Nasci em Curitiba, na Avenida João Pessoa, número 75, terceiro andar. Nasci nas mãos de uma parteira conhecidíssima em Curitiba, que era a dona Rosa Pradi. Antigamente nascia-se em casa, na maioria das vezes, porque só existia a maternidade Victor do Amaral que vivia lotada. As pessoas não tinham o hábito mesmo de nascerem em maternidades, então, as parteiras iam a casa e realizavam o parto.
Eu cresci, fui morar na Rua Ermelino de Leão, número 448. Aos seis anos de idade, comecei a sentir os sofrimentos da guerra, da Segunda Guerra Mundial. Porque com dois irmãos mais velhos que eu, meu pai e minha mãe e meus avos tínhamos que levantar de madrugada para ir à Rua Saldanha Marinho, na padaria do Abagge, para a fila do pão, porque cada um tinha direito a um pão de mais ou menos meio quilo. Dali, pegávamos o pão, e íamos a pé até a Rua João Negrão, esquina com a André de Barros, onde era o atacado do Guerra Rego, para a fila do açúcar, mas cada um recebia um quilo de açúcar e isso fazíamos duas, três vezes por semana e assim nós passamos a época da guerra.
Nessa época, fui estudar na Escola de Aplicação que era o grupo anexo a escola normal da Emiliano Perneta. Então, fiz o curso primário todo ali na reta da Escola de aplicação. Terminado o curso primário, tanto eu como meus irmãos mais velhos, também cursaram lá, e fomos realizar o exame de admissão no ginásio. Minha irmã, como era mulher foi já deslocada para o Divina Providência e eu e meu irmão continuamos na escola pública, o ginásio paranaense que depois tornou-se Colégio Estadual do Paraná.
O importante é que hoje, onde era o prédio do Colégio Estadual do Paraná é a Secretaria da Cultura. A minha turma foi a última a se formar ali na Rua Ébano Pereira, em 1949. Bom, nessa época eu mudei de casa, eu tinha parentes na Rua Saldanha Marinho que eram proprietários de uma fábrica de latas a Metalografia Pradi, que depois Gráfica Pradi também.
Eu fui passar umas férias com minha madrinha na casa deles, e eles perguntaram se eu queria ficar morando lá e como eles eram abastados e a minha família lutava com dificuldades, logicamente eu com onze anos, automóvel etc, etc… Eu então falei com meus pais, “Olha eu fui convidado para ficar lá, então eu vou ficar”, meus pais concordaram e eu então passei a morar com a minha madrinha e minha tia avô. Nessa ocasião com onze anos eu quis trabalhar na fábrica, então, eles me disseram, “Bom, se você quer trabalhar, então vamos dar o serviço para você aqui na fábrica. Mas você vai frequentar a aula à tarde e vai para a fábrica de manhã”.
Com onze anos eu já levantava às seis horas da manhã, e às sete horas eu ia para a fábrica de latas, no setor de impressão de folha de flandres. Com 15 anos eu me formei então no ginásio, na última turma, em 1949. Inaugurei então o Colégio Estadual do Paraná, ali na Avenida João Gualberto, fazendo o curso científico, porque eu queria estudar medicina.
Eu realizei o curso científico também lá, mas minha madrinha me chamou e disse, “bom, Jorginho agora você vai parar de trabalhar porque você vai ter vestibular para realizar, agora você vai parar de trabalhar”. Só que me acostumei a trabalhar e a ter o meu dinheiro, então completei dizendo. “Olha, eu quero continuar trabalhando, a única vantagem que eu quero é ter o direito de assistir aulas”. Como era empresa de família, então eu poderia assistir às aulas, mas não aceitaram a minha proposta, disseram “Não, você não vai trabalhar”.
Peguei um anuncio de jornal e vi a vaga auxiliar de escritório. Não me lembro do nome da empresa, mas era na Rua Barão do Rio Branco. Bom, fui para a aula e quando eu voltei, minha madrinha chegou e disse, “Jorginho, você não quer continuar aqui na fábrica?”. E eu respondi, “Não quero não, vocês quê não querem que eu continue, então eu fui procurar emprego”. Porque lamentavelmente, eu dei o endereço, e telefonaram para casa para pedir informações ao meu respeito. “Então se você quer você continua, mas você vai trabalhar no escritório. Tá, tudo bem?”.
Eu tinha 15 anos, e fui trabalhar no escritório. Com 16 anos eu já era o responsável pela tesouraria da empresa. Era responsável pelos pagamentos e lidava com a parte financeira de cada setor. Trabalhava às vezes de madrugada, porque quem fazia a folha de pagamento era eu, então eu assistia às aulas, estudava e de madrugada eu fazia a folha de pagamento. Fechava o caixa muitas vezes de madrugada, mas assim fui levando e fiz o meu curso de medicina, passando no vestibular na segunda tentativa.
Terminando o científico, fiz o primeiro vestibular, mas não logrei êxito. No outro ano, em 1954, que eu fui aprovado. Eu me formei em 1960. Realizei o vestibular em 1953, mas não passei, fui aprovado apenas em 1954. No primeiro ano eu não realizei cursinho e por isso não logrei passar no vestibular. No segundo ano fiz cursinho, porque daí eu não tinha mais aulas, já havia terminado o cientifico, que era o fim do segundo grau.
