança de sete, oito anos, por aí. O segundo ciclo, eu fiz em Curitiba, no Colégio Estadual do Paraná, mas terminei o ginásio em Ponta Grossa.
Já o científico, eu fiz totalmente aqui em Curitiba, no Colégio Estadual do Paraná, sempre estudei em colégio público. Terminado este ciclo segundo, já comecei a trabalhar. Trabalhava na farmácia Minerva durante a noite, deveria ter uns 12, 13 anos. Estudava a tarde e dormia de manhã. Assim fiz o curso secundário no Colégio Estadual do Paraná, naquele tempo chamava-se científico.
Aí eu fiz o vestibular de medicina. Dos 27 colegas meus, do Colégio Paranaense Externato, 23 passaram no vestibular, em vários cursos, vejam como era alto o nível de ensino naquela época. Eu fiz vestibular de medicina, estudei poucos meses no cursinho, e passei em primeiro lugar. Interessante que quando eu fui ver o resultado, comecei ver de trás para frente. Chegou no número dez, eu disse comigo “reprovei, vou embora”. Na saída, me agarraram, meus companheiros, e disseram “você passou em primeiro lugar”. Voltei, olhei de longe, porque estava cheio de veterano esperando para o martírio, que naquele tempo era horrível, e disse “é realmente reprovei”. Saí, cortei o cabelo, peguei o ônibus no dia seguinte e voltei para Prudentópolis, minha terra natal.
Passaram-se alguns dias, voltei até a universidade, e olhei de novo a listagem, e o meu nome estava em terceiro lugar. Eu descobri que havia um prêmio para quem passasse em primeiro. Ele, tinha um apaniguado, já naquela época acontecia isso, trocaram a minha posição pela dele, deixei passar porque isso não interferiu.
Assim que eu me formei, minha mãe esteve muito doente, e pediu que eu permanecesse algum tempo em Prudentópolis. Fiquei alguns meses lá, mas alguns amigos meus pediram que eu fosse trabalhar em Guarapuava. E assim fui para Guarapuava, 60 quilômetros de Prudentópolis. Comecei a trabalhar lá, e me dei muito bem.
Inclusive tem um fato pitoresco. Um jornalista, amante do jogo de snooker, teve uma desavença com um companheiro dele, e acabou levando uma tacada na cabeça. O jornalista caiu, entrou em coma, e ficou alguns dias no hospital.
Como durante o transcurso do meu estudo na medicina, eu trabalhava no Hospital Adauto Botelho desde o terceiro ano, eu acompanhava um neurocirurgião, José Portugal Pinto. No início era instrumentista dele, depois ajudava nas operações, então eu tinha certos conhecimentos do procedimento neurocirúrgico.
Não havia material para operar, então pedi a um dentista, que me emprestasse um boticão e fiz uma craniectomia. Alicerçado na clínica, porque ele estava com uma midríase no olho direito. Daí saiu o sangue, jorrou o sangue, e sem eu saber, um fotógrafo, companheiro de jornal deste paciente, estava atrás da mesa de cirurgia. Ele fotografou a saída do sangue.
Assim que o sangue saiu, ele perdeu a consciência, caiu, bateu a cabeça e ficou em coma por dias também. Mas foi se recuperando, era somente uma contusão. E o que foi operado, em poucos dias recuperou-se também. A história difundiu-se, e eu me tornei um médico muito conhecido.
Permaneci em Guarapuava um ano, mas eu tinha sugestão do professor José Portugal, que era o único neurocirurgião aqui em Curitiba, uma cidade de 600 mil habitantes na época. Ele me orientou para ir a Montevidéu, que tinha um serviço de neurocirurgia muito bem equipado, muito bem preparado técnico e cientificamente. Fui lá, fiz um concurso, e meses depois, próximo ao natal, recebi uma carta dizendo assim “venha aqui, dia 1º você começa o seu treinamento”. Fui para lá, deixei tudo, e permaneci quase quatro anos no Instituto de Neurocirurgia de Montevidéu.
Lá eu fui agraciado com uma bolsa de estudos da Organização de Estados Americanos, que exigia o término do meu treinamento no Instituto de Neurocirurgia de Nova York. Pois bem, fui para lá, terminei o curso de neurocirurgia, e voltei aqui para Curitiba. Só havia praticamente um neurocirurgião, comecei a trabalhar intensamente, porque havia serviço para muito mais do que um neurocirurgião. Sempre visando entrar na universidade, porque eu queria ser professor. E aí, na universidade, fiz todos os concursos.
A minha progressão universitária: em 1966 fiz concurso para auxiliar de ensino em neurocirurgia, na Universidade Federal do Paraná. Logo após, por concurso público, atingi o grau de professor assistente em neurologia. Fui o primeiro colocado entre seis candidatos, inclusive um candidato veio de Paris, que acabou sendo meu amigo. Fui transferido para o Departamento de Neurocirurgia, e por titulação, fui promovido a professor adjunto.
Em 1976, fiz concurso para docência livre, do Departamento de Cirurgia, especialidade neurocirurgia. Previamente, recebi da reitoria a catalogação de notório saber, logo após, assumi a coordenação da recém-criada disciplina de neurocirurgia, da qual fui coordenador por mais de 30 anos. Durante quatro décadas participei na formação de aproximadamente nove mil médicos. A disciplina de neurocirurgia da Universidade Federal do Paraná, sediada no Hospital de Clínicas de Curitiba, foi catalogada como excelente pelo MEC. A disciplina sob a minha chefia formou três dezenas de neurocirurgiões altamente qualificados, e que se distribuíram pelo Paraná, pelo Brasil e pelo mundo afora. O treinamento era de quatro anos.
