Paulo Venturelli nasceu em Brusque, SC, no Verde Vale do Itajaí, em 17.12.50. Filho de Valério Venturelli e Bertinha de Limas Venturelli, operários tecelões. Menino tímido, frágil, cheio de perguntas, não teve uma infância das mais venturosas. Em 59, começa o primário no Colégio Santo Antônio, das irmãs da Divina Providência. Notem bem: colégio particular, pago pelo pai operário. O Brasil era “outro”, antes de golpe militar de 64. Aprendeu a ler com a Irmã Celeste – o nome já diz tudo.
Em 1963, entra para o internato Sagrado Coração de Jesus, em Corupá, SC, agora sustentado por bolsa de estudo, cavada por seu pai entre políticos de Florianópolis. Ali completa seu ginásio.
Nesse meio tempo, a família muda-se para Jaraguá do Sul. O pai, líder sindical, não era bem visto pela classe dos patrões. Nesta cidade, entre trancos e barrancos, Venturelli completa o científico, entre 68 e 73. Ali, científico era coisa de rico. Funcionava pela manhã, e ele tinha de trabalhar para manter-se e ser Jó – na espera de abrir uma série à noite.
Fato interessante: no ginásio, ouviu de seu professor de português: “quem quiser ser inteligente na vida, precisa ler pelo menos um livro por semana”. Foi o grande insight em meio às tempestades da adolescência. Lendo com cuidado, descobriu a literatura e despertou para a paixão que o acompanha até hoje. Lendo muito, passou a ter ideias. As tradicionais e chatas redações da escola passaram a ter para ele outro significado. Os textos acabavam saindo bem e o professor os lia como exemplo para os colegas. No começo, um deus nos acuda, terror. Sentia-se pelado em público. Depois, ego massageado, percebeu-se pela primeira vez valorizado pelo grupo. A timidez, a introspecção, as angústias cederam um pouco de espaço à estranha alegria de escrever. Foi quando decidiu: “é assim? então vou nessa.” Escreve até hoje. Avalie-o pelo blog.
Cursando o científico, não se deu bem com as tais “exatas”, em especial com a matemática. Outro fato salvador: criara uma coluna no jornal da cidade, em que arriscava publicar os primeiros contos, poemas, algumas resenhas. O professor de matemática, também diretor do colégio, dava suas notas na disciplina, a partir dos textos publicados na gazeta. Não fosse isso, estaria patinando ainda em equações e determinantes que nunca entraram em sua cabeça ocupada com livros, escritores e suas vidas.
O Ano de 74 – um passo arriscado em busca de aventura mais saborosa: larga o interior e vem para Curitiba. Cursa Letras na UFPR. Tem a ousadia de destacar-se naqueles tempos de chumbo grosso e é convidado para ser monitor de literatura brasileira, auxiliando professores na pesquisa e nas aulas. No final daquele ano, entra para a Casa do Estudante Universitário (CEU), um paraíso de vida em grupo que lhe permite terminar a faculdade de forma mais amena.
Trabalha à noite no Serpro como digitador. As aulas são pela manhã. À tarde, estágio na Fundação Cultural de Curitiba.
Na CEU, tem a satisfação de encontrar uns iguais: outros idealistas apaixonados pelas letras, pelas artes e por esses caminhos sem margem. Formam um grupo compacto. Montam semanas de cultura, agitam o torpor de anos em que só o silêncio era permitido.
Formado em 78, passa a lecionar língua portuguesa no Colégio Sion, sob o comando de soeur Cristina. Dois anos de aprendizado e é convidado a retirar-se. As tais incompatibilidade ideológicas, tá sabendo?
Minha mesa de trabalho
Passa a trabalhar no Colégio Medianeira, dos padres jesuítas (já percebeu o que dá de padre, irmã, irmão, santo… – até parece!). E aí mergulha num oceano livre de fronteiras e portos seguros. São dez anos de experiências radicais. Abole o ensino da gramática formal, muda a natureza da avaliação, centra pés e mãos na leitura de textos. Queria isto: que seus alunos se tornassem leitores. E muitos alunos aderem, companheiros de encruzilhadas, transformando-se em leitores. Até hoje os testemunhos não param de chegar. A experiência foi tão densa que a Secretaria Estadual de Educação chamou-o para, baseado no que fazia no colégio, apresentar uma proposta de ensino de língua para todo do Estado.
A década de 80 também é marcada por suas atividades no teatro. Além de lecionar Literatura Dramática, História do Drama, Estética do Drama, no Curso Permanente de Teatro, do Teatro Guaíra, mantém o grupo “Todo dia tem neblina no horizonte.”Com estes atores, dirige as peças “Mulheres de Atenas”, de Chico Buarque, “Yerma”, de Lorca e “O verdugo”, de Hilda Hilst.
1982 é o ano do casamento com Libera Regina Costacurta Cecon, dueto que ainda perdura, karma que ela carrega com paciência e silêncios pontuados por alfinetadas.
A partir de 1990, outro capítulo: concursado, entra como professor na UFPR. Área: literatura brasileira e afins. Começa seu mestrado, defendido em 94: A carne embriagada – uma leitura em torno de João Silvério Trevisan, que não gostou nada da reflexão e resolveu espinafrá-lo. Banca: Luiz Mott, Carlos Alberto Faraco e Rosse Marie Bernardi, sua orientadora.