Eu nasci em Natal, RN, em 1963, filho de Luiz Gonzaga e Maria dos Remédios que naturais do Piauí, estavam morando na capital potiguar. Quando eu tinha oito meses eles voltaram para Teresina,PI, onde eu cresci e vi meus três irmãos, Douglas, Lester e Disney, nascerem. Sou jornalista desde 1983 e sempre atuei na área cultural, mais especificamente, falando e escrevendo sobre Cinema. Mudei-me para Curitiba em novembro de 1992.
Acredito que minha paixão pela sétima arte teve início quando eu ainda era um bebê, com poucos meses de vida. Meus pais costumavam ir ao cinema com regularidade. Como não tinham com quem me deixar, me levavam junto no colo. Cresci ouvindo minha mãe dizer que ela cansou de me amamentar dentro da sala de exibição e que, algumas vezes, percebia que eu sugava o leite com a boca e mantinha os olhos vidrados na tela.
Poderia dizer também que talvez essa paixão tenha origem no meu próprio nome. Meu pai era fã do ator Karl Malden. Tão fã que quis homenagear seu ídolo e dar o nome dele ao seu filho mais velho. E, como não gostava muito do som do “L”, na hora de me registrar no cartório, ele trocou o “L” por um “R”. O “Malden” virou “Marden”.
Quando eu e meus irmãos crescemos um pouco, por conta dos afazeres profissionais, domésticos e sociais, meus pais nos deixavam sozinhos no cinema. Naquela época, as sessões eram contínuas. Era comum entrarmos para a sessão das 17 horas e assistirmos também a sessão das 19 horas. Por conta disso víamos o mesmo filme duas vezes seguidas.
Na minha cabeça, assistir a uma película repetidamente era a coisa mais natural do mundo. Creio até que isso propiciou o desenvolvimento muito cedo de meu senso crítico em relação aos filmes. A primeira vez que eu o via era aquela do encantamento com o desenrolar da história e das personagens. Logo depois, quando eu o via o filme outra vez, a surpresa inicial já não pesava mais na minha avaliação e aí eu podia prestar atenção em detalhes que não havia prestado da vez anterior. Muitas vezes, o filme fica melhor aí. Outras, nem tanto.
A lembrança consciente mais antiga é do musical O Fabuloso Doutor Doolittle, dirigido em 1967 por Richard Fleischer e estrelado por Rex Harrison. Sei que antes dele eu tinha visto muitos outros filmes e que a maioria deles eram animações, principalmente da Disney e da Hanna-Barbera, mas foi o Doolittle que me marcou e ficou retido em minha memória, talvez por conta do colorido dos cenários e figurinos e pelo inusitado da trama, no caso, um homem que tinha o dom de falar com os animais e tinha um navio em forma de caracol.
Teresina, cidade onde cresci, tinha apenas duas salas de cinema naquela época: os cines Royal e Rex. Este último seguia uma dieta “sexo e caratê”. Já o segundo possuía uma programação bem diversificada e chegava a exibir de três a cinco filmes diferentes por semana. Às 23 horas da sexta com reprise às 10 da manhã do sábado, tínhamos a Sessão de Arte, que exibia shows de rock, filmes de terror e os chamados “alternativos” ou “cults”. Foi nessa sessão que vi meu primeiro Scorsese, no caso, Taxi Driver. A outra sessão especial era a infantil, exibida sempre aos domingos em dois horários: às 10 e às 15 horas. Nela vi todos os clássicos Disney feitos até então.
Para minha felicidade, um grupo de estudantes do Colégio Diocesano montou um cineclube e isso me permitiu acesso a uma gama de filmes e cineastas que eu apenas tinha ouvido falar ou lido sobre eles, mas nunca tido a chance do conferir os trabalhos. Nomes como Glauber Rocha, Ingmar Bergman, François Truffaut, Federico Fellini, Akira Kurosawa, Serguei Eisenstein e muitos outros, além dos importantes movimentos cinematográficos do neorrealismo italiano, a nouvelle vague francesa e o cinema novo brasileiro. Essa experiência foi bastante rica pois me permitiu conhecer pessoas que, como eu, amavam o cinema. Eu descobri que não estava sozinho.
Como todo jovem apaixonado pela sétima arte, durante muito tempo eu sonhei me tornar um cineasta. Quando eu tinha dezoito anos, após concluir o ensino médio, não fiz vestibular. Queria fazer cinema. Foi quando li uma entrevista do George Lucas, criador de Star Wars, onde ele mencionava ter se formado em Cinema em uma Universidade. Achei aquilo o máximo e escrevi uma carta para Mr. Lucas que, para minha surpresa, respondeu. Eu pedi a indicação de uma escola de cinema para estudar nos Estados Unidos. Ele não me indicou uma especificamente, mas, me enviou uma relação de 50. Quando mostrei aquela carta para meu pai, ele ficou mais entusiasmado do que eu e disse que eu deveria ir para Los Angeles. Em pouco meses, eu tinha meu passaporte, visto, passagem aérea e alguns dólares para aquela aventura hollywoodiana.