Em 1979, fiz concurso público para professor titular da neurocirurgia. Durante quatro anos fui chefe do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Paraná. Fui orientador de várias teses de mestrado e doutorado. Fui chefe do Departamento de Cirurgia do Hospital Nossa Senhora das Graças, por 20 anos. Chefe do Serviço de Neurocirurgia do mesmo hospital, que, junto com o professor João Cândido de Araújo, formamos dez neurocirurgiões, com quatro anos de permanência cada um, altamente qualificados, dos quais três são proeminentes professores nos Estados Unidos.
Quero abrir um parêntese, de como foi minha chegada em Curitiba. Depois que eu voltei dos Estados Unidos, eu não tinha condições econômicas nenhuma. Cheguei ao aeroporto do Rio de Janeiro, o fiscal abriu a minha mala, e estava cheia de material cirúrgico. Eu tinha comprado com todo o dinheiro que eu possuía, que não era muito, em material para neurocirurgia. O fiscal quis que eu lhe agradasse um pouco com propina, disse “olha, não tenho nada. Tudo que eu tenho vai dar pra chegar só até Curitiba”. Cheguei a Curitiba, não tinha onde ficar. Fui ao Hotel Braz, que eu conhecia antes como estudante, e eles me acolheram. Eu disse logo que não podia garantir quando iria pagar, mas mesmo assim eles me aceitaram.
Pois bem, e a minha família, retrocedendo um pouco a história. Cinco irmãos sobreviveram, um foi dentista, o outro foi um contabilista, uma professora de curso superior, uma irmã não quis estudar, e eu que fiz medicina. Importante salientar que durante o curso de medicina, eu sempre trabalhei em hospitais, e sempre fui autossuficiente. A minha esposa, bonita, sempre, vamos fazer 50 anos de casados. Minha esposa chama-se Ingrid Scharappe Antoniuk.
Quem me acompanhou na medicina: dois sobrinhos. Um é neuropediatra, doutor Sérgio Antoniuk, hoje talvez o nome mais conhecido no Brasil nesta área. O outro é um neurocirurgião, diretor da área Neurocirúrgica do Hospital do Trabalhador, ambos são professores da universidade. E um terceiro sobrinho é dentista, que está em Portugal, fez todos os concursos lá e está bem.
É evidente que, no transcurso da minha vida acadêmica, eu atendi muitos pacientes, operei centenas de indivíduos. Participei como examinador, examinava todos os anos a escolha para o residente de neurocirurgia. Havia anos em que se apresentavam 30 candidatos para uma vaga, com duração de quatro anos.
Como membro de bancas examinadoras, ou como presidente, examinei dezenas de candidatos para professor assistente, docência livre e professor titular da Universidade Federal do Paraná. Fiz parte de bancas examinadoras de concurso para docência livre na USP, São Paulo, Faculdade de Medicina de Porto Alegre, Londrina. E concurso para professor titular de neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina da Universidade de Brasília. Exerci por quatro anos, após eleição, inicialmente como vice-presidente, depois como presidente, do Conselho de Curadores da Universidade.
Fui presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgiões Capítulo do Paraná, no ano 1900. Sou membro da Academia Paranaense de Medicina, membro da Academia Brasileira de Neurocirurgia, membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Homenageado com louvor pela Sociedade de Neurocirurgia do Paraná, em 1998. No 28º Congresso Latino Americano de Neurocirurgia, realizado em Santiago no Chile, recebi medalha de ouro da Federação Latino Americana de Neurocirurgia, primeiro brasileiro a recebê-la. Trata-se do galardão máximo da entidade.
Em 2006, no 26º Congresso Brasileiro de Neurocirurgia, realizado em Florianópolis, recebi uma placa com os dizeres “Ao Professor Doutor Affonso Antoniuk, pela influência decisiva na formação de neurocirurgiões brasileiros. Homenagem da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia”.
Participei com vários trabalhos científicos em congressos no Brasil e no Exterior. Participei do 12º Congresso Mundial de Neurocirurgia, como palestrante em Marrocos, em 2005. Fui convidado como palestrante para o 14º Congresso Mundial de Neurocirurgia, nos Estados Unidos, na cidade de Boston, no ano 2009. E uma série de outras participações em congressos, que eu até não me lembro de todos.
Idealizador e criador da Clínica Diagnóstico Avançado por Imagem, DAPI. De propriedade da Liga das Senhoras Católicas de Curitiba. É uma entidade que me orgulha, tem mais de 26 anos. Talvez seja o centro de imagem mais avançado do Brasil. Possui os aparelhos mais avançados que existem no mundo.
Adquirimos o aparelho mais avançado que existe de tomografia, só tem um aqui, um em São Paulo e outro no Peru. Devem existir somente seis no mundo. Faz uma imagem do coração em uma volta somente. Compramos também um aparelho de diagnóstico para lesões de mama.
O DAPI faz milhares de exames por mês. Além do mais, a maior parte do sustentáculo econômico, mantenedor de seis creches da Liga das Senhoras Católicas, é através do que é produzido pelo DAPI. Os médicos nem assinam cheque, ganham de acordo com a produtividade. E também, muito importante, o DAPI, pela obrigatoriedade do seu estatuto, direciona 20% do faturamento dos exames, que vêm quase todos dos planos de saúde, para pacientes que não têm condições econômicas.
Basta o médico fazer o requerimento do exame, informar o procedimento ao paciente, e providenciar um comprovante de que o paciente não possui condições financeiras. Tem semanas que fazemos mais de 80 exames gratuitos. E preferimos fazer exames caros, como ressonância e tomografia computadorizada, para conseguir os 20% do faturamento.