Passei no vestibular e continuei, tinha direito de estudo e trabalhando na metalografia na fábrica. Nesse momento, as proprietárias da fábrica eram três mulheres, minha madrinha, uma prima, que era irmã dela, e a minha tia avó. Elas se separaram dos maridos e foram assumir as posições deles, no que eles trabalhavam na fábrica, mas elas não sabiam nada, então quem tocava a empresa, ensinando elas e cursando medicina, era eu.
Graças a Deus, foi tudo bem, e fui muito feliz no curso de medicina, com apenas um percalço desagradável para mim. Na disciplina de fisiologia havia um maluco, um gay, era um professor que não aparecia e dava uma ou outra aula. E um dia eu estava em uma aula prática de fisiologia, examinando uma lamina de sangue, abraçado no microscópio, de repente eu senti um arzinho frio, atrás da minha orelha. E vi que era alguém soprando atrás da minha orelha. Eu vi que era esse professor gay, e dei-lhe uma cotovelada e disse “Ai professor desculpe, pensei que fosse um colega”. Mentira, eu sabia que era ele, coincidentemente ele tinha o mesmo nome que eu, então ele disse “Xará, você me paga!” com aquele jeitão dele. E realmente eu paguei caro isso, porque foi estressante. Terminei fisiologia e fui para a segunda época, fui realizar o exame e pensei: “bom, agora eu me livro né”, e fui para ser examinado pelo outro professor, quando eu cheguei na sala dele, o professor maluco gritou do fundo da sala, “Professor, o xará é meu!”.
E pronto, danou-se. Fui reprovado e fui para a segunda época, então fiz a segunda época de fisiologia, terminei tudo, mas acabei indo para a final e fui reprovado. Quando eu estava na segunda época, e se fosse reprovado nela, eu perderia o ano, digo “mas o que eu vou fazer?”. Sabia fisiologia de trás para frente, e novamente cai com o professor xará. Quando terminei a prova, ele disse assim “Agora eu deixo você passar!”, graças a Deus ele não me prejudicou mais. Mas eu passei na segunda época da dependência, quer dizer, arriscando o ano, mas não havia o que fazer. Então, essa foi a parte interessante do curso de medicina ao meu respeito e a minha parte acadêmica na vida.
Profissionalmente, eu graças a Deus, fui bem sucedido e iniciei a carreira de médico na ginecologia, porque tinha um tio que era ginecologista obstetra. Eu o ajudava e por isso segui a mesma carreira que a sua. Nessa época, teve um caso interessante, a Incepa – Indústria de Cerâmica do Paraná, cujo diretor Urban Binz era amigo desse tio, Victor Gutierrez, disse para ele que, na verdade, eu estava no sexto ano da faculdade, mas quando ele falou isso, a Incepa estava com um objetivo. A empresa já estava há dez anos no Brasil e queria fazer alguma coisa relacionada com medicina para os empregados.
Então, queriam colocar um médico na fábrica para atender os funcionários e familiares. O meu tio me convenceu dizendo, “Olha, o Jorge vai se formar nesse ano, vocês querem já, ou vão espera-lo, esperar a formatura?”, “Não, não, nós esperamos então”. Eu me dava bem com ele também, com esse diretor, então, quando eu me formei, eu fui admitido na Incepa. E o interessante foi o seguinte, este diretor, suíço, que nós chamávamos de Urbano, me convidou então para fazer a minha proposta de trabalho.
Eu liguei para o meu tio e disse “tio Vitor, quanto é que eu digo que vou ganhar?”, daí ele disse “Jorge, não peça muito, porque muita gente está querendo essa boca aí em”. A empresa estrangeira e tal. Tudo bem, então eu fui à casa do diretor, ele chegou e disse “bom Jorge, quais são as suas pretensões?”, eu disse para ele “Vamos dizer 15 mil”. Daí diz ele assim “Não Jorge, eu acho pouco. Nós estávamos pretendendo te pagar 25 mil”. Lógico que é muito melhor né, 25 mil do que 15. Então tudo bem, acertei e comecei a trabalhar ganhando 25 mil.
Esta fase de Incepa, eu trabalhei 32 anos. Também era professor de anatomia da PUC, atendia o São Lucas, atendia a Incepa e o INAMPS, tinha os horários bem definidos. Bom, o que que acontecia, o colega que tinha hospital em Campo Largo, ele era dono do hospital, mas não fazia cirurgia, não operava. Então eu passei a operar também lá em Campo Largo. Eu ia à noite, levava o anestesista junto e operava em Campo Largo, quando tinha os casos cirúrgicos. Como a minha formação era cirurgia geral também, eu fazia tudo lá no São Lucas, então eu fazia cirurgia geral em Campo Largo.