Fui. Fiquei 40 dias. E voltei. Não era o melhor momento e muito menos eu estava devidamente preparado. Porém, me ensinou bastante e permitiu que eu comprasse meus primeiros livros sobre cinema, bem como uma câmara Super 8. Eu finalmente estudaria cinema e faria meus pequenos filmes. Cheguei até a fazer alguns. Mas aquela viagem terminou me levando para uma outra trilha: decidi cursar Jornalismo, curso mais próximo do meu objetivo maior.
Tudo mudou no dia 3 de outubro de 1983, uma segunda-feira. Eu estava na gráfica do professor Ramos, pai de meu amigo Ramsés. Conversávamos sobre cinema e eu comecei a falar sobre O Império Contra-Ataca, também conhecido como o Episódio V da saga espacial Star Wars ou Guerra nas Estrelas, como a gente chamava na época. O filme, ainda inédito em Teresina, iria finalmente estrear. Por conta do lançamento de O Retorno de Jedi, a distribuidora exigiu que ele fosse exibido antes do Episódio VI. Eu já o tinha visto em minha viagem à Los Angeles e falava efusivamente sobre ele.
No escritório da Gráfica Ramos, além do Ramsés e do irmão mais velho dele, o Garibaldi, estava presente o Kenard, que naquela época editava o caderno de cultura do Jornal da Manhã. Ele me perguntou se eu conseguiria escrever tudo o que tinha acabado de contar sobre o filme. Eu respondi que sim. Ele então me desafiou: “se você me entregar um texto de três laudas até esta quinta, eu publico na edição de domingo”.
Eu nem sabia o que era uma lauda. Mas, escrevi sobre o filme e no dia 9 de outubro de 1983 meu primeiro texto sobre cinema foi publicado. Depois, no final do mês, quando O Retorno de Jedi estreou, escrevi sobre ele também. Nasceu ali minha carreira no jornalismo cultural, que continua até hoje.
Aquele ano de 1983 também marcou minha vida por ter sido nele que comecei a namorar minha futura esposa, Marília Sara, com quem me casaria no início do ano seguinte e seria a mãe de nossos três filhos: Danielle, Lucas e Philip.
Quanto ao sonho de me tornar um cineasta, desisti rapidamente dele após acompanhar um fim de semana das filmagens de brincando nos Campos do Senhor, de Hector Babenco, nos arredores de Belém do Pará, no ano de 1990. Vi que não havia nascido para aquele ofício e que me realizava mesmo na escrita, seja de textos sobre cinema ou de roteiros.
Foi nessa viagem também que eu finalmente assisti ao filme que viria a se tornar o meu favorito. Já tinha ouvido falar dele há bastante tempo, no entanto, não o encontrava para locar em Teresina. Como estava hospedado na casa de amigos, eles me convidaram para ir até uma locadora próxima e lá chegando eu, literalmente, esbarrei no filme. Óbvio que o peguei e o vi rapidamente. A identificação com a personagem de George Bailey foi instantânea e, tempos depois, quando me perguntaram qual seria meu filme favorito, a resposta saiu automática: A Felicidade Não Se Compra.
Trabalhei nos jornais Diário do Povo, O Dia e Jornal da Manhã (Teresina), O Estado do Maranhão (São Luís); Diário do Nordeste (Fortaleza); Correio do Povo, O Estado do Paraná, Folha de Londrina e Gazeta do Povo (Curitiba – PR); nas rádios Mirante FM (São Luís), O Dia FM e Antena 10 FM (Teresina); e nas TVs Antares, Pioneira e Antena 10 (Teresina); escrevi também para as revistas Guarnicê (São Luís); Videomagia (Fortaleza); Wizard Brasil e Starlog Brasil (São Paulo) entre outros. Participei da equipe do jornal oficial do FestRio – edição 1989, colaborei com o site de notícias jurídicas Jota e fiz a curadoria do Cine Omar.
Tenho formação em Comunicação Social – Jornalismo, e sou servidor da Justiça Eleitoral desde 1985, atualmente cedido ao Tribunal de Justiça do Paraná. Sou também palestrante, roteirista, um dos curadores do Cine Passeio e comentarista de cinema do programa Light News, da rádio Transamérica Light FM e das rádios CBN Curitiba e CBN Londrina. Escrevi quatro guias de cinema, lançados pela Editora Arte e Letra e estou trabalhando no quinto.
Quem me conhece bem sabe que eu tenho algumas esquisitices e uma delas é a de cumprir com rigor os desafios assumidos. Em setembro de 2010, decidi criar um blog onde escreveria todos os dias uma resenha sobre um filme. Nasceu o Cinemarden, que depois virou um site (www.cinemarden.com.br) e desde então, sem furar um dia sequer, tenho postado diariamente resenhas na coluna “Filme do Dia”. Basta conferir na página inicial o contador de textos publicados. Já passou longe dos três mil filmes resenhados. Mantenho também um canal de mesmo nome no YouTube: www.youtube.com/cinemarden, e agora faço parte, com muita honra, do grande projeto “Memórias Paraná”.