Fazendo isso, atendendo os pacientes necessitados, e mantendo praticamente 700 crianças em creche, justifica esse trabalho social que o DAPI faz para a sociedade de Curitiba.
Pois bem, sou fundador também de um hospital de neuropsiquiatria do Paraná, que chama San Julian, em homenagem a um grande neurocirurgião uruguaio. São 400 leitos entre adultos e adolescentes, e é considerado pelo Ministério da Saúde, um hospital altamente qualificado.
Uma terceira coisa que me dá muita alegria, há 20 anos, aqui em Curitiba, se falava muito da cisticercose. A incidência de ataque epilético era muito intensa. E o estudo feito no Hospital de Clínicas, pelo grupo da neurologia, provou que 64% dos pacientes que tinham ataque epilético, a causa era a neurocisticercose. Isto é, o parasita dentro do cérebro.
Naquela época nós tratávamos com um medicamento que só existia para tratamento em animais, com dosagem pequena. Aí eu comecei a usar em seres humanos, com prévia autorização. E tinha que receitar dez comprimidos, três ou quatro vezes por dia. Até o vendedor do remédio duvidava da minha sanidade quando eu pedia tanto comprimido.
Pois bem, um laboratório me procurou e disse “vamos fazer um comprimido com uma dosagem de 400 miligramas, aí não vai precisar tomar tantos comprimidos”. E é o que hoje se usa na prática. Eu fui o primeiro a usar esse medicamento no tratamento da cisticercose, no mundo. Era tão frequente em Curitiba há 20 anos, que eu tinha no hospital de clínicas, em um andar de neurocirurgia, dez leitos reservados para tratar da neurocisticercose. E a mortalidade naquela época era de 16%. Hoje eu digo com alegria, acho que essa doença, no Paraná, está erradicada.
Outro projeto meu, que me dá alegria, foi com o desastre que teve com a usina atômica, na Ucrânia, em Chernobyl. Muitas crianças que depois nasceram, ou algumas que sobreviveram, desenvolveram um câncer disseminado. Um câncer de difícil cura. Fazia-se transfusão de medula, e muitos desses garotos, dessas meninas, foram trazidos para Curitiba, para o Hospital de Clínicas.
Um dia eu tive a ideia e transmiti a outros médicos, que ao invés de trazer as crianças doentes, porque não trazer um grupo de médicos e enfermeiras. Deixá-los um ano aqui, para que aprendam as técnicas e voltem para Ucrânia e comecem a fazer o tratamento lá. Dois anos depois, eu fui chamado para lá, e tive o prazer de ver um hospital que praticamente o governo da Alemanha construiu para eles, especializado nesse tratamento de câncer secundário à irradiação. Eles já tinham feito mais de 100 tratamentos e transplantes de medula com ótimos resultados. E isso me alegra muito.
Tudo isso que eu falei é a trajetória da minha vida. Mas a maioria das coisas significativas que eu fiz, não foi sozinho. Ninguém faz nada sozinho, é preciso ter uma equipe, ter um dom de motivá-los. Eles devem acreditar naquilo que você acredita. Em praticamente tudo, com exceções de concursos, eu nunca estive só, sempre estive com amigos. E muitos deles continuam até hoje. Então eu tenho a impressão que uma parte que me cabia fazer, eu fiz.
Eu sou filho de Porfirio Antoniuk e Antonina Antoniuk. Ele, natural da Ucrânia, chegou ao Brasil com oito anos de idade, e ela, nasceu assim que o navio chegou aqui. Meus pais tiveram nove filhos, mas os quatro primeiros morreram. Moravam em Prudentópolis, e o médico mais próximo distava 60 quilômetros. Eu sou o último dos cinco remanescentes.
Estudei o primário na minha cidade natal, Prudentópolis, no Colégio Ucraniano. O início foi muito difícil, minha família era humilde, mas muito correta, muito certa. Eu ajudava a minha mãe desde o início, ela tirava o leite das vacas, e eu entregava para várias cidades antes de ir ao colégio. Terminado o colégio, eu voltava para minha casa, e seguia o caminho de uma criança de sete, oito anos, por aí. O segundo ciclo, eu fiz em Curitiba, no Colégio Estadual do Paraná, mas terminei o ginásio em Ponta Grossa.
Já o científico, eu fiz totalmente aqui em Curitiba, no Colégio Estadual do Paraná, sempre estudei em colégio público. Terminado este ciclo segundo, já comecei a trabalhar. Trabalhava na farmácia Minerva durante a noite, deveria ter uns 12, 13 anos. Estudava a tarde e dormia de manhã. Assim fiz o curso secundário no Colégio Estadual do Paraná, naquele tempo chamava-se científico.
Aí eu fiz o vestibular de medicina. Dos 27 colegas meus, do Colégio Paranaense Externato, 23 passaram no vestibular, em vários cursos, vejam como era alto o nível de ensino naquela época. Eu fiz vestibular de medicina, estudei poucos meses no cursinho, e passei em primeiro lugar. Interessante que quando eu fui ver o resultado, comecei ver de trás para frente. Chegou no número dez, eu disse comigo “reprovei, vou embora”. Na saída, me agarraram, meus companheiros, e disseram “você passou em primeiro lugar”. Voltei, olhei de longe, porque estava cheio de veterano esperando para o martírio, que naquele tempo era horrível, e disse “é realmente reprovei”. Saí, cortei o cabelo, peguei o ônibus no dia seguinte e voltei para Prudentópolis, minha terra natal.
Passaram-se alguns dias, voltei até a universidade, e olhei de novo a listagem, e o meu nome estava em terceiro lugar. Eu descobri que havia um prêmio para quem passasse em primeiro. Ele, tinha um apaniguado, já naquela época acontecia isso, trocaram a minha posição pela dele, deixei passar porque isso não interferiu.