Como curiosidade, uma das vezes eu estava indo para Campo Largo, e cruzei ali na altura do Parque Barigui, com o doutor gay. Então ele fez sinal para eu parar, eu parei, e estava ele a senhora dele apavorados, porque o filho deles estava com vômito e febre. O médico em Campo Largo disse que ele estava com meningite, eu ligeiramente dei uma examinada nele, no carro mesmo, e disse assim “Olha doutor gay, ele não tem meningite não. O senhor o leva para o São Lucas”, eu fiz uma requisição de exames ali na hora, “o senhor leva, já colhem o material e fazem exames”. Então eu fui à Campo Largo, fui para o INAMPS, e fui ver lá no São Lucas. O diagnóstico do filho dele era apendicite aguda. Então fiz a cirurgia no mesmo dia e ele ficou muito agradecido.
Durante o tempo que trabalhei na Incepa, um fato interessante ocorreu. Quando o Pelé abriu a Sanitária Pelé, uma firma de material de construção, ele foi comprar da Incepa. Queria ter os azulejos da Incepa, porque naquela ocasião, eram os melhores do Brasil.
Então o Urbano disse assim “Jorge eu vou passar um fim de semana em Santos. Leva a Isabelita e vamos ficar o final de semana lá”. “Tudo bem, vamos. Assim comparecemos na inauguração da loja do Pelé”. Ficamos lá sábado e domingo, e voltamos na segunda de manhã.
Quando fomos pagar, o Pelé já tinha acertado tudo. O filho dele já tinha pagado nossa conta do hotel. Eu fui passear, o Urbano foi na inauguração, mas o Pelé pagou a minha também. Então ficamos um fim de semana em Santos por conta do Pelé.
Eu casei em 1957, com a Isabelita, tive duas filhas, a Adriana, que é fisioterapeuta, e a Cynthia, advogada, mas que se formou também em psicologia. Tenho um casal de netos, filhos da Cynthia, minha filha mais velha. Meus netos são: Renata, que é fisioterapeuta, trabalha com a Adriana. E o Guilherme, que é engenheiro civil, e trabalha em uma empreiteira. Agora sou viúvo, mas fiquei 53 anos casado com a Isabelita.
Em 1972, veio a obrigatoriedade do curso de medicina do trabalho, engenharia de segurança, e enfermagem do trabalho. Então veio essa obrigatoriedade, e o reitor da universidade era muito amigo do professor de biologia da escola de educação física. Então ele encarregou esse professor de organizar o curso de medicina, engenharia de segurança e enfermagem do trabalho. Um detalhe é que eu também era professor de anatomia da escola de educação física. O professor chegou e disse “Jorge, eu tenho que montar isso aqui. Veja, o programa é este, veja se alguma coisa aí te interessa, se pode colaborar”. Olhei o programa e tinha lá uma disciplina de 16 horas, anatomia e fisiologia do trabalho. Eu vi aquilo e achei que, se eu estudasse um pouco, eu teria condições de desenvolver aquela disciplina, então aceitei.
Conclusão: viajei quase o Brasil inteiro, porque a Universidade do Paraná fez convênio com outras universidades. Por exemplo, fiquei uma semana em Manaus, dando aula para os médicos de lá. Fiquei também uma semana em Fortaleza. Uma semana em Itaipu, dando aula para os médicos e enfermeiros de lá. Então com isso viajamos muito, dando aula aqui também em Curitiba para os médicos, engenheiros e enfermeiros. Então foi um pequeno apêndice na minha vida profissional.
Tenho um bisneto: Henrique
Nasci em Curitiba, na Avenida João Pessoa, número 75, terceiro andar. Nasci nas mãos de uma parteira conhecidíssima em Curitiba, que era a dona Rosa Pradi. Antigamente nascia-se em casa, na maioria das vezes, porque só existia a maternidade Victor do Amaral que vivia lotada. As pessoas não tinham o hábito mesmo de nascerem em maternidades, então, as parteiras iam a casa e realizavam o parto.
Eu cresci, fui morar na Rua Ermelino de Leão, número 448. Aos seis anos de idade, comecei a sentir os sofrimentos da guerra, da Segunda Guerra Mundial. Porque com dois irmãos mais velhos que eu, meu pai e minha mãe e meus avos tínhamos que levantar de madrugada para ir à Rua Saldanha Marinho, na padaria do Abagge, para a fila do pão, porque cada um tinha direito a um pão de mais ou menos meio quilo. Dali, pegávamos o pão, e íamos a pé até a Rua João Negrão, esquina com a André de Barros, onde era o atacado do Guerra Rego, para a fila do açúcar, mas cada um recebia um quilo de açúcar e isso fazíamos duas, três vezes por semana e assim nós passamos a época da guerra.
Nessa época, fui estudar na Escola de Aplicação que era o grupo anexo a escola normal da Emiliano Perneta. Então, fiz o curso primário todo ali na reta da Escola de aplicação. Terminado o curso primário, tanto eu como meus irmãos mais velhos, também cursaram lá, e fomos realizar o exame de admissão no ginásio. Minha irmã, como era mulher foi já deslocada para o Divina Providência e eu e meu irmão continuamos na escola pública, o ginásio paranaense que depois tornou-se Colégio Estadual do Paraná.