Assim que eu me formei, minha mãe esteve muito doente, e pediu que eu permanecesse algum tempo em Prudentópolis. Fiquei alguns meses lá, mas alguns amigos meus pediram que eu fosse trabalhar em Guarapuava. E assim fui para Guarapuava, 60 quilômetros de Prudentópolis. Comecei a trabalhar lá, e me dei muito bem.
Inclusive tem um fato pitoresco. Um jornalista, amante do jogo de snooker, teve uma desavença com um companheiro dele, e acabou levando uma tacada na cabeça. O jornalista caiu, entrou em coma, e ficou alguns dias no hospital.
Como durante o transcurso do meu estudo na medicina, eu trabalhava no Hospital Adauto Botelho desde o terceiro ano, eu acompanhava um neurocirurgião, José Portugal Pinto. No início era instrumentista dele, depois ajudava nas operações, então eu tinha certos conhecimentos do procedimento neurocirúrgico.
Não havia material para operar, então pedi a um dentista, que me emprestasse um boticão e fiz uma craniectomia. Alicerçado na clínica, porque ele estava com uma midríase no olho direito. Daí saiu o sangue, jorrou o sangue, e sem eu saber, um fotógrafo, companheiro de jornal deste paciente, estava atrás da mesa de cirurgia. Ele fotografou a saída do sangue.
Assim que o sangue saiu, ele perdeu a consciência, caiu, bateu a cabeça e ficou em coma por dias também. Mas foi se recuperando, era somente uma contusão. E o que foi operado, em poucos dias recuperou-se também. A história difundiu-se, e eu me tornei um médico muito conhecido.
Permaneci em Guarapuava um ano, mas eu tinha sugestão do professor José Portugal, que era o único neurocirurgião aqui em Curitiba, uma cidade de 600 mil habitantes na época. Ele me orientou para ir a Montevidéu, que tinha um serviço de neurocirurgia muito bem equipado, muito bem preparado técnico e cientificamente. Fui lá, fiz um concurso, e meses depois, próximo ao natal, recebi uma carta dizendo assim “venha aqui, dia 1º você começa o seu treinamento”. Fui para lá, deixei tudo, e permaneci quase quatro anos no Instituto de Neurocirurgia de Montevidéu.
Lá eu fui agraciado com uma bolsa de estudos da Organização de Estados Americanos, que exigia o término do meu treinamento no Instituto de Neurocirurgia de Nova York. Pois bem, fui para lá, terminei o curso de neurocirurgia, e voltei aqui para Curitiba. Só havia praticamente um neurocirurgião, comecei a trabalhar intensamente, porque havia serviço para muito mais do que um neurocirurgião. Sempre visando entrar na universidade, porque eu queria ser professor. E aí, na universidade, fiz todos os concursos.
A minha progressão universitária: em 1966 fiz concurso para auxiliar de ensino em neurocirurgia, na Universidade Federal do Paraná. Logo após, por concurso público, atingi o grau de professor assistente em neurologia. Fui o primeiro colocado entre seis candidatos, inclusive um candidato veio de Paris, que acabou sendo meu amigo. Fui transferido para o Departamento de Neurocirurgia, e por titulação, fui promovido a professor adjunto.
Em 1976, fiz concurso para docência livre, do Departamento de Cirurgia, especialidade neurocirurgia. Previamente, recebi da reitoria a catalogação de notório saber, logo após, assumi a coordenação da recém-criada disciplina de neurocirurgia, da qual fui coordenador por mais de 30 anos. Durante quatro décadas participei na formação de aproximadamente nove mil médicos. A disciplina de neurocirurgia da Universidade Federal do Paraná, sediada no Hospital de Clínicas de Curitiba, foi catalogada como excelente pelo MEC. A disciplina sob a minha chefia formou três dezenas de neurocirurgiões altamente qualificados, e que se distribuíram pelo Paraná, pelo Brasil e pelo mundo afora. O treinamento era de quatro anos.
Em 1979, fiz concurso público para professor titular da neurocirurgia. Durante quatro anos fui chefe do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Paraná. Fui orientador de várias teses de mestrado e doutorado. Fui chefe do Departamento de Cirurgia do Hospital Nossa Senhora das Graças, por 20 anos. Chefe do Serviço de Neurocirurgia do mesmo hospital, que, junto com o professor João Cândido de Araújo, formamos dez neurocirurgiões, com quatro anos de permanência cada um, altamente qualificados, dos quais três são proeminentes professores nos Estados Unidos.
Quero abrir um parêntese, de como foi minha chegada em Curitiba. Depois que eu voltei dos Estados Unidos, eu não tinha condições econômicas nenhuma. Cheguei ao aeroporto do Rio de Janeiro, o fiscal abriu a minha mala, e estava cheia de material cirúrgico. Eu tinha comprado com todo o dinheiro que eu possuía, que não era muito, em material para neurocirurgia. O fiscal quis que eu lhe agradasse um pouco com propina, disse “olha, não tenho nada. Tudo que eu tenho vai dar pra chegar só até Curitiba”. Cheguei a Curitiba, não tinha onde ficar. Fui ao Hotel Braz, que eu conhecia antes como estudante, e eles me acolheram. Eu disse logo que não podia garantir quando iria pagar, mas mesmo assim eles me aceitaram.
Pois bem, e a minha família, retrocedendo um pouco a história. Cinco irmãos sobreviveram, um foi dentista, o outro foi um contabilista, uma professora de curso superior, uma irmã não quis estudar, e eu que fiz medicina. Importante salientar que durante o curso de medicina, eu sempre trabalhei em hospitais, e sempre fui autossuficiente. A minha esposa, bonita, sempre, vamos fazer 50 anos de casados. Minha esposa chama-se Ingrid Scharappe Antoniuk.
Quem me acompanhou na medicina: dois sobrinhos. Um é neuropediatra, doutor Sérgio Antoniuk, hoje talvez o nome mais conhecido no Brasil nesta área. O outro é um neurocirurgião, diretor da área Neurocirúrgica do Hospital do Trabalhador, ambos são professores da universidade. E um terceiro sobrinho é dentista, que está em Portugal, fez todos os concursos lá e está bem.
É evidente que, no transcurso da minha vida acadêmica, eu atendi muitos pacientes, operei centenas de indivíduos. Participei como examinador, examinava todos os anos a escolha para o residente de neurocirurgia. Havia anos em que se apresentavam 30 candidatos para uma vaga, com duração de quatro anos.
Como membro de bancas examinadoras, ou como presidente, examinei dezenas de candidatos para professor assistente, docência livre e professor titular da Universidade Federal do Paraná. Fiz parte de bancas examinadoras de concurso para docência livre na USP, São Paulo, Faculdade de Medicina de Porto Alegre, Londrina. E concurso para professor titular de neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina da Universidade de Brasília. Exerci por quatro anos, após eleição, inicialmente como vice-presidente, depois como presidente, do Conselho de Curadores da Universidade.
Fui presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgiões Capítulo do Paraná, no ano 1900. Sou membro da Academia Paranaense de Medicina, membro da Academia Brasileira de Neurocirurgia, membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Homenageado com louvor pela Sociedade de Neurocirurgia do Paraná, em 1998. No 28º Congresso Latino Americano de Neurocirurgia, realizado em Santiago no Chile, recebi medalha de ouro da Federação Latino Americana de Neurocirurgia, primeiro brasileiro a recebê-la. Trata-se do galardão máximo da entidade.
Em 2006, no 26º Congresso Brasileiro de Neurocirurgia, realizado em Florianópolis, recebi uma placa com os dizeres “Ao Professor Doutor Affonso Antoniuk, pela influência decisiva na formação de neurocirurgiões brasileiros. Homenagem da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia”.
Participei com vários trabalhos científicos em congressos no Brasil e no Exterior. Participei do 12º Congresso Mundial de Neurocirurgia, como palestrante em Marrocos, em 2005. Fui convidado como palestrante para o 14º Congresso Mundial de Neurocirurgia, nos Estados Unidos, na cidade de Boston, no ano 2009. E uma série de outras participações em congressos, que eu até não me lembro de todos.
Idealizador e criador da Clínica Diagnóstico Avançado por Imagem, DAPI. De propriedade da Liga das Senhoras Católicas de Curitiba. É uma entidade que me orgulha, tem mais de 26 anos. Talvez seja o centro de imagem mais avançado do Brasil. Possui os aparelhos mais avançados que existem no mundo.
Adquirimos o aparelho mais avançado que existe de tomografia, só tem um aqui, um em São Paulo e outro no Peru. Devem existir somente seis no mundo. Faz uma imagem do coração em uma volta somente. Compramos também um aparelho de diagnóstico para lesões de mama.
O DAPI faz milhares de exames por mês. Além do mais, a maior parte do sustentáculo econômico, mantenedor de seis creches da Liga das Senhoras Católicas, é através do que é produzido pelo DAPI. Os médicos nem assinam cheque, ganham de acordo com a produtividade. E também, muito importante, o DAPI, pela obrigatoriedade do seu estatuto, direciona 20% do faturamento dos exames, que vêm quase todos dos planos de saúde, para pacientes que não têm condições econômicas.
Basta o médico fazer o requerimento do exame, informar o procedimento ao paciente, e providenciar um comprovante de que o paciente não possui condições financeiras. Tem semanas que fazemos mais de 80 exames gratuitos. E preferimos fazer exames caros, como ressonância e tomografia computadorizada, para conseguir os 20% do faturamento.
Fazendo isso, atendendo os pacientes necessitados, e mantendo praticamente 700 crianças em creche, justifica esse trabalho social que o DAPI faz para a sociedade de Curitiba.
Pois bem, sou fundador também de um hospital de neuropsiquiatria do Paraná, que chama San Julian, em homenagem a um grande neurocirurgião uruguaio. São 400 leitos entre adultos e adolescentes, e é considerado pelo Ministério da Saúde, um hospital altamente qualificado.
Uma terceira coisa que me dá muita alegria, há 20 anos, aqui em Curitiba, se falava muito da cisticercose. A incidência de ataque epilético era muito intensa. E o estudo feito no Hospital de Clínicas, pelo grupo da neurologia, provou que 64% dos pacientes que tinham ataque epilético, a causa era a neurocisticercose. Isto é, o parasita dentro do cérebro.
Naquela época nós tratávamos com um medicamento que só existia para tratamento em animais, com dosagem pequena. Aí eu comecei a usar em seres humanos, com prévia autorização. E tinha que receitar dez comprimidos, três ou quatro vezes por dia. Até o vendedor do remédio duvidava da minha sanidade quando eu pedia tanto comprimido.
Pois bem, um laboratório me procurou e disse “vamos fazer um comprimido com uma dosagem de 400 miligramas, aí não vai precisar tomar tantos comprimidos”. E é o que hoje se usa na prática. Eu fui o primeiro a usar esse medicamento no tratamento da cisticercose, no mundo. Era tão frequente em Curitiba há 20 anos, que eu tinha no hospital de clínicas, em um andar de neurocirurgia, dez leitos reservados para tratar da neurocisticercose. E a mortalidade naquela época era de 16%. Hoje eu digo com alegria, acho que essa doença, no Paraná, está erradicada.