O importante é que hoje, onde era o prédio do Colégio Estadual do Paraná é a Secretaria da Cultura. A minha turma foi a última a se formar ali na Rua Ébano Pereira, em 1949. Bom, nessa época eu mudei de casa, eu tinha parentes na Rua Saldanha Marinho que eram proprietários de uma fábrica de latas a Metalografia Pradi, que depois Gráfica Pradi também.
Eu fui passar umas férias com minha madrinha na casa deles, e eles perguntaram se eu queria ficar morando lá e como eles eram abastados e a minha família lutava com dificuldades, logicamente eu com onze anos, automóvel etc, etc… Eu então falei com meus pais, “Olha eu fui convidado para ficar lá, então eu vou ficar”, meus pais concordaram e eu então passei a morar com a minha madrinha e minha tia avô. Nessa ocasião com onze anos eu quis trabalhar na fábrica, então, eles me disseram, “Bom, se você quer trabalhar, então vamos dar o serviço para você aqui na fábrica. Mas você vai frequentar a aula à tarde e vai para a fábrica de manhã”.
Com onze anos eu já levantava às seis horas da manhã, e às sete horas eu ia para a fábrica de latas, no setor de impressão de folha de flandres. Com 15 anos eu me formei então no ginásio, na última turma, em 1949. Inaugurei então o Colégio Estadual do Paraná, ali na Avenida João Gualberto, fazendo o curso científico, porque eu queria estudar medicina.
Eu realizei o curso científico também lá, mas minha madrinha me chamou e disse, “bom, Jorginho agora você vai parar de trabalhar porque você vai ter vestibular para realizar, agora você vai parar de trabalhar”. Só que me acostumei a trabalhar e a ter o meu dinheiro, então completei dizendo. “Olha, eu quero continuar trabalhando, a única vantagem que eu quero é ter o direito de assistir aulas”. Como era empresa de família, então eu poderia assistir às aulas, mas não aceitaram a minha proposta, disseram “Não, você não vai trabalhar”.
Peguei um anuncio de jornal e vi a vaga auxiliar de escritório. Não me lembro do nome da empresa, mas era na Rua Barão do Rio Branco. Bom, fui para a aula e quando eu voltei, minha madrinha chegou e disse, “Jorginho, você não quer continuar aqui na fábrica?”. E eu respondi, “Não quero não, vocês quê não querem que eu continue, então eu fui procurar emprego”. Porque lamentavelmente, eu dei o endereço, e telefonaram para casa para pedir informações ao meu respeito. “Então se você quer você continua, mas você vai trabalhar no escritório. Tá, tudo bem?”.
Eu tinha 15 anos, e fui trabalhar no escritório. Com 16 anos eu já era o responsável pela tesouraria da empresa. Era responsável pelos pagamentos e lidava com a parte financeira de cada setor. Trabalhava às vezes de madrugada, porque quem fazia a folha de pagamento era eu, então eu assistia às aulas, estudava e de madrugada eu fazia a folha de pagamento. Fechava o caixa muitas vezes de madrugada, mas assim fui levando e fiz o meu curso de medicina, passando no vestibular na segunda tentativa.
Terminando o científico, fiz o primeiro vestibular, mas não logrei êxito. No outro ano, em 1954, que eu fui aprovado. Eu me formei em 1960. Realizei o vestibular em 1953, mas não passei, fui aprovado apenas em 1954. No primeiro ano eu não realizei cursinho e por isso não logrei passar no vestibular. No segundo ano fiz cursinho, porque daí eu não tinha mais aulas, já havia terminado o cientifico, que era o fim do segundo grau.
Passei no vestibular e continuei, tinha direito de estudo e trabalhando na metalografia na fábrica. Nesse momento, as proprietárias da fábrica eram três mulheres, minha madrinha, uma prima, que era irmã dela, e a minha tia avó. Elas se separaram dos maridos e foram assumir as posições deles, no que eles trabalhavam na fábrica, mas elas não sabiam nada, então quem tocava a empresa, ensinando elas e cursando medicina, era eu.
Graças a Deus, foi tudo bem, e fui muito feliz no curso de medicina, com apenas um percalço desagradável para mim. Na disciplina de fisiologia havia um maluco, um gay, era um professor que não aparecia e dava uma ou outra aula. E um dia eu estava em uma aula prática de fisiologia, examinando uma lamina de sangue, abraçado no microscópio, de repente eu senti um arzinho frio, atrás da minha orelha. E vi que era alguém soprando atrás da minha orelha. Eu vi que era esse professor gay, e dei-lhe uma cotovelada e disse “Ai professor desculpe, pensei que fosse um colega”. Mentira, eu sabia que era ele, coincidentemente ele tinha o mesmo nome que eu, então ele disse “Xará, você me paga!” com aquele jeitão dele. E realmente eu paguei caro isso, porque foi estressante. Terminei fisiologia e fui para a segunda época, fui realizar o exame e pensei: “bom, agora eu me livro né”, e fui para ser examinado pelo outro professor, quando eu cheguei na sala dele, o professor maluco gritou do fundo da sala, “Professor, o xará é meu!”.