Outro projeto meu, que me dá alegria, foi com o desastre que teve com a usina atômica, na Ucrânia, em Chernobyl. Muitas crianças que depois nasceram, ou algumas que sobreviveram, desenvolveram um câncer disseminado. Um câncer de difícil cura. Fazia-se transfusão de medula, e muitos desses garotos, dessas meninas, foram trazidos para Curitiba, para o Hospital de Clínicas.
Um dia eu tive a ideia e transmiti a outros médicos, que ao invés de trazer as crianças doentes, porque não trazer um grupo de médicos e enfermeiras. Deixá-los um ano aqui, para que aprendam as técnicas e voltem para Ucrânia e comecem a fazer o tratamento lá. Dois anos depois, eu fui chamado para lá, e tive o prazer de ver um hospital que praticamente o governo da Alemanha construiu para eles, especializado nesse tratamento de câncer secundário à irradiação. Eles já tinham feito mais de 100 tratamentos e transplantes de medula com ótimos resultados. E isso me alegra muito.
Tudo isso que eu falei é a trajetória da minha vida. Mas a maioria das coisas significativas que eu fiz, não foi sozinho. Ninguém faz nada sozinho, é preciso ter uma equipe, ter um dom de motivá-los. Eles devem acreditar naquilo que você acredita. Em praticamente tudo, com exceções de concursos, eu nunca estive só, sempre estive com amigos. E muitos deles continuam até hoje. Então eu tenho a impressão que uma parte que me cabia fazer, eu fiz.
Eu sou filho de Porfirio Antoniuk e Antonina Antoniuk. Ele, natural da Ucrânia, chegou ao Brasil com oito anos de idade, e ela, nasceu assim que o navio chegou aqui. Meus pais tiveram nove filhos, mas os quatro primeiros morreram. Moravam em Prudentópolis, e o médico mais próximo distava 60 quilômetros. Eu sou o último dos cinco remanescentes.
Estudei o primário na minha cidade natal, Prudentópolis, no Colégio Ucraniano. O início foi muito difícil, minha família era humilde, mas muito correta, muito certa. Eu ajudava a minha mãe desde o início, ela tirava o leite das vacas, e eu entregava para várias cidades antes de ir ao colégio. Terminado o colégio, eu voltava para minha casa, e seguia o caminho de uma criança de sete, oito anos, por aí. O segundo ciclo, eu fiz em Curitiba, no Colégio Estadual do Paraná, mas terminei o ginásio em Ponta Grossa.
Já o científico, eu fiz totalmente aqui em Curitiba, no Colégio Estadual do Paraná, sempre estudei em colégio público. Terminado este ciclo segundo, já comecei a trabalhar. Trabalhava na farmácia Minerva durante a noite, deveria ter uns 12, 13 anos. Estudava a tarde e dormia de manhã. Assim fiz o curso secundário no Colégio Estadual do Paraná, naquele tempo chamava-se científico.
Aí eu fiz o vestibular de medicina. Dos 27 colegas meus, do Colégio Paranaense Externato, 23 passaram no vestibular, em vários cursos, vejam como era alto o nível de ensino naquela época. Eu fiz vestibular de medicina, estudei poucos meses no cursinho, e passei em primeiro lugar. Interessante que quando eu fui ver o resultado, comecei ver de trás para frente. Chegou no número dez, eu disse comigo “reprovei, vou embora”. Na saída, me agarraram, meus companheiros, e disseram “você passou em primeiro lugar”. Voltei, olhei de longe, porque estava cheio de veterano esperando para o martírio, que naquele tempo era horrível, e disse “é realmente reprovei”. Saí, cortei o cabelo, peguei o ônibus no dia seguinte e voltei para Prudentópolis, minha terra natal.
Passaram-se alguns dias, voltei até a universidade, e olhei de novo a listagem, e o meu nome estava em terceiro lugar. Eu descobri que havia um prêmio para quem passasse em primeiro. Ele, tinha um apaniguado, já naquela época acontecia isso, trocaram a minha posição pela dele, deixei passar porque isso não interferiu.
Assim que eu me formei, minha mãe esteve muito doente, e pediu que eu permanecesse algum tempo em Prudentópolis. Fiquei alguns meses lá, mas alguns amigos meus pediram que eu fosse trabalhar em Guarapuava. E assim fui para Guarapuava, 60 quilômetros de Prudentópolis. Comecei a trabalhar lá, e me dei muito bem.
Inclusive tem um fato pitoresco. Um jornalista, amante do jogo de snooker, teve uma desavença com um companheiro dele, e acabou levando uma tacada na cabeça. O jornalista caiu, entrou em coma, e ficou alguns dias no hospital.
Como durante o transcurso do meu estudo na medicina, eu trabalhava no Hospital Adauto Botelho desde o terceiro ano, eu acompanhava um neurocirurgião, José Portugal Pinto. No início era instrumentista dele, depois ajudava nas operações, então eu tinha certos conhecimentos do procedimento neurocirúrgico.
Não havia material para operar, então pedi a um dentista, que me emprestasse um boticão e fiz uma craniectomia. Alicerçado na clínica, porque ele estava com uma midríase no olho direito. Daí saiu o sangue, jorrou o sangue, e sem eu saber, um fotógrafo, companheiro de jornal deste paciente, estava atrás da mesa de cirurgia. Ele fotografou a saída do sangue.
Assim que o sangue saiu, ele perdeu a consciência, caiu, bateu a cabeça e ficou em coma por dias também. Mas foi se recuperando, era somente uma contusão. E o que foi operado, em poucos dias recuperou-se também. A história difundiu-se, e eu me tornei um médico muito conhecido.