E pronto, danou-se. Fui reprovado e fui para a segunda época, então fiz a segunda época de fisiologia, terminei tudo, mas acabei indo para a final e fui reprovado. Quando eu estava na segunda época, e se fosse reprovado nela, eu perderia o ano, digo “mas o que eu vou fazer?”. Sabia fisiologia de trás para frente, e novamente cai com o professor xará. Quando terminei a prova, ele disse assim “Agora eu deixo você passar!”, graças a Deus ele não me prejudicou mais. Mas eu passei na segunda época da dependência, quer dizer, arriscando o ano, mas não havia o que fazer. Então, essa foi a parte interessante do curso de medicina ao meu respeito e a minha parte acadêmica na vida.
Profissionalmente, eu graças a Deus, fui bem sucedido e iniciei a carreira de médico na ginecologia, porque tinha um tio que era ginecologista obstetra. Eu o ajudava e por isso segui a mesma carreira que a sua. Nessa época, teve um caso interessante, a Incepa – Indústria de Cerâmica do Paraná, cujo diretor Urban Binz era amigo desse tio, Victor Gutierrez, disse para ele que, na verdade, eu estava no sexto ano da faculdade, mas quando ele falou isso, a Incepa estava com um objetivo. A empresa já estava há dez anos no Brasil e queria fazer alguma coisa relacionada com medicina para os empregados.
Então, queriam colocar um médico na fábrica para atender os funcionários e familiares. O meu tio me convenceu dizendo, “Olha, o Jorge vai se formar nesse ano, vocês querem já, ou vão espera-lo, esperar a formatura?”, “Não, não, nós esperamos então”. Eu me dava bem com ele também, com esse diretor, então, quando eu me formei, eu fui admitido na Incepa. E o interessante foi o seguinte, este diretor, suíço, que nós chamávamos de Urbano, me convidou então para fazer a minha proposta de trabalho.
Eu liguei para o meu tio e disse “tio Vitor, quanto é que eu digo que vou ganhar?”, daí ele disse “Jorge, não peça muito, porque muita gente está querendo essa boca aí em”. A empresa estrangeira e tal. Tudo bem, então eu fui à casa do diretor, ele chegou e disse “bom Jorge, quais são as suas pretensões?”, eu disse para ele “Vamos dizer 15 mil”. Daí diz ele assim “Não Jorge, eu acho pouco. Nós estávamos pretendendo te pagar 25 mil”. Lógico que é muito melhor né, 25 mil do que 15. Então tudo bem, acertei e comecei a trabalhar ganhando 25 mil.
Esta fase de Incepa, eu trabalhei 32 anos. Também era professor de anatomia da PUC, atendia o São Lucas, atendia a Incepa e o INAMPS, tinha os horários bem definidos. Bom, o que que acontecia, o colega que tinha hospital em Campo Largo, ele era dono do hospital, mas não fazia cirurgia, não operava. Então eu passei a operar também lá em Campo Largo. Eu ia à noite, levava o anestesista junto e operava em Campo Largo, quando tinha os casos cirúrgicos. Como a minha formação era cirurgia geral também, eu fazia tudo lá no São Lucas, então eu fazia cirurgia geral em Campo Largo.
Como curiosidade, uma das vezes eu estava indo para Campo Largo, e cruzei ali na altura do Parque Barigui, com o doutor gay. Então ele fez sinal para eu parar, eu parei, e estava ele a senhora dele apavorados, porque o filho deles estava com vômito e febre. O médico em Campo Largo disse que ele estava com meningite, eu ligeiramente dei uma examinada nele, no carro mesmo, e disse assim “Olha doutor gay, ele não tem meningite não. O senhor o leva para o São Lucas”, eu fiz uma requisição de exames ali na hora, “o senhor leva, já colhem o material e fazem exames”. Então eu fui à Campo Largo, fui para o INAMPS, e fui ver lá no São Lucas. O diagnóstico do filho dele era apendicite aguda. Então fiz a cirurgia no mesmo dia e ele ficou muito agradecido.
Durante o tempo que trabalhei na Incepa, um fato interessante ocorreu. Quando o Pelé abriu a Sanitária Pelé, uma firma de material de construção, ele foi comprar da Incepa. Queria ter os azulejos da Incepa, porque naquela ocasião, eram os melhores do Brasil.
Então o Urbano disse assim “Jorge eu vou passar um fim de semana em Santos. Leva a Isabelita e vamos ficar o final de semana lá”. “Tudo bem, vamos. Assim comparecemos na inauguração da loja do Pelé”. Ficamos lá sábado e domingo, e voltamos na segunda de manhã.
Quando fomos pagar, o Pelé já tinha acertado tudo. O filho dele já tinha pagado nossa conta do hotel. Eu fui passear, o Urbano foi na inauguração, mas o Pelé pagou a minha também. Então ficamos um fim de semana em Santos por conta do Pelé.
Eu casei em 1957, com a Isabelita, tive duas filhas, a Adriana, que é fisioterapeuta, e a Cynthia, advogada, mas que se formou também em psicologia. Tenho um casal de netos, filhos da Cynthia, minha filha mais velha. Meus netos são: Renata, que é fisioterapeuta, trabalha com a Adriana. E o Guilherme, que é engenheiro civil, e trabalha em uma empreiteira. Agora sou viúvo, mas fiquei 53 anos casado com a Isabelita.
Em 1972, veio a obrigatoriedade do curso de medicina do trabalho, engenharia de segurança, e enfermagem do trabalho. Então veio essa obrigatoriedade, e o reitor da universidade era muito amigo do professor de biologia da escola de educação física. Então ele encarregou esse professor de organizar o curso de medicina, engenharia de segurança e enfermagem do trabalho. Um detalhe é que eu também era professor de anatomia da escola de educação física. O professor chegou e disse “Jorge, eu tenho que montar isso aqui. Veja, o programa é este, veja se alguma coisa aí te interessa, se pode colaborar”. Olhei o programa e tinha lá uma disciplina de 16 horas, anatomia e fisiologia do trabalho. Eu vi aquilo e achei que, se eu estudasse um pouco, eu teria condições de desenvolver aquela disciplina, então aceitei.
Conclusão: viajei quase o Brasil inteiro, porque a Universidade do Paraná fez convênio com outras universidades. Por exemplo, fiquei uma semana em Manaus, dando aula para os médicos de lá. Fiquei também uma semana em Fortaleza. Uma semana em Itaipu, dando aula para os médicos e enfermeiros de lá. Então com isso viajamos muito, dando aula aqui também em Curitiba para os médicos, engenheiros e enfermeiros. Então foi um pequeno apêndice na minha vida profissional.
Tenho um bisneto: Henrique
Nasci em Curitiba, na Avenida João Pessoa, número 75, terceiro andar. Nasci nas mãos de uma parteira conhecidíssima em Curitiba, que era a dona Rosa Pradi. Antigamente nascia-se em casa, na maioria das vezes, porque só existia a maternidade Victor do Amaral que vivia lotada. As pessoas não tinham o hábito mesmo de nascerem em maternidades, então, as parteiras iam a casa e realizavam o parto.
Eu cresci, fui morar na Rua Ermelino de Leão, número 448. Aos seis anos de idade, comecei a sentir os sofrimentos da guerra, da Segunda Guerra Mundial. Porque com dois irmãos mais velhos que eu, meu pai e minha mãe e meus avos tínhamos que levantar de madrugada para ir à Rua Saldanha Marinho, na padaria do Abagge, para a fila do pão, porque cada um tinha direito a um pão de mais ou menos meio quilo. Dali, pegávamos o pão, e íamos a pé até a Rua João Negrão, esquina com a André de Barros, onde era o atacado do Guerra Rego, para a fila do açúcar, mas cada um recebia um quilo de açúcar e isso fazíamos duas, três vezes por semana e assim nós passamos a época da guerra.
Nessa época, fui estudar na Escola de Aplicação que era o grupo anexo a escola normal da Emiliano Perneta. Então, fiz o curso primário todo ali na reta da Escola de aplicação. Terminado o curso primário, tanto eu como meus irmãos mais velhos, também cursaram lá, e fomos realizar o exame de admissão no ginásio. Minha irmã, como era mulher foi já deslocada para o Divina Providência e eu e meu irmão continuamos na escola pública, o ginásio paranaense que depois tornou-se Colégio Estadual do Paraná.
O importante é que hoje, onde era o prédio do Colégio Estadual do Paraná é a Secretaria da Cultura. A minha turma foi a última a se formar ali na Rua Ébano Pereira, em 1949. Bom, nessa época eu mudei de casa, eu tinha parentes na Rua Saldanha Marinho que eram proprietários de uma fábrica de latas a Metalografia Pradi, que depois Gráfica Pradi também.
Eu fui passar umas férias com minha madrinha na casa deles, e eles perguntaram se eu queria ficar morando lá e como eles eram abastados e a minha família lutava com dificuldades, logicamente eu com onze anos, automóvel etc, etc… Eu então falei com meus pais, “Olha eu fui convidado para ficar lá, então eu vou ficar”, meus pais concordaram e eu então passei a morar com a minha madrinha e minha tia avô. Nessa ocasião com onze anos eu quis trabalhar na fábrica, então, eles me disseram, “Bom, se você quer trabalhar, então vamos dar o serviço para você aqui na fábrica. Mas você vai frequentar a aula à tarde e vai para a fábrica de manhã”.
Com onze anos eu já levantava às seis horas da manhã, e às sete horas eu ia para a fábrica de latas, no setor de impressão de folha de flandres. Com 15 anos eu me formei então no ginásio, na última turma, em 1949. Inaugurei então o Colégio Estadual do Paraná, ali na Avenida João Gualberto, fazendo o curso científico, porque eu queria estudar medicina.