Permaneci em Guarapuava um ano, mas eu tinha sugestão do professor José Portugal, que era o único neurocirurgião aqui em Curitiba, uma cidade de 600 mil habitantes na época. Ele me orientou para ir a Montevidéu, que tinha um serviço de neurocirurgia muito bem equipado, muito bem preparado técnico e cientificamente. Fui lá, fiz um concurso, e meses depois, próximo ao natal, recebi uma carta dizendo assim “venha aqui, dia 1º você começa o seu treinamento”. Fui para lá, deixei tudo, e permaneci quase quatro anos no Instituto de Neurocirurgia de Montevidéu.
Lá eu fui agraciado com uma bolsa de estudos da Organização de Estados Americanos, que exigia o término do meu treinamento no Instituto de Neurocirurgia de Nova York. Pois bem, fui para lá, terminei o curso de neurocirurgia, e voltei aqui para Curitiba. Só havia praticamente um neurocirurgião, comecei a trabalhar intensamente, porque havia serviço para muito mais do que um neurocirurgião. Sempre visando entrar na universidade, porque eu queria ser professor. E aí, na universidade, fiz todos os concursos.
A minha progressão universitária: em 1966 fiz concurso para auxiliar de ensino em neurocirurgia, na Universidade Federal do Paraná. Logo após, por concurso público, atingi o grau de professor assistente em neurologia. Fui o primeiro colocado entre seis candidatos, inclusive um candidato veio de Paris, que acabou sendo meu amigo. Fui transferido para o Departamento de Neurocirurgia, e por titulação, fui promovido a professor adjunto.
Em 1976, fiz concurso para docência livre, do Departamento de Cirurgia, especialidade neurocirurgia. Previamente, recebi da reitoria a catalogação de notório saber, logo após, assumi a coordenação da recém-criada disciplina de neurocirurgia, da qual fui coordenador por mais de 30 anos. Durante quatro décadas participei na formação de aproximadamente nove mil médicos. A disciplina de neurocirurgia da Universidade Federal do Paraná, sediada no Hospital de Clínicas de Curitiba, foi catalogada como excelente pelo MEC. A disciplina sob a minha chefia formou três dezenas de neurocirurgiões altamente qualificados, e que se distribuíram pelo Paraná, pelo Brasil e pelo mundo afora. O treinamento era de quatro anos.
Em 1979, fiz concurso público para professor titular da neurocirurgia. Durante quatro anos fui chefe do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Paraná. Fui orientador de várias teses de mestrado e doutorado. Fui chefe do Departamento de Cirurgia do Hospital Nossa Senhora das Graças, por 20 anos. Chefe do Serviço de Neurocirurgia do mesmo hospital, que, junto com o professor João Cândido de Araújo, formamos dez neurocirurgiões, com quatro anos de permanência cada um, altamente qualificados, dos quais três são proeminentes professores nos Estados Unidos.
Quero abrir um parêntese, de como foi minha chegada em Curitiba. Depois que eu voltei dos Estados Unidos, eu não tinha condições econômicas nenhuma. Cheguei ao aeroporto do Rio de Janeiro, o fiscal abriu a minha mala, e estava cheia de material cirúrgico. Eu tinha comprado com todo o dinheiro que eu possuía, que não era muito, em material para neurocirurgia. O fiscal quis que eu lhe agradasse um pouco com propina, disse “olha, não tenho nada. Tudo que eu tenho vai dar pra chegar só até Curitiba”. Cheguei a Curitiba, não tinha onde ficar. Fui ao Hotel Braz, que eu conhecia antes como estudante, e eles me acolheram. Eu disse logo que não podia garantir quando iria pagar, mas mesmo assim eles me aceitaram.
Pois bem, e a minha família, retrocedendo um pouco a história. Cinco irmãos sobreviveram, um foi dentista, o outro foi um contabilista, uma professora de curso superior, uma irmã não quis estudar, e eu que fiz medicina. Importante salientar que durante o curso de medicina, eu sempre trabalhei em hospitais, e sempre fui autossuficiente. A minha esposa, bonita, sempre, vamos fazer 50 anos de casados. Minha esposa chama-se Ingrid Scharappe Antoniuk.
Quem me acompanhou na medicina: dois sobrinhos. Um é neuropediatra, doutor Sérgio Antoniuk, hoje talvez o nome mais conhecido no Brasil nesta área. O outro é um neurocirurgião, diretor da área Neurocirúrgica do Hospital do Trabalhador, ambos são professores da universidade. E um terceiro sobrinho é dentista, que está em Portugal, fez todos os concursos lá e está bem.
É evidente que, no transcurso da minha vida acadêmica, eu atendi muitos pacientes, operei centenas de indivíduos. Participei como examinador, examinava todos os anos a escolha para o residente de neurocirurgia. Havia anos em que se apresentavam 30 candidatos para uma vaga, com duração de quatro anos.
Como membro de bancas examinadoras, ou como presidente, examinei dezenas de candidatos para professor assistente, docência livre e professor titular da Universidade Federal do Paraná. Fiz parte de bancas examinadoras de concurso para docência livre na USP, São Paulo, Faculdade de Medicina de Porto Alegre, Londrina. E concurso para professor titular de neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina da Universidade de Brasília. Exerci por quatro anos, após eleição, inicialmente como vice-presidente, depois como presidente, do Conselho de Curadores da Universidade.