Eu realizei o curso científico também lá, mas minha madrinha me chamou e disse, “bom, Jorginho agora você vai parar de trabalhar porque você vai ter vestibular para realizar, agora você vai parar de trabalhar”. Só que me acostumei a trabalhar e a ter o meu dinheiro, então completei dizendo. “Olha, eu quero continuar trabalhando, a única vantagem que eu quero é ter o direito de assistir aulas”. Como era empresa de família, então eu poderia assistir às aulas, mas não aceitaram a minha proposta, disseram “Não, você não vai trabalhar”.
Peguei um anuncio de jornal e vi a vaga auxiliar de escritório. Não me lembro do nome da empresa, mas era na Rua Barão do Rio Branco. Bom, fui para a aula e quando eu voltei, minha madrinha chegou e disse, “Jorginho, você não quer continuar aqui na fábrica?”. E eu respondi, “Não quero não, vocês quê não querem que eu continue, então eu fui procurar emprego”. Porque lamentavelmente, eu dei o endereço, e telefonaram para casa para pedir informações ao meu respeito. “Então se você quer você continua, mas você vai trabalhar no escritório. Tá, tudo bem?”.
Eu tinha 15 anos, e fui trabalhar no escritório. Com 16 anos eu já era o responsável pela tesouraria da empresa. Era responsável pelos pagamentos e lidava com a parte financeira de cada setor. Trabalhava às vezes de madrugada, porque quem fazia a folha de pagamento era eu, então eu assistia às aulas, estudava e de madrugada eu fazia a folha de pagamento. Fechava o caixa muitas vezes de madrugada, mas assim fui levando e fiz o meu curso de medicina, passando no vestibular na segunda tentativa.
Terminando o científico, fiz o primeiro vestibular, mas não logrei êxito. No outro ano, em 1954, que eu fui aprovado. Eu me formei em 1960. Realizei o vestibular em 1953, mas não passei, fui aprovado apenas em 1954. No primeiro ano eu não realizei cursinho e por isso não logrei passar no vestibular. No segundo ano fiz cursinho, porque daí eu não tinha mais aulas, já havia terminado o cientifico, que era o fim do segundo grau.
Passei no vestibular e continuei, tinha direito de estudo e trabalhando na metalografia na fábrica. Nesse momento, as proprietárias da fábrica eram três mulheres, minha madrinha, uma prima, que era irmã dela, e a minha tia avó. Elas se separaram dos maridos e foram assumir as posições deles, no que eles trabalhavam na fábrica, mas elas não sabiam nada, então quem tocava a empresa, ensinando elas e cursando medicina, era eu.
Graças a Deus, foi tudo bem, e fui muito feliz no curso de medicina, com apenas um percalço desagradável para mim. Na disciplina de fisiologia havia um maluco, um gay, era um professor que não aparecia e dava uma ou outra aula. E um dia eu estava em uma aula prática de fisiologia, examinando uma lamina de sangue, abraçado no microscópio, de repente eu senti um arzinho frio, atrás da minha orelha. E vi que era alguém soprando atrás da minha orelha. Eu vi que era esse professor gay, e dei-lhe uma cotovelada e disse “Ai professor desculpe, pensei que fosse um colega”. Mentira, eu sabia que era ele, coincidentemente ele tinha o mesmo nome que eu, então ele disse “Xará, você me paga!” com aquele jeitão dele. E realmente eu paguei caro isso, porque foi estressante. Terminei fisiologia e fui para a segunda época, fui realizar o exame e pensei: “bom, agora eu me livro né”, e fui para ser examinado pelo outro professor, quando eu cheguei na sala dele, o professor maluco gritou do fundo da sala, “Professor, o xará é meu!”.
E pronto, danou-se. Fui reprovado e fui para a segunda época, então fiz a segunda época de fisiologia, terminei tudo, mas acabei indo para a final e fui reprovado. Quando eu estava na segunda época, e se fosse reprovado nela, eu perderia o ano, digo “mas o que eu vou fazer?”. Sabia fisiologia de trás para frente, e novamente cai com o professor xará. Quando terminei a prova, ele disse assim “Agora eu deixo você passar!”, graças a Deus ele não me prejudicou mais. Mas eu passei na segunda época da dependência, quer dizer, arriscando o ano, mas não havia o que fazer. Então, essa foi a parte interessante do curso de medicina ao meu respeito e a minha parte acadêmica na vida.
Profissionalmente, eu graças a Deus, fui bem sucedido e iniciei a carreira de médico na ginecologia, porque tinha um tio que era ginecologista obstetra. Eu o ajudava e por isso segui a mesma carreira que a sua. Nessa época, teve um caso interessante, a Incepa – Indústria de Cerâmica do Paraná, cujo diretor Urban Binz era amigo desse tio, Victor Gutierrez, disse para ele que, na verdade, eu estava no sexto ano da faculdade, mas quando ele falou isso, a Incepa estava com um objetivo. A empresa já estava há dez anos no Brasil e queria fazer alguma coisa relacionada com medicina para os empregados.
Então, queriam colocar um médico na fábrica para atender os funcionários e familiares. O meu tio me convenceu dizendo, “Olha, o Jorge vai se formar nesse ano, vocês querem já, ou vão espera-lo, esperar a formatura?”, “Não, não, nós esperamos então”. Eu me dava bem com ele também, com esse diretor, então, quando eu me formei, eu fui admitido na Incepa. E o interessante foi o seguinte, este diretor, suíço, que nós chamávamos de Urbano, me convidou então para fazer a minha proposta de trabalho.
Eu liguei para o meu tio e disse “tio Vitor, quanto é que eu digo que vou ganhar?”, daí ele disse “Jorge, não peça muito, porque muita gente está querendo essa boca aí em”. A empresa estrangeira e tal. Tudo bem, então eu fui à casa do diretor, ele chegou e disse “bom Jorge, quais são as suas pretensões?”, eu disse para ele “Vamos dizer 15 mil”. Daí diz ele assim “Não Jorge, eu acho pouco. Nós estávamos pretendendo te pagar 25 mil”. Lógico que é muito melhor né, 25 mil do que 15. Então tudo bem, acertei e comecei a trabalhar ganhando 25 mil.
Esta fase de Incepa, eu trabalhei 32 anos. Também era professor de anatomia da PUC, atendia o São Lucas, atendia a Incepa e o INAMPS, tinha os horários bem definidos. Bom, o que que acontecia, o colega que tinha hospital em Campo Largo, ele era dono do hospital, mas não fazia cirurgia, não operava. Então eu passei a operar também lá em Campo Largo. Eu ia à noite, levava o anestesista junto e operava em Campo Largo, quando tinha os casos cirúrgicos. Como a minha formação era cirurgia geral também, eu fazia tudo lá no São Lucas, então eu fazia cirurgia geral em Campo Largo.
Como curiosidade, uma das vezes eu estava indo para Campo Largo, e cruzei ali na altura do Parque Barigui, com o doutor gay. Então ele fez sinal para eu parar, eu parei, e estava ele a senhora dele apavorados, porque o filho deles estava com vômito e febre. O médico em Campo Largo disse que ele estava com meningite, eu ligeiramente dei uma examinada nele, no carro mesmo, e disse assim “Olha doutor gay, ele não tem meningite não. O senhor o leva para o São Lucas”, eu fiz uma requisição de exames ali na hora, “o senhor leva, já colhem o material e fazem exames”. Então eu fui à Campo Largo, fui para o INAMPS, e fui ver lá no São Lucas. O diagnóstico do filho dele era apendicite aguda. Então fiz a cirurgia no mesmo dia e ele ficou muito agradecido.
Durante o tempo que trabalhei na Incepa, um fato interessante ocorreu. Quando o Pelé abriu a Sanitária Pelé, uma firma de material de construção, ele foi comprar da Incepa. Queria ter os azulejos da Incepa, porque naquela ocasião, eram os melhores do Brasil.
Então o Urbano disse assim “Jorge eu vou passar um fim de semana em Santos. Leva a Isabelita e vamos ficar o final de semana lá”. “Tudo bem, vamos. Assim comparecemos na inauguração da loja do Pelé”. Ficamos lá sábado e domingo, e voltamos na segunda de manhã.
Quando fomos pagar, o Pelé já tinha acertado tudo. O filho dele já tinha pagado nossa conta do hotel. Eu fui passear, o Urbano foi na inauguração, mas o Pelé pagou a minha também. Então ficamos um fim de semana em Santos por conta do Pelé.
Eu casei em 1957, com a Isabelita, tive duas filhas, a Adriana, que é fisioterapeuta, e a Cynthia, advogada, mas que se formou também em psicologia. Tenho um casal de netos, filhos da Cynthia, minha filha mais velha. Meus netos são: Renata, que é fisioterapeuta, trabalha com a Adriana. E o Guilherme, que é engenheiro civil, e trabalha em uma empreiteira. Agora sou viúvo, mas fiquei 53 anos casado com a Isabelita.
Em 1972, veio a obrigatoriedade do curso de medicina do trabalho, engenharia de segurança, e enfermagem do trabalho. Então veio essa obrigatoriedade, e o reitor da universidade era muito amigo do professor de biologia da escola de educação física. Então ele encarregou esse professor de organizar o curso de medicina, engenharia de segurança e enfermagem do trabalho. Um detalhe é que eu também era professor de anatomia da escola de educação física. O professor chegou e disse “Jorge, eu tenho que montar isso aqui. Veja, o programa é este, veja se alguma coisa aí te interessa, se pode colaborar”. Olhei o programa e tinha lá uma disciplina de 16 horas, anatomia e fisiologia do trabalho. Eu vi aquilo e achei que, se eu estudasse um pouco, eu teria condições de desenvolver aquela disciplina, então aceitei.
Conclusão: viajei quase o Brasil inteiro, porque a Universidade do Paraná fez convênio com outras universidades. Por exemplo, fiquei uma semana em Manaus, dando aula para os médicos de lá. Fiquei também uma semana em Fortaleza. Uma semana em Itaipu, dando aula para os médicos e enfermeiros de lá. Então com isso viajamos muito, dando aula aqui também em Curitiba para os médicos, engenheiros e enfermeiros. Então foi um pequeno apêndice na minha vida profissional.
Tenho um bisneto: Henrique