Fui presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgiões Capítulo do Paraná, no ano 1900. Sou membro da Academia Paranaense de Medicina, membro da Academia Brasileira de Neurocirurgia, membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Homenageado com louvor pela Sociedade de Neurocirurgia do Paraná, em 1998. No 28º Congresso Latino Americano de Neurocirurgia, realizado em Santiago no Chile, recebi medalha de ouro da Federação Latino Americana de Neurocirurgia, primeiro brasileiro a recebê-la. Trata-se do galardão máximo da entidade.
Em 2006, no 26º Congresso Brasileiro de Neurocirurgia, realizado em Florianópolis, recebi uma placa com os dizeres “Ao Professor Doutor Affonso Antoniuk, pela influência decisiva na formação de neurocirurgiões brasileiros. Homenagem da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia”.
Participei com vários trabalhos científicos em congressos no Brasil e no Exterior. Participei do 12º Congresso Mundial de Neurocirurgia, como palestrante em Marrocos, em 2005. Fui convidado como palestrante para o 14º Congresso Mundial de Neurocirurgia, nos Estados Unidos, na cidade de Boston, no ano 2009. E uma série de outras participações em congressos, que eu até não me lembro de todos.
Idealizador e criador da Clínica Diagnóstico Avançado por Imagem, DAPI. De propriedade da Liga das Senhoras Católicas de Curitiba. É uma entidade que me orgulha, tem mais de 26 anos. Talvez seja o centro de imagem mais avançado do Brasil. Possui os aparelhos mais avançados que existem no mundo.
Adquirimos o aparelho mais avançado que existe de tomografia, só tem um aqui, um em São Paulo e outro no Peru. Devem existir somente seis no mundo. Faz uma imagem do coração em uma volta somente. Compramos também um aparelho de diagnóstico para lesões de mama.
O DAPI faz milhares de exames por mês. Além do mais, a maior parte do sustentáculo econômico, mantenedor de seis creches da Liga das Senhoras Católicas, é através do que é produzido pelo DAPI. Os médicos nem assinam cheque, ganham de acordo com a produtividade. E também, muito importante, o DAPI, pela obrigatoriedade do seu estatuto, direciona 20% do faturamento dos exames, que vêm quase todos dos planos de saúde, para pacientes que não têm condições econômicas.
Basta o médico fazer o requerimento do exame, informar o procedimento ao paciente, e providenciar um comprovante de que o paciente não possui condições financeiras. Tem semanas que fazemos mais de 80 exames gratuitos. E preferimos fazer exames caros, como ressonância e tomografia computadorizada, para conseguir os 20% do faturamento.
Fazendo isso, atendendo os pacientes necessitados, e mantendo praticamente 700 crianças em creche, justifica esse trabalho social que o DAPI faz para a sociedade de Curitiba.
Pois bem, sou fundador também de um hospital de neuropsiquiatria do Paraná, que chama San Julian, em homenagem a um grande neurocirurgião uruguaio. São 400 leitos entre adultos e adolescentes, e é considerado pelo Ministério da Saúde, um hospital altamente qualificado.
Uma terceira coisa que me dá muita alegria, há 20 anos, aqui em Curitiba, se falava muito da cisticercose. A incidência de ataque epilético era muito intensa. E o estudo feito no Hospital de Clínicas, pelo grupo da neurologia, provou que 64% dos pacientes que tinham ataque epilético, a causa era a neurocisticercose. Isto é, o parasita dentro do cérebro.
Naquela época nós tratávamos com um medicamento que só existia para tratamento em animais, com dosagem pequena. Aí eu comecei a usar em seres humanos, com prévia autorização. E tinha que receitar dez comprimidos, três ou quatro vezes por dia. Até o vendedor do remédio duvidava da minha sanidade quando eu pedia tanto comprimido.
Pois bem, um laboratório me procurou e disse “vamos fazer um comprimido com uma dosagem de 400 miligramas, aí não vai precisar tomar tantos comprimidos”. E é o que hoje se usa na prática. Eu fui o primeiro a usar esse medicamento no tratamento da cisticercose, no mundo. Era tão frequente em Curitiba há 20 anos, que eu tinha no hospital de clínicas, em um andar de neurocirurgia, dez leitos reservados para tratar da neurocisticercose. E a mortalidade naquela época era de 16%. Hoje eu digo com alegria, acho que essa doença, no Paraná, está erradicada.
Outro projeto meu, que me dá alegria, foi com o desastre que teve com a usina atômica, na Ucrânia, em Chernobyl. Muitas crianças que depois nasceram, ou algumas que sobreviveram, desenvolveram um câncer disseminado. Um câncer de difícil cura. Fazia-se transfusão de medula, e muitos desses garotos, dessas meninas, foram trazidos para Curitiba, para o Hospital de Clínicas.
Um dia eu tive a ideia e transmiti a outros médicos, que ao invés de trazer as crianças doentes, porque não trazer um grupo de médicos e enfermeiras. Deixá-los um ano aqui, para que aprendam as técnicas e voltem para Ucrânia e comecem a fazer o tratamento lá. Dois anos depois, eu fui chamado para lá, e tive o prazer de ver um hospital que praticamente o governo da Alemanha construiu para eles, especializado nesse tratamento de câncer secundário à irradiação. Eles já tinham feito mais de 100 tratamentos e transplantes de medula com ótimos resultados. E isso me alegra muito.
Tudo isso que eu falei é a trajetória da minha vida. Mas a maioria das coisas significativas que eu fiz, não foi sozinho. Ninguém faz nada sozinho, é preciso ter uma equipe, ter um dom de motivá-los. Eles devem acreditar naquilo que você acredita. Em praticamente tudo, com exceções de concursos, eu nunca estive só, sempre estive com amigos. E muitos deles continuam até hoje. Então eu tenho a impressão que uma parte que me cabia fazer, eu fiz.